O jogo de ontem fez-me recordar dois momentos que nunca esquecerei na minha vida. Assim que o jogo terminou, lembrei-me da primeira grande penalidade que marquei enquanto jogador de futebol. Tinha 12 anos. Fui escolhido para marcar, algo que já estava à espera pelos treinos. Peguei na bola. Coloquei-a na marca e escolhi o lado direito do guarda-redes. Lembro-me como se fosse hoje. Olhei para o lado onde não ia colocar a bola e arranquei triunfante. Chutei... o guarda-redes atirou-se e defendeu o remate. Senti-me a pior pessoa do mundo. Não me lembro do resultado final do jogo nem me lembro da equipa que estava a defrontar. Só me recordo de chegar triste ao pé dos meus pais e do meu pai me dizer: "Estás assim porquê?" "Porque falhei a grande penalidade", respondi. Para me animar, o meu pai olha para mim e diz: "Tu não falhaste. O guarda-redes é que defendeu."
Os anos foram passando. Mudei de equipa mas mantive-me o escolhido para marcar os tais remates que muitos preferem não marcar. Num ano em que lutava pelo título disputei um jogo onde só os três pontos interessavam. O jogo chega aos 90 minutos e o resultado mantém-se num nulo. Quando já ninguém acredita numa vitória o árbitro assinala uma grande penalidade e nosso favor. Mais uma vez, fui o eleito. Senti o peso de uma época na minha perna direita. Parecia que os meus colegas, treinadores, dirigentes e público comandavam o meu pé direito. Desta vez, a história foi diferente. A bola entrou, conquistamos os três pontos e fomos campeões nesse ano.
Por isto é que defendo que as grandes penalidades são segundos em que tudo muda. Ao longo dos meus anos de jogador de futebol aprendi a perceber se um jogador está confiante ou não. E isso descobre-se de muitas formas. A começar pela maneira como anda, como agarra a bola. Se a deixa logo na marca ou se mexe na bola como se não soubesse o que lhe fazer. E ontem, senti isso no João Moutinho. Acho que ele percebeu a importância do seu remate e cedeu à pressão. Se aquela bola tem entrado, acredito que Portugal tinha eliminado a Espanha. Contudo, não culpo o Moutinho, nem o Bruno Alves do afastamento da final do Europeu.
Além da grande penalidade do Moutinho. Há mais dois momentos que entendo terem marcado o jogo. No final, quando Portugal tem um contra ataque, Pepe leva a bola e no momento da decisão fez um passe muito mau para o Ronaldo, que o obrigou a perder velocidade. Aí podia ter sido golo e nem havia prolongamento. O outro momento foi no final do prolongamento. Assim que filmaram o treinador espanhol, este já tinha a lista dos eleitos para os remates da morte. Paulo Bento demorou a escolher, algo que não compreendo. Por fim, quanto a mim, o melhor marcador nunca fica para a quinta grande penalidade. Ronaldo deveria ter marcado o terceiro ou quarto remate. Porque, muitas vezes, o quinto já não serve para nada, como se viu ontem.
Acho que Portugal fez um Europeu brilhante e ultrapassou aquilo que se esperava da equipa. Só lamento o excessivo dinheiro gasto em alojamento e outras coisas. Mas disso, os jogadores não têm culpa. Parabéns à equipa de todos nós.
Fiquei com um trauma às grandes penalidades em 1988, quando o Veloso (pai) falhou frente ao PSV.
ResponderEliminarNo dia seguinte cheguei à escola ainda com um nó na garganta, e sempre que alguém falava no assunto, as lágrimas teimavam em cair descontroladamente.
Na altura era doente por futebol, adorava os domingos quando meu tio me levava aos jogos do regional.
Hoje, apesar de mais desligada (o nosso campeonato já não tem o mesmo encanto), sinto sempre aquele nó, cada vez que a decisão está naqueles segundos onde tudo pode acontecer.
Seja como for, tenho orgulho na Selecção, e naqueles homens que tudo fizeram para honrá-la.
Realmente, esse jogo é um trauma difícil de esquecer.
EliminarTal como tu, fiquei orgulhoso.
Também me lembro dessa grande penalidade como se fosse hoje.
EliminarQuem não se lembra? :)
EliminarUns para gozar, outros para lamentar, mas a verdade é que quem viveu, não esqueceu ...
Eliminar(jingas - não tive pachorra de me "logar")
eu sou dos que lamenta!
EliminarSim concordo com o que dizes as grandes penalidades são segundos em que tudo muda. Aquela pressão exercida sobre alguém causa-me calafrios. São segundos que pesam muito mesmo e para toda a vida! Também acho que, naqueles momentos, a confiança é tudo, mas a carga psicológica destrói-a ,acontece!
