sinto vergonha

Não tendo sido o sonho de uma vida sinto muito orgulho em ser jornalista. Apesar das crescentes dificuldades que a área atravessa em Portugal - e no mundo - considero ser uma nobre profissão e bastante importante para as pessoas, que só vão perceber o real valor do jornalismo quando ele deixar de existir.

Mas existem momentos em que sinto vergonha de ser jornalista. E sinto isso quando pessoas, que tal como eu têm carteira profissional, em nada dignificam a profissão. Pessoas que deveriam ser proibidas de exercer a profissão e que nunca deveriam ter uma carteira profissional.

E refiro-me a "jornalistas" que trabalham na base da mentira. Pessoas que não fazem uma coisa tão simples como identificar-se como jornalistas e pedir autorização para gravar uma conversa e reproduzir as declarações que vão ouvir. São pessoas que só pensam no próximo título e na próxima manchete.

São pessoas que têm uma tal sede de capas que não olham a meios para lá chegar. São aquelas pessoas que até vendem a mãe para ter uma manchete, mesmo que tenha sido conseguida sem escrúpulos. E são pessoas destas que me fazem sentir vergonha de uma profissão tão nobre.

O jornalismo implica publicar notícias que muitas pessoas desejam que nunca sejam publicadas. Mas mesmo neste caso existem regras. Regras básicas que devem ser cumpridas. Tal como é necessária decência para assumir erros e humildade para pedir desculpa quando se erra e quando se lixa - no sentido de arranjar muitos problemas a terceiros - quem nada fez para merecer tal tratamento.

Tenho vergonha de pessoas assim, sejam elas jornalistas, modistas, floristas ou alpinistas, mas sinto uma especial vergonha quando este conhecimento é muito próximo. Pessoas destas nunca deveriam ser jornalistas.