Durante a semana costumo beber café, depois de almoço, quase sempre no mesmo sítio. Em cinco dias de trabalho, vou quatro vezes ao mesmo local. E no meu percurso passo por uma bancada que vende doces e outras coisas. Onde por norma está sempre a mesma mulher a trabalhar. E não é preciso uma grande memória para saber que é a mesma mulher. Passo por lá tantas vezes que é impossível não reconhecer a pessoa.
Mas se a reconheço, acredito que não se lembre de mim. E digo isto porque todos os dias pergunta se quero provar algo. "Olá senhor. Quer provar?", pergunta, esticando o saco que tem na mão e que contém uma das especialidades que vende. Ao que respondo "Não, obrigado". Quando digo que não se deve lembrar de mim é porque me pergunta isto praticamente todos os dias. E a minha resposta é sempre a mesma. "Não, obrigado". Já perdi conta ao número de vezes que fui abordado, ainda que de forma simpática, pela mulher em questão. Tanto que já vou a andar e a pensar "Olá senhor. Quer provar?"
A minha outra teoria vai além da memória da mulher. Poderá estar a travar uma espécie de luta comigo. A tentar descobrir até que ponto resisto à tentação de provar o tal doce (?) que tanto me tenta oferecer. Até dou por mim a pensar na hipótese de estar a desperdiçar uma iguaria fantástica que me deixará a lamentar os dias em que a recusei. Porém, isto deverá manter-se eternamente uma dúvida para mim pois não perder este suposto duelo.
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