30.1.19

as banhas de rita pereira, as minhas banhas, as banhas de todos

Rita Pereira partilhou uma imagem no Instagram onde aparecer a agarrar as gordurinhas que tem um mês depois de ter sido mãe e de já ter voltado ao trabalho. A atriz decidiu chamar “banhas” à gordura e, num registo cada vez mais comum, instalou-se a polémica. Uma confusão tão grande que quase parecia que o mundo dependia das “banhas” de Rita Pereira para manter a sua normalidade.

Este texto não tem por objectivo defender ou atacar Rita Pereira. Pretendo antes falar das banhas da actriz, das minhas banhas e das banhas de todos aqueles que têm redes sociais. Mas já lá vamos! Primeiro dou a conhecer aquilo que senti quando vi a imagem no Instagram. No momento em que me deparei com a foto nas redes sociais, pensei que Rita Pereira ia ser elogiada. E tinha esta opinião por diversos fatores.

As pessoas adoram destruir a imagem de perfeição que associam, de forma errada, às figuras públicas que conhecem apenas da televisão e redes sociais. A esmagadora maioria das adora ver estrias de mulheres famosas, vibram com a celulite alheia e batem palmas em pé quando algo está fora do sítio. É quase aquela coisa do “estou mal, mas aquela também não vai bem”. Parece que nos sentimos melhores pelo facto de os outros, que nada nos dizem, terem “defeitos” (pelo menos aos nossos olhos).

Quanto Rita Pereira assumiu que ainda não está na forma física normal, acreditei que isso seria elogiado por mulheres que lidam diariamente com a exigência de perfeição. E por todas aquelas pessoas que lidam com problemas de imagem associados ao próprio corpo e que são reflexo da tal perfeição que impera no mundo virtual. Por isso, não me choquei com o termo “banhas”. Tinha tanto para analisar que nem liguei à palavra.

Mas parece que, até porque adoramos uma boa confusão, escrever “banhas” é um ataque a pessoas que têm excesso de peso. Se bem que acredito que aqueles que defendem esta opinião ficariam chocados com qualquer termo que a atriz tivesse escolhido. E esta confusão levou a que a atriz ligasse para um programa de televisão para se justificar. E isto considero um erro. Rita Pereira, como qualquer pessoa, tem um modo de pensar que não necessita de esclarecimentos ou pedidos de desculpa televisivos. Quanto muito, e se sentir essa necessidade, justifica-se na sua “casa”, a rede social onde partilhou a opinião.

É neste momento que entram as banhas da Rita, as minhas e a de todas as pessoas que têm redes sociais. E onde está banhas deve ler-se opinião. É certo que as redes sociais têm coisas muito boas, mas conseguem ser assustadoras pelas leituras polémicas que as pessoas fazem de tudo e mais alguma coisa.

É a imagem que tem isto a mais, é a pessoa que tem aquilo a menos. É o que se mostra e que os outros não têm, é um atentado a isto, aquilo e a mais não sei o quê. E vivemos tão centrados nestas “banhas” que nos esquecemos do que aquilo é, de onde está e da real importância que tem para todos nós. E nem perdemos tempo a tentar perceber se aquilo que a pessoa quer dizer é aquilo que nós estamos a perceber, sem qualquer certeza absoluta. Depois, nos breves segundos em que deixamos o smartphone numa mesa, não temos a mesma postura para a vida real, aquela que não é feita de fotos, gostos e comentários.

Somos maltratados no trabalho? Ficamos calados! Fazem-nos mal? Ficamos calados. Não concordamos com diversas coisas que nos fazem? Ficamos calados? Não gostamos de determinados comportamentos dos outros em relação a nós? Ficamos calados. E quando nos fartamos disto, voltamos ao mundo virtual para procurar umas “banhas” onde seja possível descarregar todas aquelas energias negativas (porque não quero chamar-lhes outras coisas) que acumulamos nos nossos problemas reais.

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