Num destes dias estive a ver a reportagem que a SIC fez sobre a violência nos jogos de futebol das camadas jovens. Com cada vez mais jogos em que pais agridem árbitros, insultam miúdos e lutam contra outros pais. Como comecei a jogar futebol (federado) com 12 anos e joguei durante mais de 20 anos, a minha primeira reacção foi: “os pais querem que os filhos sejam o próximo Cristiano Ronaldo”. E foi uma das coisas que acabei por ouvir na peça. E que faz cada vez mais sentido.
Quando era miúdo, Portugal não tinha nenhum jogador mediático à escala de Cristiano Ronaldo. Não existiam redes sociais. E não se falava tanto em dinheiro. Agora tudo é diferente. Os pais cada vez mais acreditam que o futebol é um desporto de milhões, que estão ali à mão de semear para qualquer puto que dá dois toques numa bola. E não basta que o miúdo jogue. Vai ter de ser, à força, um jogador profissional. Vai ter de sustentar a família. Mesmo que não tenha talento.
E os pais ficam tão cegos com esta obsessão que não percebem que acabam por ser o maior obstáculo à evolução do filho. Os meus pais iam ver os meus todos. Mas nunca, em momento algum, o meu pai passou o jogo a dar-me instruções. Não ficava descansado enquanto não os visse antes do jogo começar, mas estavam ali para me apoiar em “silêncio”. Mas mesmo no meu tempo já existiam alguns fenómenos estranhos.
Pais que não perdiam um treino. Que se juntavam a falar de tudo e mais alguma coisa sobre a equipa. Que queriam ser os treinadores e que defendiam que os seus filhos eram os melhores do mundo e arredores. Existia um caso de um rapaz que o pai passava o jogo todo atrás dele (na linha lateral) a dar-lhe instruções e a dizer o que fazer. Perdi conta ao número de vezes que o rapaz dizia que o pai só o atrapalhava. Até que explodiu num jogo e gritou para o pai se calar.
Este é apenas um exemplo que prova que os pais só atrapalham. Os pais podem (e devem) motivar os filhos para que sejam melhores. Mas isto passa pela aplicação nos treinos, pela alimentação (muito importante) e até por aspectos técnicos do jogo. Que podem ser estudados. De resto, podem (e devem) estar presentes nos jogos. Mas se forma silenciosa. Não é a chamar nomes aos miúdos, a ofender outros pais e por aí fora.
Se pensam que isto faz com que os miúdos sejam melhores, podem ter a certeza de que só fará com que sejam piores. Vão ficar tensos e com receio de muitas coisas. Sem esquecer que vão lidar com muitos outros jovens que transformam os pais em piadas de balneário pelo ridículo que são. E nem todos sabem lidar bem com isto. O que faz com que em pouco tempo possam estar a perder o encanto pelo futebol.
Não é por quererem que o miúdo seja o próximo Cristiano Ronaldo que isso irá acontecer. Até porque se fosse fácil, não existia um Cristiano Ronaldo, existiam milhões. E se pensam que o futebol dá milhões a todos, informem-se sobre jogadores de bons clubes que têm largos meses de ordenados em atraso. Transfiram metade da energia dos milhões que desejam para incentivo para que se apliquem nos estudos da mesma forma que se aplicam no desporto. Porque a carreira de futebolista profissional de sucesso será sempre algo apenas ao alcance de poucos. Atentem no número de crianças que jogam no Benfica, Porto e Sporting e vejam quantos chegam a profissionais.
Todos os pais, muitas vezes até irracionalmente, querem que os filhos, tanto no futebol, como noutro desporto qualquer, atinjam o estrelado. Claro que muitas vezes as desilusões são cruéis.
ResponderEliminarBeijinho
E colocam uma pressão enorme nas crianças. Muito maior do que julgam e isso pode ter efeitos bastante negativos.
EliminarBeijos