ResponderEliminarAcho que a Portugal fez um Bom Europeu e aqueles homens estão de parabéns,isso é importante. Louve-se a parte positiva sem ressentimentos, porque a vida é mesmo assim!!
Sim, tudo muda. Muitas pessoas não imaginam o que se consegue pensar enquanto se corre para a bola.
EliminarO que será que passa na cabeça de um jogador nos segundinhos anteriores à marcação do penalti? sempre quis saber...
ResponderEliminarNa minha opinião, de bola pouco percebo, gostei do jogo, gosto quando os vejo a "comer" a relva, a não baixar os braços e lutar como se fosse o jogo das suas vidas. Gosto porque fico com a sensação que isso é que faz deles bons profissionais, bons jogadores. Gosto que se entendam e a ideia de serem uma família unida em que não há um melhor que o outro faz-me acreditar que isto do futebol vai para lá dos € e fica tudo um bocadinho cor de rosa ( desculpem lá mas sou gaja e gosto que a coisa seja levada com sentimento). Tenho pena era lindo chegarmos à final! Oh se era! Mas eles são grandes, nós somos grandes!
O que passa pela cabeça? Enquanto se percorrem aqueles metros até à grande área dá para pensar em tudo: marco para que lado? para que lado é que o gr se costuma atirar? vou tentar enganá-lo! Será que vou falhar! O resultado é este, não posso mesmo falhar! Estas são apenas algumas das coisas e é nestes segundos, que parecem uma eternidade, que se separam os bons dos melhores. Aqueles que não cedem à pressão.
EliminarDe resto, Portugal esteve realmente muito bem. Lutou e merecia mais.
Excelente texto!
ResponderEliminarConcordo com tudo o que disseste.
Obrigado por partilhares a tua experiência pessoal.
Obrigado :)
EliminarÉ um prazer partilhar tudo. E essa cerveja?
Também não critico o Moutinho nem o Bruno Alves. O primeiro penalty foi muito bem defendido pelo Casillas e o segundo foi à trave... quase golo. Mesmo no Xabi Alonso, foi mérito do Patrício, não demérito do marcador.
ResponderEliminarSeguem-se os Jogos Olímpicos, que acho muito mais interessante ;)
Só acho que o Moutinho estava muito nervoso. Antes dos JO realiza-se o Europeu de Atletismo que já decorre em Helsínquia. Espero medalhas portuguesas mas dou-te razão. os JO são realmente um show do outro mundo!
EliminarEscreves muito bem! :)
ResponderEliminarNão deve ser por acaso que deves ser enviado para vários locais e escrever sobre temas interessantes...
Adorei a parte em que descreveste quando foste jogador de futebol.
The show must go on! :)
Obrigado :)
EliminarRealmente vou a muitos sítios mas nem todos são interessantes. Mas retenho memórias muito boas de grande parte dos meus trabalhos.
É isso mesmo. The show must go on!
Quem vivenciou a parte competitiva de algum desporto, consegue ter uma perspectiva do que se passa num segundo...parabens pela tua mesmo que curta carreira futebolistica...
ResponderEliminarEu acho que o desporto ou seja que tipo de actividade fôr ajuda os jovens a crescer, mantem-nos focados e muito mais equilibrados :) beijinho
Tens toda a razão :) Não foi assim tão curta, foi dos 12 até quase aos 30. São muitos anos de boas memórias, algumas delas vividas com jogadores de topo. beijos
Eliminarnhanhanha nhannhanha... é o que me apetece responder à primeira frase do teu último parágrafo (sim, porque todo o resto foi bem dito, sim senhor :) ).
ResponderEliminarNão acho que tenha sido um Europeu brilhante pelo simples facto que não chegámos ao fim. Foi bom? Sim. Podia ter sido melhor? Pois claro.
"ultrapassou aquilo que se esperava da equipa". A sério? Então mas não se espera de uma equipa que ela chegue à final e ganhe? Por que raio temos sempre de pensar que nós não chegamos lá?
Pergunto-te, hsb. Porque, já sabes, eu não entendo nada de futebol. ;p
Eu acho que foi brilhante por vários motivos. Por exemplo, dos quatro semi finalistas, somos os únicos que nunca ganhamos uma grande competição. Neste europeu, ninguém se referiu a Portugal como favorito. E, na realidade não o somos. Se isto significa não acreditar na vitória. Não! A Grécia também não era favorita e ganhou em 2004. Tendo em conta o nosso grupo - onde Alemanha e Holanda se gabavam de ser as melhores - acho que fizemos um percurso brilhante. Mas claro que não me contento com vitórias morais e com terceiros lugares. Esclarecida? ;p
EliminarEsclarecidíssima, sim. E agradecida pelo esclarecimento, claro :)
EliminarÉ sempre bom ajudar ;p
EliminarObrigada pelo que escreves.
ResponderEliminarObrigado eu, por leres o que escrevo.
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