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7.3.16

olhar para o benfica vs sporting ou para jorge jesus vs rui vitória

Muito se tem falado (e irá continuar a falar) do jogo Sporting vs Benfica do último Sábado que terminou com uma vitória dos encarnados. Existem diversas perpectivas sobre o jogo e muitas delas servem apenas para atirar areia para os olhos dos adeptos. E é nisto que penso quando ouço as palavras de Jorge Jesus para justificar o seu insucesso. Principalmente quando acusa o Benfica de jogar como equipa pequena e quando diz barbaridades como "foi o jogo mais fácil para ganhar ao Benfica".

Começando pelo jogo, era uma partida que nenhum dos clubes poderia perder. E isto bastava para saber que dificilmente seria um jogo bonito e aberto. Tinha tudo para ser, como foi, um jogo mais táctico do que brilhante do ponto de vista artístico. O Benfica entrou melhor, fez um golo e dominou o encontro até mais ou menos à meia hora de jogo. Depois, e após uma entrada péssima em jogo, o Sporting cresceu e controlou o jogo. Sendo que foi um domínio consentido pelo Benfica que deu a iniciativa do jogo ao Sporting. Que apesar do domínio que teve pouco fez para ganhar o jogo. E quando refiro isto baseio-me nas oportunidade de golo que o Sporting teve: duas! Ambas de Bryan Ruiz que teve azar em ambas. Sendo que este azar também casa com o mérito de outras pessoas. A estas duas oportunidades de jogo acrescento uma jogada que podia resultar num grande golo que foi o remate de Jefferson que foi à trave. Por outro lado, o Benfica tem a oportunidade que resulta em golo. Tem um remate perigoso de Renato Sanches. E uma jogada de perigo em que ficou evidente que Salvio ainda não está na sua melhor forma. Resumindo, o Sporting tem duas (ou três se quiseres contar com o remate de longe) oportunidade de golo e o Benfica tem uma (mais um remate perigoso). E isto mostra que não existe o Sporting avassalador de que muitos falam.

Agora vou olhar para os jogos que já tinham acontecido este ano. O primeiro (Supertaça) foi igual aquilo que é um jogo típico de início de época, com mais coração do que razão. O jogo foi resolvido num lance de sorte mas o Sporting teve mérito na vitória. No jogo da Luz foi diferente. O Benfica entra bem e nas primeiras três vezes que o Sporting foi à baliza fez golo. O jogo morreu aí e o Sporting poderia ter feito mais golos. Mais uma vez, justiça na vitória. O jogo da Taça de Portugal já foi mais equilibrado tacticamente. Existe um ponto em comum em todos estes jogos. Jorge Jesus (ou as suas tácticas) foi superior a Rui Vitória. As mexidas na equipa desmontaram sempre qualquer táctica que Rui Vitória utilizasse. E esse mérito ninguém lhe tira.

A verdade é que muita coisa mudou desde esses três jogos. O Benfica apostou em Renato Sanches que com apenas 18 anos é fundamental na equipa do Benfica. Jonas e Mitroglou adaptaram-se na perfeição. As rotinas estão criadas e os jogadores adaptados às ideias do novo treinador. E pela primeira vez Rui Vitória anulou a táctica de Jorge Jesus. O Sporting raramente criou perigo e as mexidas na equipa foram todas anuladas com as mexidas que Rui Vitória operou no Benfica. Por isso, e pela primeira vez nesta época (refiro-me a jogos com os grandes portugueses) Rui foi mesmo Vitória num embate táctico. E Jorge Jesus, o cérebro, foi derrotado, por mais que lhe custe assumir isso, até porque já tinha dito que não via Rui Vitória como um treinador.

Se o Benfica defendeu mais do que o normal? Sim! E o jogo, sobretudo com a vantagem no marcador, pedia isso mesmo. É preciso perceber a importância da vantagem para o Benfica. Seria uma loucura se depois da vantagem o Benfica quisesse atacar ainda mais. Se esta forma mais defensiva faz do Benfica, naquele jogo, uma equipa pequena? Não! Para quem tem uma memória menos apurada recordo o jogo entre os mesmos clubes na época passada. Na altura, o Benfica de Jorge Jesus jogou de uma forma bastante defensiva tendo feito o primeiro remate à baliza aos 90+4 minutos. Ainda no ano passado, o Benfica ganhou no Dragão por 2-0 nas únicas oportunidades que teve no jogo. Na altura, Jorge Jesus disse isto: "saber defender é uma arte". Recordo também o jogo do Inter, de José Mourinho, que eliminou o Barcelona da Liga dos Campeões, em Nou Camp, com uma táctica bastante defensiva onde avançados ajudavam os defesas laterais.

