Existem coisas que sempre mexeram muito comigo. E refiro-me a injustiças e abusos. Sendo que algumas passaram a ter um impacto ainda maior quando passei a ser pai de uma menina. Aquilo que já me indignava, passou a ter um impacto ainda mais intenso. É aqui que entra Dominique Strauss-Khan e o documentário Quarto 2806: História de Uma Acusação. Trata-se de mais um bom documentário que está no catálogo da Netflix.
De forma resumida, o documentário está centrado na polémica que envolveu Dominique Strauss-Khan e Nafissatou Diallo, a empregada de hotel que acusou o político de violência sexual. Recordo apenas que na altura o francês era um dos homens mais poderosos do mundo. Estava no auge da vida política, era presidente do Fundo Monetário Internacional e apontado como o mais forte candidato à presidência francesa.
Este caso específico, que levou DSK a estar detido nos Estados Unidos da América fez com que outras mulheres viessem a público falar sobre abusos do político. Sem querer ser “desmancha prazeres”, até porque tudo isto é conhecido, o francês não tem uma mancha no seu registo criminal. Nada aconteceu a DSK. E quem olha para o documentário fica, na minha modesta opinião, com poucas dúvidas sobre aquilo que aconteceu. E sobre a postura do político.
Isto dá origem a discussões que nunca mais acabavam e que davam para alimentar dezenas de textos. Existem aqueles que não têm dúvidas sobre o que DSK fez à empregada de hotel. Outros, dizem que é uma oportunista. Há quem defenda que foi Sarkozy (seria o adversário de DSK na corrida à presidência francesa que pagou à empregada de hotel para subir ao quarto). Por sua vez, a defesa, alega que o sexo foi consensual. No meio de tudo isto existem dados que são curiosos. A vítima tem de reviver a história dezenas e dezenas de vezes. Por sua vez, DSK nunca foi questionado, em tribunal, sobre o que aconteceu no quarto de hotel.
O que nos leva para a relação entre o poder e quem o não tem. Entre o dinheiro e a pobreza. Aliás, um dos advogados de DSK salienta isso mesmo. A importância de uma boa defesa em tribunal. Sei que tudo isto me revolta. Mexe comigo. Como aquilo que sinto por dentro. E não tenho dúvidas de que é por isto que muitas vítimas não falam. Porque são vistas como as más da fita. O problema não está num homem que é acusado por várias mulheres de condutas pouco próprias. O mal está nelas. Em todas elas. Da empregada de hotel à prostituta, passando pela jovem que também o acusa. Este é um daqueles documentários que recomendo a todos. Mesmo que não seja muito fácil ver o mesmo.
Sem comentários:
Enviar um comentário