17.8.16

quando a piada era eu

Por esta altura (Jogos Olímpicos) é bastante comum recuperar vídeos em que tudo corre mal numa prova desportiva. Não só se recuperam vídeos antigos como os próprios jogos têm sempre atletas que, por um ou outro motivo, cometem erros numa prova. Foi assim com a atleta russa que conseguiu protagonizar um dos piores saltos de sempre para uma piscina. Atletas que caem durante a corrida. Pequenos incidentes que colocam um ponto final em quatro anos de trabalho.

Mas a única diferença entre estes atletas e todos os outros que são anónimos é mesmo a falta de imagens que registem o momento. Quando era mais novo comecei por praticar ténis de mesa. Se não estou em erro foi a primeira modalidade que pratiquei. Ganhei apenas um jogo e por falta de comparência do adversário. No segundo fui derrotado e a minha aventura ficou por aí. Depois, saltei para o atletismo.

Naquela altura os jovens (pelo menos do meu clube) praticavam quase todas as modalidades. Recordo-me de fazer lançamento do disco, do peso, salto em comprimento, salto em altura e até algumas provas de velocidade, como era o caso dos 60 metros barreiras. E esta modalidade nunca será esquecida por mim. Até porque só fiz uma corrida. Da qual me recordo como se fosse hoje. Parece que me estou a preparar para dar início à prova.

Equipamento pronto. Ténis próprios para o piso. Confiança. Tinha tudo para correr bem. Soa o sinal que dá início à corrida. O arranque é perfeito. Sou o primeiro. As barreiras estão cada vez mais próximas. Salto uma de forma brilhante, tal como tinha treinado. Salto mais outra. O primeiro lugar continua meu. A corrida corre cada vez melhor. Não sei precisar quantas barreiras já tinha saltado mas tudo corria bem. Lá ia eu em direcção à meta. Começo a acreditar que posso vencer.

Até que... num dos saltos, um dos pés toca na barreira. Derrubo a barreira. Vou ao chão. É cal para aqui, cal para ali (assim eram feitas as marcações da pista). Eu e a barreira parecemos um só, bem agarradinhos como duas pessoas apaixonadas. O primeiro lugar já era. Aliás, os adversários que acabaram a corrida. E eu ali, num misto de branco do cal e sujidade da pista. Se a memória não me falha faltava-me saltar apenas mais uma barreira. Algo que fiz, acabando a corrida em último lugar.

Esta é a primeira história que me vem à cabeça mas consigo recordar tantas outras, em tantas outras modalidades. E que atire a segunda pedra quem nunca protagonizou um momento caricato enquanto pratica desporto. A diferença, ou vantagem, é que a minha geração não foi pautada, desde cedo, com telemóveis que permitem registar os momentos que rapidamente acabam numa qualquer rede social. Ficam apenas estas memórias que são recuperadas com um sorriso. Que naquele dia não apareceu no imediato.

2 comentários:

  1. Muito bom.
    São as tuas memórias e têm mais sabor a vitória ou derrota, porque foste tu que contaste.

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    1. É bom ter memórias destas para contar. Até porque a vida não é feita apenas de conquistas.

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