6.2.17

o presente ideal para uma criança: uma arma

Tentando recuar até aos meus dez anos, imagino-me a receber presentes que deveriam andar por coisas ligadas ao futebol e ao universo Playmobil. E muitas outras coisas facilmente associadas a crianças daquela idade. Mas isto sou eu. Que nasci em Portugal. E onde o universo das armas não é algo que seja real para meninas e meninos de tenra idade.

O mesmo não se pode dizer de Presley. Que nasceu inserida numa realidade completamente diferente da minha. E que pelo décimo aniversário recebe de presente, oferecido pelos pais, uma espingarda da marca Beretta. Acho que aquela menina tem mais encanto por aquela arma, que até lhe rouba a respiração, do que eu por qualquer brinquedo que tenha recebido. O momento da oferta foi gravado e partilhado pela marca que define este momento como “tocante”.



Como seria de esperar, este vídeo tem dividido a opinião das pessoas. De um lado estão as pessoas que ficam chocadas com o facto de uma criança tão nova receber de presente uma espingarda. Do outro estão aqueles que elogiam o papel dos pais e que olham para este gesto como um passo bem dado na direcção da responsabilidade por parte da filha.

O pior é que Presley não é um caso isolado. A diferença é que esta menina foi gravada a orgulhosamente desembrulhar a sua primeira espingarda. Nos Estados Unidos da América Presley é apenas mais uma criança com uma arma. Uma no meio de tantas outras que provavelmente preferem uma carreira de tiros a uma Barbie. Que preferem espingardas a casinhas de bonecas. E que preferem destruir em vez de construir algo.

É por causa de notícias como esta que nunca fiquei chocado com a notícia de um tiroteio nos Estados Unidos da América. Andar com arma é tão natural como andar com um telemóvel. Deixar que crianças se aproximem de armas é tão natural como deixar que brinquem com algo. Depois acontecem mortes acidentais, crianças que disparam contra os pais e adolescentes que matam uns quantos alunos numa qualquer escola.

Podemos (e devemos) andar a discutir muros. Podemos (e devemos) andar a discutir impedimentos estúpidos. Mas também podemos (e devemos) recordar que este é provavelmente um dos piores problemas dos Estados Unidos da América. E um negócio de milhões, que dá dinheiro a ganhar a muitas pessoas. Até porque é muito triste o momento em que o presente ideal para uma criança é uma arma que rouba uma vida em segundos.

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