10.10.16

o mundo está perdido e a culpa é do instagram

Existem algumas discussões que são perpetuadas ao longo dos tempos. Entre elas está a dificuldade em aceitar que alguém de determinada área possa trabalhar numa área diferente. Por exemplo, muitos actores não gostam que modelos sejam escolhidos para representar quando não têm formação para tal. Por sua vez, os modelos não gostam que figuras públicas sejam escolhidas para campanhas e desfiles de moda quando não têm formação para o fazer. E estes são apenas dois exemplos de discussões sem respostas consensuais.

Existem diversas leituras para estas realidades. E muito pode ser discutido. Mas confesso que começo a achar que o mundo está perdido quando ouço uma realidade que é tornada pública por uma profissional. Maria Clara é uma modelo portuguesa que está a dar cartas a nível internacional tendo já participado em alguns dos maiores eventos de moda do mundo. Numa entrevista recente (ao Diário de Notícias) Maria Clara revela que chega a ser perguntado, em diversos castings, quantos seguidores é que as modelos têm na rede social instagram. E que a escolha final passa por esse dado.

Quando digo que o mundo está perdido é por achar que isto é ridículo. A começar logo pela facilidade com que se compram seguidores para qualquer rede social. Basta querer e facilmente se tem dezenas de milhares de seguidores nas redes sociais. Maria Clara revela que existem modelos que o fazem e isto adultera a escolha. O talento (ou tipo de corpo desejado para determinado trabalho) perde a corrida para as redes sociais. Mas as redes sociais acabam por não vencer a corrida final porque os seguidores são comprados. Não são "reais" do ponto de vista da diferença entre ter 100 mil seguidores reais e activos ou 100 mil seguidores comprados. O alcance da marca será completamente diferente.

A vida está feita de pequenas "injustiças" e por "rótulos" que excluem pessoas. É assim numa qualquer entrevista de emprego. É assim no acesso a um espaço reservado. É assim em tudo e mais alguma coisa. Mas quando o critério de selecção passa exclusivamente por redes sociais e seguidores é porque algo vai muito mal. É uma vitória da vida imaginária sobre o mundo real. E isto é muito assustador, mesmo tendo em conta a evolução dos tempos. Porque quantidade (especialmente adulterada) não é sinónimo de qualidade.

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