11.10.16

bebés roubados às mães

Enquanto jornalista já aqui revelei o encanto que tenho por jornalismo de investigação. Que infelizmente não abunda em Portugal. Porquê? Por vários motivos. O que salta logo à vista é o custo. Um jornalista de investigação precisa de tempo e de meios para fazer o seu trabalho. Uma coisa é escrever uma peça, outra é dedicar tempo a uma investigação. E em Portugal isto é raro. É algo que escasseia. Infelizmente.

Do pouco jornalismo de investigação que vai ser feito por cá destaco algumas reportagens que vão sendo transmitidas na TVI. E destaco também o nome de Ana Leal que salta à vista e é facilmente reconhecido por quem vê as peças que vai fazendo. Como é o caso da recente Love You Mom, que foi transmitida durante este fim-de-semana e que aborda a polémica dos bebés que são “roubados” às mães em Inglaterra.

Assumo que não vi a primeira parte, tendo visto apenas a segunda. Onde se destacam três mulheres. Em especial Iolanda Menino que ficou sem o filho apenas nove dias depois de ter nascido. Acredito que boa parte das pessoas que viram a reportagem vão pensar, nem que seja por breves segundos, que algo não está bem contado. “Como é possível retirar um bebé a uma mãe por tão pouco e por situações que todos os pais vivem?”, será uma das dúvidas.

Até porque a maioria das pessoas olha para Inglaterra como um país desenvolvido onde não acontecem injustiças destas. Depois percebe-se que existe um negócio de milhões que diz respeito a agências privadas de adopção. Percebe-se também que é muito mais fácil retirar uma criança a uma cidadã estrangeira do que a alguém local. E a reportagem dá também a conhecer uma realidade assustadora. Como é o caso de Iolanda em que existem documentos oficiais onde constam mentiras que facilmente são desmontadas porque esta mãe se lembrou de filmar o parto. Caso contrário não teria como provar nada.

Enquanto via a reportagem fiquei sem perceber como é que se rouba uma criança a uma mãe que incumpriu com algo (receber a visita de uma assistente social) que a mãe diz desconhecer e que passados alguns meses se informe a mãe desta criança que o filho está disponível para adopção. Como é que se acusa uma mãe de depressão, de ser drogada e de dar ordem para “roubar”, assim que nascer, a filha que carrega na barriga na sequência de uma queda da filha.

Estes dados são tão absurdos que levam muitas pessoas a pensar em teorias da conspiração e a dizer que “algo está mal contado”. Enquanto via a peça pensei também no motivo pelo qual não foram retirados os filhos ao casal McCann que, independentemente de tudo o resto, assumiu que deixou crianças pequenas sozinhas em casa enquanto foram jantar. Uma mãe tem um filho para adopção porque não recebeu uma visita de uma assistente social. Um casal cuja filha misteriosamente desapareceu por negligência dos pais não fica sem filhos? Algo não bate certo... Mesmo tendo em conta o dinheiro (e influências) envolvido.

Como referi no início, o jornalismo de investigação é raro em Portugal. Infelizmente, porque é aquele que pode fazer toda a diferença em muitos casos. No final desta peça senti a falta do outro lado da barricada. Que alguém desse a cara por esta realidade. Que alguém do “lado de lá” explicasse porque é que estas crianças são retiradas a estas mães. Porque não são devolvidas. Entre outras questões. Espero que o mediatismo que tem sido dado a esta reportagem possa ajudar na resolução de muitos problemas.

4 comentários:

  1. na rtp1 o sexta às 9 é muito bom e talvez melhor por pôr o dedo na ferida, se bem que este assunto ultrapassa muitas barreiras, só de pensar na verdade de se tirar crianças para as "vender", é simplesmente abjecto e sem mais comentários e as autoridades inglesas têm que intervir e rápido.

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    1. Isto dá muito que pensar. É um negócio que alimenta muitas pessoas.

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  2. Infelizmente na maior parte das investigações feitas pela Ana Leal que envolvem duas partes, apenas uma fala. No caso da mais recente é pena que as instituições britânicas não tenham falado pois também gostava de perceber melhor os contornos de todas aquelas histórias.

    Cátia ∫ Meraki

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    1. Gostei de ter levado o consulado português a responder, sendo que as respostas não batem certo com aquilo que foi avançado na reportagem.

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