Recordo-me dos primeiros tempos da pandemia. Dos emotivos vídeos que chegavam de Itália, com pessoas a partilharem música para a vizinhança. Dos aplausos que homenageavam estes e aqueles. Dos aplausos. E até das bonitas bandeiras, quase sempre pintadas por crianças, em que se podia ler algo como vai ficar tudo bem. Mais se seis meses depois de o vírus ter chegado a Portugal, pergunto: será que vai mesmo ficar tudo bem?
Já estivemos fechados em casa. Já ficamos sem empregos. Já fomos obrigados a fechar negócios que eram o sonho de uma vida. Trabalhamos de casa. Estamos com horário reduzido e vencimento cortado. Vamos acumulando dívidas. Vivemos com receio de sermos infectados ou de infectarmos alguém. Já choramos a morte de pessoas por causa desta doença. Já fomos privados de dizer um último adeus a alguém especial por causa desta doença. Mas parece que não pensamos em nada disto.
O #vaificartudobem deu lugar ao #queropossoemando e ao #façoaquiloquebementender. Agora, que se lixe (mas com f) a solidariedade. Que se lixem (igualmente com f) os pedidos que nos fazem. Usar máscara ao ar livre, quando estou junto de outras pessoas? Era o que mais faltava. Ninguém manda em mim. Instalar uma aplicação que não tem qualquer problema para nós? Nada disso! Ninguém me espia, dizem aqueles que têm todas as redes sociais e mais algumas instaladas nos smartphones.
Se nos dizem para fazer, recusamos. Refilamos e falamos mal de tudo e de todos. Se deixam ao nosso critério é porque não sabem mandar nada e só atrapalham. Se dizem para não fazermos algo, fazemos. É a triste realidade em que vivemos num dia em que voltamos a bater o recorde de número de infectados em Portugal.
Bem sei que esta doença não é o maior bicho papão com que temos de viver. Mas tem vários problemas associados. Que temos conseguido evitar até ao momento. Estou a falar de hospitais entupidos de doentes. De pessoas (mais debilitadas) acamadas que necessitam de cama e ventilador durante muito tempo, fazendo com que (em casos extremos) se tenha de escolher entre quem vive e quem morre. Sendo o critério (frio) sempre o mesmo: o mais novo, por mais irresponsável que tenha sido.
Estão a pedir (obrigar) para usar máscara ao ar livre. Estão a pedir (obrigar) a instalar uma simples aplicação. E como não tenho memória curta, tenho presente na memória que ao meu pai foi pedido (obrigado) que fosse para uma guerra que não era sua. E não havia espaço para lamentos nem nada do género. Era calar, ir, sobreviver e tentar voltar sem mazelas físicas ou psicológicas.
Por isso, esqueçam lá essa coisa do #vaificartudobem. É giro para usar nas redes sociais e para pendurar na varanda lá de casa. Na realidade, continuamos a ser umas "bestas" com olhos centrados no nosso umbigo.
Tudo dito!!!
ResponderEliminarSubscrevo completamente as suas palavras. Infelizmente vivemos numa sociedade do "deixa andar"... temos de ser cada um por si para nos sentirmos protegidos. Cumprimentos. A.V.
ResponderEliminarSinto o mesmo.
ResponderEliminarTem-me exasperado.