Realmente, saber defender é uma arte. É óbvio que clubes como Benfica, Porto e Sporting raramente são obrigados a defender mais tempo do que aquele que passam ao ataque. Mas convém que o saibam fazer quando é necessário. E foi isso que o Benfica fez em Alvalade quase de forma perfeita. Se teve sorte? Sim, teve. Tal como teve azar noutros jogos, algo comum a qualquer equipa do mundo. Se ganhou apenas por causa da sorte? Não! Ninguém pode garantir isso. O que ninguém pode desmentir é que a táctica de Rui Vitória foi melhor do que a de Jorge Jesus. E só não vê isto quem não quer.

9.6.15

o meu lado b #1

Quem me conhece sabe que o desporto, especialmente o futebol, é a minha grande paixão e a minha área de interesse. Até consigo divertir os meus amigos quando, no Algarve e com a noite já a meio reconheço jogadores que mais ninguém reconhece. Apesar de gostar muito de futebol, poucas são as vezes em que foi tema de um texto (refiro-me algo mais específico). Nos últimos dias ponderei criar um blogue para esse efeito mas optei por escrever, quando me apetecer, neste espaço. Um outro blogue ia consumir mais tempo e implicaria uma logística diferente no momento de publicar um texto e na atenção dedicada ao mesmo. Assim sendo, nasce hoje a rubrica “o meu lado b”. O b poderia ser de Bruno, o meu nome, mas neste caso é mesmo de bola.

E nada melhor para inaugurar esta rubrica do que um escaldante derby que opõe os dois maiores clubes de Lisboa: Benfica e Sporting. Trata-se de um derby de formação, tema muito badalado (chega a ser confuso) depois da mudança de Jorge Jesus do Benfica para o Sporting, da assumida aposta benfiquista na formação (um dos motivos que afastou Jorge Jesus que não estava muito inclinado para este projecto) e da incógnita em relação ao futuro aproveitamento da formação leonina que bons frutos tem dado ao longo dos anos.

Para começar é de certo modo injusto, ou pouco preciso, defender que o Sporting faz da formação a sua bandeira, ao contrário do que acontece com o Benfica e também com o Porto. Considero que é impreciso porque é preciso juntar a componente financeira a este tema. O Sporting passou a apostar na formação pelo simples facto de que não tinha dinheiro para comprar jogadores feitos e de qualidade indiscutível, como por exemplo Salvio, que custou 12 milhões de euros ao Benfica ou Danilo que custou quase 20 ao Porto. A aposta leonina na formação foi uma necessidade. Foi juntar o útil (não gastar dinheiro que não se tem) ao agradável (aproveitar a qualidade dos talentos formados no clube). Ao contrário disto, Benfica e Porto sempre tiveram fundos para oferecer os jogadores que os treinadores exigem (tome-se por exemplo o caso de Lopetegui que teve tudo o que pediu, com jogadores bastante caros que pouco ou nada renderam).

Mas os tempos estão a mudar. A banca está a fechar a torneira aos clubes. E se os clubes portugueses (mesmo os três grandes) sempre foram vendedores, agora ainda mais. O orçamento é mais reduzido. Correm-se menos riscos no momento de comprar jogadores estrangeiros e existe quase a obrigação de aproveitar os jovens da formação. Algo que o Sporting já faz. Algo que o Benfica deixou claro ir fazer. E algo que o Porto, pelo menos é nisso que acredito, acabará por fazer. A novidade aqui prende-se com o Sporting que parece disposto a abrir os cordões à bolsa para satisfazer o exigente Jorge Jesus, adepto de jogadores feitos e pouco dado a jogadores da formação, sobretudo portugueses. E aqui tenho por exemplo os seis anos no Benfica onde deu alguns minutos (e não muitos) apenas a André Gomes, jogador do qual abriu mão sem qualquer problema quando muita falta lhe fazia. E estas novas realidades dos dois lados da Segunda Circular deram início a diversos comentários.

