18.12.15

torresmos, estupidez e um supermercado às 8h30 da manhã

Não tenho por hábito ir a supermercados assim que abrem. Recordo-me de que o fazia quase todos os dias quando trabalhei num centro comercial pois quando entrava às 10h tinha por hábito tomar o pequeno-almoço no supermercado pois era bom e muito mais barato. Se chegasse uns minutos antes da abertura deparava-me com a quantidade de pessoas que já estavam preparadas para as compras. Parecia a grelha de partilha de uma corrida de automóveis em que os clientes, com os seus carrinhos, eram os pilotos e o segurança era aquela menina que baixa a bandeira para dar início à corrida, neste caso, autorização para entrar no supermercado.

Hoje voltei a ter essa experiência porque necessitei de ir a um supermercado perto do ginásio que frequento. E a experiência teve de tudo um pouco. Primeiro, o melhor momento. Na zona da comida/charcutaria deparei-me com uma senhora que tinha idade para ser minha avó.

“Menina, está ali uma coisa a olhar para mim e eu a olhar para ela”, diz.
“O quê?”, pergunta a funcionária.
“Os torresmos. São a minha tentação. Dê-me uns cinco assim mais para o mole”, pede.
“Está bom?”, pergunta a funcionária, depois de escolher os cinco de acordo com a preferência da cliente.
“Meta mais. Quantos mais meter mais como”, refere.

Depois de ter sido atendido fui para a caixa. Como ainda era cedo estava apenas uma a funcionar. A fila começou a ficar grande e decidiram abrir outra. Como acontece nestes casos o funcionário disse: “podem passar, por ordem, a esta caixa”. E como acontece nestes casos, não há ordem. É o salve-se quem puder com algumas pessoas a correrem como quem foge de um incêndio. Isto para passar à frente dos outros.

O homem que estava à minha frente deveria ser o primeiro cliente. Mas deixou que lhe passassem à frente e comeu e calou. Acabei por ser eu a dizer, em voz, alta: “foi dito que era por ordem”, o que levou a que o funcionário olhasse para mim, perguntando se era o primeiro. Expliquei que não, que era o senhor que estava à minha frente, que acabou por ser atendido em primeiro. Para tristeza dos dois chico-espertos que tentaram passar à frente.

As pessoas que tentaram tirar vantagem desta situação podem ser divididas em dois grupos. A primeira pessoa era um homem idoso que fez o que é habitual em muitos idosos: tentar passar à frente de um modo que a pessoa fica na dúvida se é sem querer ou se é propositado. A outra pessoa era uma mulher que defino como cliente estúpida. É aquela pessoa que passa à frente com a sua (e apenas sua) certeza estúpida de que não passou à frente de ninguém. E que decide discutir quando é chamada à atenção.

O senhor idoso não refilou. Aguardou pela sua vez. Já a mulher deu início a um monólogo que não tinha fim. “Eu não sou isto”, “eu não sou aquilo”, “tenho a certeza de que era eu”, “estou com crianças”, entre muitas outras coisas com algumas a roçar um lastimável estado de estupidez. E falava sem parar, mesmo sem que ninguém lhe dissesse nada. A vantagem de lidar com pessoas do calibre desta senhora antes das nove da manhã é saber que a partir dali o dia é sempre a subir.

8 comentários:

  1. É vê-los todos a correr quando a caixa abre...parecem animais (e são, umas bestas!!) Mas fiquei colada na senhora dos torresmos. É bom ver que as pessoas ficam tão satisfeitas com coisas tão simples(e a ganza que fuma para ver os torresmos a olhar para ela, é da boa e recomenda-se).

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    1. O momento dos torresmos foi muito bom. Até as funcionárias se estavam a rir. O resto... é isso mesmo. E não mais do que isso.

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  2. Eh pá, eu sei que vou pagar bem caro, mas velhos (ok, também tenho gente velha na família) em "hora de ponta" não dá. Com tanta hora que existe no dia, insistem em ir quando todas as outras pessoas têm pressa. E quando lhes dá para passear em dias de greve de metro? Um must!!!!

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  3. Há pessoas realmente muito parvas, e em todo o lado, infelizmente.

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  4. E agora lembrei-me de uma situação que envolve filas de supermercado e pessoas que querem e se acham no direito de passar à frente.

    Estava eu a um domingo à tarde no Lidl. Sendo domingo à tarde, havia imensos clientes e as filas eram grandes, estavam inclusive várias caixas abertas. A dada altura, olho para trás e reparo em dois senhores atrás de mim que estavam juntos, e atrás deles estava uma senhora com uma criança ao colo, devia ter uns 3/4 anos.

    Tanto os senhores como qualquer outra pessoa via que a senhora estava com a criança ao colo, pois ela bufava como gente grande de segundo em segundo, provavelmente para ver se alguém a deixava passar à frente.

    Começo a reparar que um dos senhores estava a olhar para cima, em várias direções, mas não percebi muito bem o que pretendia. Até que este se vira para a senhora e diz:

    Senhor: Desculpe, sabe que a caixa prioritária é a primeira. Aquela ali (enquanto aponta), e última de lá.

    O senhor virou-se para a frente e disse para o outro senhor:
    Senhor: Haja paciência.

    A senhora ficou sem resposta e parou de bufar. Ao menos, os longos minutos em que estivemos todos na fila, foram sossegados e sem aquele bufar desagradável que a senhora fazia questão de fazer de segundo a segundo, a ver se alguém sentia pena dela e a deixava passar à frente.

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