23.4.19

eu, o meu pénis, a cristina ferreira e o programa da cristina

Foi com surpresa que recebi uma mensagem a falar sobre um convite relacionado com O Programa da Cristina. Falaram-me de duas ideias de Cristina Ferreira e deram-me a possibilidade de participar numa reportagem sobre uma delas. Acabei por escolher falar sobre sexo, mas especificamente sobre a relação do homem com o seu pénis. Até porque gostei da ideia da falar abertamente sobre um tema que considero tabu para muitas pessoas.

Devo confessar que ponderei muito bem sobre o convite. Não por ter receio de falar sobre o tema, mas por acreditar que seria muito fácil ser uma piada. Bastava uma frase mal dita, uma edição atrevida e facilmente seria transformado numa piada. Até porque sabia que são seria em directo. Algo que por um lado é bom, mas por outro rouba-me algum controlo. Ainda assim, aceitei. Sem qualquer problema.

O passo seguinte foi uma entrevista por telefone com uma mulher (muito simpática) que nunca conheci pessoalmente. Falámos durante largos minutos sobre sexo. Sobre a minha relação com o meu pénis, com o meu corpo e por aí fora. Se me comparava com outros. Se alguma vez me tinha deixado ficar mal. Se lhe dava nome. Se a minha mulher tinha razão de queixas. Com que idade tinha perdido a virgindade, entre muitas outras coisas como depilação masculina e por aí fora. Respondi a tudo com a mesma naturalidade que responderia à pergunta: "que horas são?". Pelo simples facto de que não olho para a sexualidade como um tabu.

Expliquei que os momentos mais "estranhos" que tive deixaram de o ser em poucos segundos. Um deles foi quando, já adulto, fui ao médico que me acompanha desde criança e que me mexeu no pénis. Outro foi quando fui fazer um espermograma. E rapidamente percebi que era apenas o trabalho deles. E que era tão natural para aquelas pessoas como para mim é escrever textos. De resto, não dou nome ao meu pénis, tal como não dou aos meus braços ou pernas. Não me comparo com outros e sinto-me bem como aquilo que sou e com o corpo que tenho.

Falei ainda de algo que considero curioso. Que passa por, cada vez mais, os homens esconderem o corpo nos balneários dos ginásios. Acabam o treino e vão todos tapados para o duche. De onde já saem tapados. Se é complexo? Não sei! Mas para mim não faz sentido. Sendo que expliquei que desde miúdo que jogo futebol e que sempre foi natural para mim estar nu perto de outros homens. Como se nada fosse. Sendo que a nudez também nunca foi tabu na minha casa. Sempre vi os meus pais sem roupa, com a maior naturalidade do mundo. Falei ainda do mito da importância do comprimento e da forma que o meu pénis tem impacto na minha vida.

Em traços gerais, esta foi a conversa que tive ao telefone. Sendo que fui entrevistado, já em vídeo, por outra pessoa. Que acabou por me fazer perguntas um pouco diferentes, mais ligeiras e mais divertidas. Algo que não teve qualquer problema. Mas que acaba por retirar alguma "importância" a tudo aquilo que tínhamos falado ao telefone e que considero importante para acabar com tabus.

Por exemplo, perguntaram-me se "mexia nele" ou algo do género. Respondi que mexia nos testículos, como qualquer homem deve fazer, para tentar detectar algo fora do normal e para ajudar a prevenir o cancro testicular. Quem viu a reportagem ouve apenas "mexo algumas vezes". O que não tem nada de errado, mas que acaba por levar a pessoas a pensar algo que não disse e que passa pela masturbação.

Ao telefone também disse que considero que o sexo ainda é tabu, pois as pessoas não falam abertamente sobre nada. Têm receio de tudo e isso fica provado pelo que vou dizer agora. É uma pequena inconfidência que não faz mal a ninguém. Depois de responder às perguntas (pelo telefone) disseram-me que ninguém aceitava o convite. Homens conhecidos, bloggers e anónimos. E isto mostra que o tema ainda é tabu para muitos homens.

Em jeito de balanço, estou feliz com a minha modesta contribuição para o tema. Agradeço o convite que me foi feito e estarei sempre disponível para este tipo de coisas. E o maior elogio que posso receber é ter os meus amigos homens e dizerem que estive bem a falar do tema em questão. Aproveito ainda para agradecer a Cristina Ferreira por pegar em temas sérios, torná-los um pouco mais ligeiros e fazer com que as pessoas falem de algo que deveria ser completamente natural.

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