29.1.16

somos especiais (enquanto fazemos falta)

Existe uma certa ideia em torno das pessoas especiais. Existem pessoas a quem todos se referem como especiais. Pessoas que são mais acarinhadas por algumas. Que são elogiadas por outras. Pessoas que, por norma, são vistas como tendo muito valor, fazendo muita falta numa ou determinada situação. Não discordo desta ideia. Realmente existem pessoas que nos são mais especiais do que outras por uma ou outra razão. Mas defendo também que esta ideia de “ser especial” está associada ao alcance dos nossos olhos ou, eventualmente, das nossas necessidades.

E existem diversos exemplos que ajudam a defender o meu ponto de vista. E posso começar por uma equipa de futebol. Já passei por muitas e em todas elas existiam jogadores com mais qualidade do que os outros. Enquanto esses jogadores não faltavam à equipa eram elogiados por todos. “É uma sorte termos o jogador x ou y” e “que nunca nos falte” são coisas que ouvi diversas vezes. Até que esses jogadores mudam de clube ou não podem jogar por este ou por aquele motivo. Até chegar a hora do primeiro jogo sem esses jogadores ainda se lamenta a ausência. Até que o jogo tem lugar e corre bem. Ou seja, ninguém dá pela falta do tal jogador especial. Passado pouco tempo já ninguém se lembra do jogador.

Outro exemplo pode ser uma qualquer empresa. Quantos trabalhadores são elogiados? “Esta empresa sem ti não andava”, dizem. “Devíamos ter mais trabalhadores como tu”, dizem. “És um exemplo”, acrescentam. São aqueles trabalhadores que são vistos como especiais. Até que chega o momento de serem despedidos. O trabalhador especial passa a ser o funcionário número 2323 que vai receber x para se ir embora. Ou então até ao momento em que o funcionário decide mudar de empresa. Todos lamentam/choram a sua partida. Todos questionam o futuro. Mas a empresa não pode ficar parada. O funcionamento mantém-se. E aquilo que era feito por essa pessoa passa a a ser feito por outra. E passado algum tempo já não sentem falta da tal pessoa especial.

E ainda dou mais um exemplo. Um grupo de amigos onde existe alguém que se destaca. É o mais brincalhão, é o mais divertido, é o mais amigo do amigo ou outra coisa qualquer. É o amigo especial do grupo. Até ao momento em que a vida afasta esse amigo do grupo. Os restantes continuam juntos. Só aquele é que se afastou. A vida continua. Os restantes amigos continuam juntos. E passado pouco tempo já ninguém se lembra de falar do tal amigo especial. E todos participamos em situações como estas ou outras semelhantes. Aquilo que define o ser especial está associado aquele ditado que diz qualquer coisa como longe da vista, longe do coração.

5 comentários:

  1. A vida continua sempre... o que é especial no momento, poderá não ser no futuro. E é bom que isso seja ultrapassado, caso contrário, iríamos viver permanentemente no passado e em deprimência porque deixámos de ter o que nos era especial, como se a vida parasse ali.

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  2. Texto muito bem acertado!!
    Se alguem se afasta sem ser por vontade própria (por exemplo por doença ou outro problema), eu faço de questão de continuar a manter o contacto e a ajudar no que for preciso.
    Não deixo de achar as pessoas especiais, so por estarem com algum problema, so se o afastamento por intencional.
    Eu sei o que é deixar de ser especial para os outros, só por estarmos doentes ou a passar algum momento dificil.

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