As pessoas costumam aproveitar as redes sociais para partilharem o lado bom da vida. Independentemente de ser uma partilha profissional ou pessoal, existe uma tendência para que seja dado a conhecer aquilo que nos faz bem e deixa bem. E isto aplica-se também ao lado parental da vida de cada um. É frequente ver os pais a partilharem bons momentos passados ao lado da criançada. Sendo que também existem alguns desabafos daqueles que são vistos como “pais reais” que dão conta de diversos episódios menos felizes ao lado dos filhos. E que podem ser pautados por gritos e asneiras. E é disto que quero falar. Porque compreendo na perfeição estes desabafos mas não me revejo nos mesmos.
Vamos começar pela compreensão. A maior parte das pessoas passa a vida a correr de um lado para o outro. Estar com o filho é algo que, às vezes, se tem de fazer a par de mil tarefas. Existe depois a privação de sono. Existem as birras. Existem mil e uma coisas com que os pais têm de lidar. Uns com mais, outros com menos. Por isso, compreendo que algumas pessoas acabem por se “passar” com os filhos. Sendo que tenho a certeza de que todos se arrependem dos momentos em que se apercebem de que estão a gritar por nada de extraordinário. E que o grito não foi tão eficaz com pensavam.
Agora, a parte de não me rever. Não vou mentir. A minha filha também tem os seus momentos de birra. Que felizmente, não são muitos. Também acorda a meio da noite e pede colo. Ou seja, também tem os seus momentos em que me poderia tirar do sério. Quer seja pelo cansaço acumulado ou por outro motivo qualquer. Só que gritar com a Matilde, dizer asneiras, berrar com ela, ser bruto ou o que quer que seja não é uma opção para mim. Numa fase inicial da vida de pai irritei-me com a Matilde porque não queria adormecer. Poucos minutos depois tive a noção de que tinha errado. De que tinha sido injusto. E que o meu comportamento não serviu para mais nada do que irritar a minha filha ainda mais. Senti-me mau pai. Fiquei a sentir-me mal com o erro e desde então percebi que não era o rumo que queria seguir. E que não voltaria a fazer o mesmo.
É por isto que digo que não me revejo nos tais desabafos de quem se passa com alguma frequência. Desde aquele episódio que passei a fazer tudo de forma diferente. Há uma birra? Tento conversar com a Matilde. Está bastante irritada? Dou-lhe tempo para que acalme. Não quer fazer algo? Explico as consequências que isso poderá ter, a nível de tempo, para o que ainda quer fazer no resto do dia. E este tem sido o modo como tenho lidado com os menos em que a Matilde faz birra ou está mais agitada. Se isto faz de mim melhor pai do que aqueles que gritam, dizem asneiras e fazem isto ou aquilo? Não! Não faz de mim melhor nem pior. Esta é simplesmente a forma como decidi lidar com a minha filha.
Aproveito ainda os tais desabafos (e a minha experiência enquanto pai) para defender a opinião de que ser pai é um dos maiores desafios da vida. A começar logo pela momento em que temos uma vida que depende de nós. E isto será um desafio que se prolonga ao longo da vida. Mas é também um desafio para a própria pessoa. Para o casal. Para a vida a dois. Tudo isto acaba por ser testado com a chegada de uma criança. E creio que todos aprendemos muito com aquilo que fazemos. Que seja com o filho, com a pessoa com quem estamos ou mesmo em relação a quem somos.