Desde a polémica entrevista a Piers Morgan, que culminou com a saída do Manchester United, que muito se tem falado de Cristiano Ronaldo. Sendo que o foco nos últimos dias está na prestação do jogador português no Mundial e no seu comportamento em dois momentos distintos: uma substituição e o jogo começado no banco de suplentes (algo que não acontecia desde 2006 em jogos de grandes competições de selecções).
Tenho-me deparado com muitas críticas ao jogador português, o que me leva à questão que dá título a este texto. E a resposta é simples! Sim, devemos agradecer a Cristiano Ronaldo. É dos melhores jogadores que alguma vez vi jogar (e felizmente vi muitos talentos ao vivo). É um atleta fora de série. E tem sido, segundo quem com ele trabalhou, um profissional de excelência. Isto são factos inquestionáveis. Por isso, e sem sombras de dúvidas, todos os portugueses devem agradecer a Cristiano Ronaldo. Tal como o jogador deve estar grato a todos os portugueses que sempre o apoiaram. Muitos gastam dinheiro que não têm para o ver jogar ao vivo. Outros fazem das tripas coração para oferecerem aos filhos camisolas dos clubes em que joga. Ou da equipa de todos os portugueses. Resumindo, em momento algum deveremos esquecer tudo aquilo que Cristiano Ronaldo fez pelo futebol português.
Agora, tudo aquilo que escrevi até este momento não justifica que Cristiano Ronaldo possa dizer a Fernando Santos (ou a outro qualquer treinador) aquilo que disse no momento em que foi substituído. Tal como não torna menos grave que abandone o campo no momento em que todos os colegas saúdam o público depois de uma das melhores exibições dos últimos anos. E isto para mim tem um simbolismo maior porque Cristiano Ronaldo é o capitão da equipa de todos os portugueses. Não é a braçadeira do Sporting, Manchester United, Real Madrid ou Juventus. É a braçadeira da nossa selecção. Que tem um peso enorme. E que acarreta obrigações que não podem ser relegadas para um plano inferior em detrimento de valores pessoais.
Cristiano Ronaldo é um dos melhores jogadores de todos os tempos. Isto é um facto. Mas é igualmente verdade que já não é o mesmo jogador que era quando tinha 20 anos. E esta é a lei da vida. Olhamos para Cristiano Ronaldo e vemos um monstro físico. Um verdadeiro animal no bom sentido. Mas a velocidade não é a mesma. Existem muitos detalhes que acabam por ser diferentes. [Podemos falar do exemplo do Pepe, que perto dos 40 anos parece um jogador melhor do que quando tinha 20. Mas a posição é diferente. Por isso é que vemos maior longevidade – a alto nível – em defesas do que vemos em avançados] A isto junta-se um início de época sem a preparação ideal (ou igual à dos colegas) e uma época de menos utilização. Sem esquecer o mais importante de tudo: o impacto psicológico da morte de um filho. Se (à parte da tragédia familiar) juntarmos a tudo isto uma entrevista polémica, temos todos os ingredientes que uma carreira como a de Cristiano Ronaldo não merecia neste momento. E que cria a ilusão de que o jogador está a lidar de forma menos positiva com o aproximar do adeus aos relvados.
Resumindo, nunca terei palavras suficientes para elogiar tudo aquilo que já vi Cristiano Ronaldo fazer com uma bola nos pés. Nunca conseguirei colocar em palavras o impacto que teve no futebol português, no futebol mundial e na promoção de Portugal pelo mundo. Mas isto não me permite elogiar aquilo que fez quando foi substituído e o que fez quando abandonou o campo. Tal como estes episódios não apagam o talento o que tem. O que acontece é que as pessoas tendem a ter a memória curta e a relembrar as coisas mais recentes. O que faz com que, com tantas polémicas, muitos acabem por dedicar mais atenção aos últimos episódios da carreira de Cristiano Ronaldo.
Obrigado, Cristiano. E que mostres, no que falta do Mundial, que és o Capitão que todos os portugueses querem ver.
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