27.11.15

odeio meninos ricos e mimados. gosto deles pobres e famintos

Gosto muito de ver a versão Norte-Americana de Shark Tank. É um dos poucos programas, dentro deste género, que me leva a consumir diversos episódios sem me cansar. Até sou capaz de rever sem qualquer problema. Considero que é uma das formas de aprender diversos aspectos sobre o complicado mundo empresarial. Dá para aprender alguns truques tal como dá ficar a saber quais os erros a evitar e aquilo em que pensar no momento de avançar com uma ideia.

Recentemente fiquei fascinado com dois negócios. O do jovem casal que criou uma loja de roupa e acessórios online em que 80% dos artigos têm um valor inferior a 50 dólares. Negócio este que em pouco tempo já tem vendas no valor de oito milhões num ano. E com o grupo de amigos que decidiu dar uma nova imagem aqueles óculos que as pessoas usam em ambiente de festa e que também têm vendas de quase seis milhões de dólares num ano.

Noutro domínio, fiquei um pouco desiludido com Barbara Corcoran e com uma ideia que fez questão de partilhar com dois jovens que criaram um artigo bastante útil (uma espécie de toalhete que em segundos retira o odor, por exemplo de comida, da roupa e mesmo do cabelo). Os irmãos revelaram que tinham um sócio que tinha investido dois milhões de dólares na empresa. Acabaram por revelar que o sócio era o pai, um grande empresário norte-americano.

Esta foi mais ou menos a reacção de Barbara. “Sinto-me mal em vos dizer isto mas, por uma questão de principio, não invisto em meninos ricos (…) O maior privilégio que tive foi o empréstimo de mil dólares com o qual tinha de tentar a minha sorte (…) O vosso maior problema é terem um pai rico, mesmo o culpa não sendo vossa. Adoro que os empresários em que invisto sejam pobres, famintos e desesperados”, explicou antes de desistir da ideia.

Este modo de pensar chocou Robert Herjavec e Lori Greiner (que investiu no negócio). O croata disse mesmo que aquele modo de pensar era um total disparate pois segundo aquela ideia os seus filhos nunca poderiam ser bem sucedidos apenas porque o pai é rico. E disse algo como “o sucesso está a marimbar-se para quem é o vosso pai”. E basicamente é isto. Até porque é um assunto que não pode ser separado desta forma.

Uma pessoa pobre e desesperada não é necessariamente um melhor funcionário. Tal como um empresário que seja filho de um homem rico não tem de ser necessariamente um menino mimado que está a brincar aos empresários. Conheço pessoas que não sendo ricas estão a marimbar-se para os empregos que têm, desperdiçando em muitos casos o grande talento que têm. Tal como conheço pessoas que têm pais ricos e que fazem os possíveis para não serem associadas ao nome dos pais. Pessoas que lutam para triunfar longe da sombra de um apelido. Tentar colocar todas as pessoas no mesmo saco revela apenas preconceito.

6 comentários:

  1. Também gosto bastante da versão norte-americana do shark tank. Ainda que em geral concorde com a tua apreciação (sumariada no último parágrafo), penso de forma diferente relativamente a este episódio em particular. Não o vi, refiro-me apenas à tua descrição, pelo que a minha interpretação pode não ser a mais ajustada, no entanto parece-me que neste caso os dois jovens não são exactamente os mais despachados, empreendedores e competentes. Tiveram uma ideia, boa por sinal, e receberam um investimento de dois milhões (vamos esquecer por um instante que veio do pai). Apesar dessa "mão na roda" e de terem em casa um empresário bem-sucedido, não conseguiram fazer com que o investimento fosse suficiente para fazer toalhetes?... Fica no ar a sensação de má gestão do dinheiro, que pode advir do facto de lhes ter sido fácil angariar esse valor (já que veio do pai). Apesar da Barbara ter um bolso grande, continua a ter um fundo (ou um tecto de investimento pré-definido), o que pressupõe escolhas: se investe nesses miúdos, não investe noutros com menos oportunidades e conexões. E nessas circunstâncias, na posição dela, eu também não apostaria as minhas fichas nestes jovens. Não pelo pai ser rico (em jeito de punição), mas por o pai ter um bolso fundo-o-suficiente para os ajudar, ser um professor-à-disposição e ainda um mediador de conexões empresariais já estabelecidas. Se os irmãos não souberem aproveitar tudo isso (essa rede já conhecida e acessível de possíveis investidores, os ensinamentos sobre como se apresentarem para receber investimento, e o que priorizar no processo de tornar a ideia num produto), não podem ser muito espertos/competentes. Para completar a ideia, e juntando aqui um pozinho de conspiração, quase aposto que (não o Robert, mas) a Lori apostou nos miúdos principamente por antecipar a vantagem que lhe traria o contacto com o grande empresário que é o pai deles, e não necessariamente por achar esta ideia e o percurso dos jovens genial.

    Tem um belo fim-de-semana :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não existe má gestão. Existem vendas superiores a 500 mil dólares num ano. E existe uma reunião agendada com o maior retalhista mundial em breve numa área em que o nome do pai (isso foi perguntado) não lhes garante uma boa negociação. Daí necessitarem de um parceiro estratégico, no caso Lori.

      Eles só falaram do pai porque perguntaram quanto dinheiro tinha sido investido. Falaram em dois milhões (sem revelar o investidor) e o valor fez com que perguntassem quem tinha dado o valor. Disseram um familiar. Insistiram e acabaram por dizer o pai. E o pai não deu o valor, comprou parte da empresa pois é sócio. Se fossem pessoas a brincar às empresas pediam mais dinheiro ao pai em vez de ir ali.

      Mas ela tem toda a legitimidade em escolher os empresários e em ter critérios como ter ou não dinheiro para criar algo. Depende sempre dela. Só acho que é um preconceito que não tem uma lógica associada.

      Bom fim-de-semana :)

      Eliminar
  2. Adoro ver o Shark Tank, e como tu, não me canso de ver.
    Vi esta apresentação dos dois irmãos, óbvio que não gostei do modo como os trataram, pensei que ninguém os ia apoiar, mas correu bem.
    Por vezes, fico indignada com alguma crueldade que os tubarões usam, mas fazem o seu papel.
    O que é certo, é que eles são pessoas de sucesso.
    Brevemente, vem a 2ª temporada dos nossos tubarões, vamos ver o que como vai ser.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. No geral gosto dos comentários deles. Mas já existiram alguns comentários mais polémicos e menos simpáticos como foi o caso.

      Eliminar
  3. Concordo, há que separar as águas, e se a ideia é boa, pouca importa o resto.

    ResponderEliminar