23.12.15

não confundir o cu com as calças (ou pessoas com sistema)

O recente caso ocorrido no Hospital de São José, que infelizmente roubou a vida a um jovem de 29 anos, gerou uma onda de indignação nacional. Por um lado enalteço a indignação das pessoas porque isso provavelmente, e assim espero, ajudará a que este triste e trágico caso não se repita. Não faz sentido que alguém perca a vida simplesmente porque não estão médicos de serviço. Não faz sentido em Portugal como não faz sentido em nenhuma parte do mundo.

Por outro lado é importante que as pessoas não confundam o cu com as calças. Neste caso específico, pessoas com o sistema. Tenho ouvido muitas pessoas falarem mal dos médicos. Sendo que esta crítica é logo aumentada a um nível geral. E isto é injusto. Porque a verdade é que muitos médicos em Portugal fazem pequenos milagres tendo em conta as condições em que trabalham e tendo em conta o sistema em que estão inseridos. E é necessário saber separar as coisas.

Dou este exemplo porque é o mais próximo que posso ter. A minha mãe lidou com um cancro da mama. Foi sempre acompanhada num hospital público. E apanhou um médico que mais do que isso é um verdadeiro anjo. Mas trata-se de um homem brasileiro (acho piada às pessoas que criticam apenas tendo por base a nacionalidade) que luta contra o sistema. Um homem para quem uma urgência é isso mesmo. Um homem que confia mais nos papéis do que nos computadores. E um homem que faz frente a quem se deixou vencer pelo sistema.

E também posso dar o exemplo do meu internamento e operação este ano. Nas duas vezes que fui às urgências deparei-me com uma médica com quem acabei por discutir e que me deixou a uma curta distância de apresentar queixa no hospital. Mas, durante o internamento e operação, só tenho elogios para distribuir por todas as pessoas que me acompanharam. E recordo-me, naquela altura, de muitos médicos que estavam prontos para operar mas que adiavam operações porque infelizmente não existiam anestesistas.

Quando me refiro a sistema não estou a falar do nosso sistema de saúde. Porque qualquer médico/pessoa que tenha estado em diferentes países acaba por dizer que o nosso não é dos piores. Aliás, está muito longe de ser dos piores. O grande problema é o sistema em si. É o funcionamento das coisas, algo que está acima das pessoas. E algo que não é fácil de combater. E isto é que é triste. Não as pessoas mas o funcionamento das coisas.

12 comentários:

  1. Perante este caso apenas desejo que seja aberto um inquérito e responsabilizado quem por direito! Não podemos nem devemos generalizar mas este caso como tantos outros não devem ficar impunes...e a realidade é que nos últimos anos houve cortes exagerados em sectores chave do nosso país...a saúde foi um deles!

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    1. Desejo o mesmo. Só defendo que não podemos atacar imediatamente os médicos.

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  2. Num ranking da Organização Mundial de Saúde (http://thepatientfactor.com/canadian-health-care-information/world-health-organizations-ranking-of-the-worlds-health-systems/), Portugal é o número 12 (em 190). Eu diria que isso é muito bom!

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    1. É mesmo muito bom! E quem já lidou com outros sabem bem o que isso é.

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  3. Em linhas gerais tens razão, mas...? Pois, a adversativa é que estraga isto.
    O funcionamento das ditas coisas não é da responsabilidade de pessoas, "pessoinhas" que têm OBRIGAÇÃO de saber gerir/orientar/organizar/programar o serviço? E atenção à pirâmide, olha que não é pequena.

    Bom Natal. Bom 2016, de preferência sem lesões. :)

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    1. Existem pessoas que devem ser responsabilizadas mas não devemos criticar imediatamente os médicos. É verdade que existem médicos muito maus (qual a profissão que não tem maus profissionais?) mas existem outros muito bons.

      Espero que seja mesmo sem lesões. Até porque o regresso às corridas está para breve :)

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  4. Triste é não existirem médicos de serviço apenas porque acham que não são bem pagos, estão se nas tintas se está alguém a morrer ou não! Onde está essa vocação? Só foram para medicina pelo estatuto e provável boa remuneração? É para isto que entram com médias altíssimas mas com desdém pela vida humana?! Acho repugnante!

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    1. Tudo isto gera muitas discussões. Essa poderá ser uma delas. Acho que tudo aumenta de escala com os médicos porque envolve a saúde dos outros. Pegando no teu exemplo, ninguém irá criticar um mecânico por querer mais dinheiro. Infelizmente tens razão quando dizes que existem médicos que só olham para o dinheiro mas acredita que existem muitos que se desdobram em trabalhos aqui e ali pela tal vocação de que falas. Infelizmente, existe um facto de sorte quando necessitamos de um médico. E isto também se aplica ao privado pois já vi casos destes com médicos que deixam muito a desejar.

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  5. Sim, não deixo de concordar contigo. Mas quem é que criou e muda o sistema, não são pessoas? Logo, a culpa é das pessoas sim, pode não ser dos médicos, mas é sempre nossa, das pessoas.

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    1. Tens razão. Só defendo que não devemos colocar os médicos todos no mesmo saco.

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  6. Tem muita razão. Há casos em que as condições até existem, mas por uma ou outra razão não funcionam. espero que apurem responsabilidades. Uma só vida perdida já era uma grande perda, quanto mais que se descobriram outros casos pela mesma razão.
    Minha sogra também foi tratada num hospital público, por um médico espanhol, e foi sempre muito bem tratada.
    Um abraço e dias felizes.

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    1. Vou dar o meu exemplo. Gabo o nosso sistema de saúde. Mas não me esqueço de que apanhei uma médica péssima nas urgências e que no hospital tive de me limpar a uma bata porque não existiam mais toalhas e o rapaz que estava na cama ao lado da minha teve de dormir com uma almofada que os pais trouxeram de casa.

      Abraço

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