Já ouvi coisas como: “Se o Jesus não aposta na formação vai abdicar de Patrício, Adrien e por aí fora”. E uma coisa nada tem a ver com a outra. É certo que estes dois exemplos, entre outros, são jogadores formados no Sporting. Mas são jogadores feitos, com vários anos de primeira equipa e com diversos jogos. Apostar nestes jogadores não é apostar na formação. Quando se diz que Jorge Jesus não aposta na formação, significa (e mais uma vez tomando como exemplo o seu percurso no Benfica) que os jovens talentos da equipa b vão ter um acesso mais limitado à equipa principal e dificilmente algum irá triunfar na equipa. Só o tempo é que dará resposta a isto mas é público que Jorge Jesus já exigiu jogadores feitos e que Tobias Figueiredo, este sim um jovem da formação que fez uma boa época, já foi despromovido para último defesa-central da equipa. Ou seja, só jogará em último caso, quando os dois titulares e o suplente não estiverem disponíveis. Mané foi outro grande talento esta época. E aparentemente também será despromovido. Jorge Jesus promete valorizar Carrillo, quer ficar com Capel e exigiu o regresso de Labyad. Outro sinal indicativo do menor espaço de manobra para Mané, que Marco Silva elogiou no final da Taça dizendo que estava ali uma excelente solução para a partida de Nani. É certo que só o tempo dará resposta à aposta (ou não) de Jorge Jesus na formação mas o seu passado revela sinais de que as coisas irão mudar em Alvalade.

Também já ouvi coisas como “O Benfica vai promover cinco jovens mas depois não são titulares. Isto é que é apostar na formação?”. E a resposta é afirmativa. Sim, isto é apostar na formação. Apostar na formação não é pegar em cinco miúdos e fazer dos mesmos titulares imediatos na equipa principal. Apostar na formação é contar com esses cinco jovens para a composição final do plantel principal que este ano será mais reduzido. Aqueles jovens sabem que vão integrar o plantel principal. Não vão andar a saltitar entre os treinos da equipa b e da principal. Vão habituar-se às rotinas. Aos métodos do treinador. Aquilo que é exigido. E vão ter de lutar para conquistar o seu espaço. Depois, com o treinador certo, e Jorge Jesus neste domínio não é, vão ser lançados aos poucos na equipa principal (o melhor exemplo disto é o Barcelona). E esta aposta motiva não só aqueles jovens como os restantes jogadores da equipa b e dos outros escalões de formação. E era isto que deveria ter acontecido com Bernardo Silva e com João Cancelo, entre outros.

Estas apostas são importantes em diversos aspectos. Os clubes investiram dinheiro nestes jovens jogadores. Se lhes oferecem contratos profissionais é porque reconhecem talento e margem de progressão. Aproveitar estes jogadores reduz a massa salarial porque são mais baratos e não implicam o gasto de uma contratação. Se calhar a maior parte dos adeptos do Benfica não têm noção de que o clube teve mais de vinte(!!!) jogadores emprestados na última época. E é isto que o clube, neste caso o Benfica mas não só, tem de mudar.

Depois existe a questão da competitividade. O Benfica passa ter uma equipa mais fraca e o Sporting uma equipa mais forte? Não necessariamente. E é por isso que o Benfica não pode pegar em miúdos e fazer deles titulares em semanas. E o Sporting é um exemplo disto. A aposta forçada na juventude como espinha dorsal da equipa resultou numa longa ausência de conquistas. A solução passa pelo equilíbrio. Jogadores feitos e alguma juventude. E isto é algo que favorece todos, sobretudo os mais novos que têm uma integração mais fácil.

Resumindo, o futuro do futebol, sobretudo em Portugal, passa por um aproveitamento melhor da formação. E como devemos seguir os melhores exemplos, é olhar para o Barcelona e para o aproveitamento que é feito dos jovens da formação. O pior é que por cá exige-se tudo em pouco tempo. Não se quer apenas formação, espera-se que um jovem de 20 anos seja a estrela maior da equipa e que resolva os problemas todos. E quando algo corre mal, o que é normal, é crucificado.