Qualquer tragédia tem o poder de unir pessoas. Quanto maior a dor, maior a união. Está a ser assim com o incêndio dantesco de Pedrógão Grande. Foi assim com o incêndio que consumiu uma torre em Londres. Foi assim com os (cada vez mais frequentes) atentados. Tal como foi assim com o atentado de 11 de Setembro de 2001. Não sei explicar o fenómeno que faz com que algumas pessoas sejam bondosas apenas nestes momentos. Mas, como dizem muitas pessoas, mais vale uma vez do que nunca.
Nestes momentos as pessoas tendem a emocionar-se. E quanto maior for a proximidade, mesmo que ilusória, maior o impacto junto de cada um. Foi assim com o caso do menino sírio que foi fotografado morto numa praia e que se tornou no símbolo da luta de todos os migrantes. Aquele menino podia ser o filho, sobrinho ou neto de muitas pessoas. E essa ideia de proximidade causou um impacto maior.
Não escondo que me emociono com algumas histórias que vou conhecendo nas diferentes tragédias. Já para não falar da tragédia de um ponto de vista geral. Fiquei sem reacção quando ouvi o morador da Grenfell Tower, em Londres, relatar que viu um pai a atirar os filhos pela janela do prédio que era consumido pelas chamas. Ainda hoje fico sem reacção quando vejo o The Falling Man, fotografado em queda livre numa das Torres Gémeas, em 2001. Tal como fico sem saber o que dizer quando vou ouvindo histórias de Pedrógão Grande.
Mas tive uma reacção diferente quando me deparei com a história da família de Sacavém que estava desaparecida. Os familiares e amigos andavam à procura do casal e dos dois filhos que tinham ido de férias para Castanheira de Pêra. Acabei por ir parar à página de Facebook da mulher, na altura desaparecida e com as pessoas à espera de um milagre. Foi aí que vi a última publicação que fez nas redes sociais. Uma foto dos filhos numa piscina.
Quando vi aquela foto engoli em seco. Lembrei-me imediatamente que os meus pais e a minha sobrinha tinham estado naquela mesma piscina num passado recente. Esta associação levou-me imediatamente a pensar na sorte que tive. E a pensar na eventualidade de o incêndio ter acontecido naquela altura. Coisas em que não queremos pensar, mas em que acabamos a pensar. São momentos destes que fazem com que me sinta muito pequenino. Com receio. Com medo de coisas que não controlo. Que ninguém controla.
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