1.10.15

orgulho sem ter de engolir sapos

Recuando até Julho encontro muitas pessoas que falavam mal de Rui Vitória. Parecia que a saída de Jorge Jesus do Benfica representava uma espécie de apocalipse para os encarnados. Encontro muitas pessoas que diziam que era impossível ter bons resultados a jogar com miúdos da formação do clube. Encontro ainda pessoas que diziam que Rui Vitória tinha errado ao dar a titularidade a Nelson Semedo no jogo da supertaça. Encontro ainda pessoas que defendiam que o Benfica jogava um futebol horroroso que não era mais do que os restos tácticos deixados pelo auto-intitulado cérebro do clube.

Enquanto ouvia estas opiniões mantinha a minha ideia de que Rui Vitória é um treinador competente. Defendia também que o problema era a pré-época que implicava passar um mês longe de Portugal, algo que não seria um problema com um treinador com seis anos de casa. Defendia que aprecio as equipas compactas de Rui Vitória que raramente se partem durante o jogo conseguindo manter uma interessante organização táctica e posse de bola. E revelava-me feliz por ver o treinador apostar em Nelson Semedo em jogos de risco. Porque são os jogos que todos os jogadores querem jogar e no qual se sentem à vontade, por maior que seja a pressão.

A época iniciou-se e o Benfica tem vindo a crescer de jogo para jogo. Ontem realizou um jogo muito interessante num dos estádios mais complicados da Europa. Aliás, basta recordar o número de jogos sem perder do Atlético de Madrid em casa bem como os jogos sem sofrer golos para as competições europeias. O Benfica virou o jogo, com alguma sorte, não nego. Mas a sorte também faz parte. Mais do que isso, foi uma equipa como há muito não se via na Liga dos Campeões. Nelson Semedo faz com que ninguém se lembre de Maxi Pereira. E este é o melhor elogio que pode ser feito a um jogador que substitui outro. Jonas é um jogador com uma inteligência rara. Quando alguém pensa em algo, Jonas já teve esse pensamento há largos segundos. Luisão, o “velho”, revelou-se um líder. Gaitán foi Gaitán, com a magia que nasce dos seus pés onde a bola pode chegar a chorar mas sai de lá sempre a sorrir.

E depois existe Gonçalo Guedes. Que representa um sonho para todos os miúdos que fazem parte da formação do Benfica. Pelo simples facto de que jogou em todos os escalões das camadas jovens antes de brilhar com a camisola da equipa principal. Este jogador (Nelson Semedo também) passa a ser um exemplo para centenas de jovens que estavam habituados a ouvir que tinham de nascer dez vezes para chegar ao plantel principal do clube que representam e onde sonham jogar com a camisola da equipa principal. E que só jogam porque o clube mudou.

Neste momento sei apenas que o clube que amo enriqueceu, contas por baixo, 16 milhões de euros. 14 de acesso à Liga dos Campeões e mais dois, um por cada vitória. Sei também que temos quase tantos pontos para o ranking europeu como aqueles que fizemos no ano passado. Sei que vejo o meu clube recuperar um pouco da identidade nacional apostando em jogadores portugueses (ontem foram quatro de início e cinco a terminar o jogo). Não sei se o Benfica será campeão. Não sei se vai ganhar algo. Mas sei que sinto um orgulho imenso por ser do Benfica. Sei também que não preciso de engolir sapos em relação ao que andava a dizer em Julho. E sei ainda que se o empenho e dedicação forem os mesmos de ontem, irei sentir sempre orgulho com ou sem a conquista de troféus.

PS – Sinto também orgulho nacional por ver o Porto derrotar o milionário campeão inglês. Sinto orgulho nacional por ver o Belenenses jogar nas competições europeias apenas com portugueses (aliás, o plantel é composto apenas por portugueses). E por ver um treinador português – Marco Silva – ir ganhar ao Arsenal a Inglaterra e ter outro – Paulo Sousa – em primeiro no campeonato italiano. Por fim, boa sorte para as equipas portuguesas que vão hoje a jogo. Que ganhem os seus jogos.

6 comentários:

  1. Tirando a parte do FCP, não poderia estar mais de acordo com a tua análise. Ok, a do FCP também, vá...!!!

    Saudações benfiquistas

    PL

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  2. Tens orgulho de tudo e de todos menos do SCP e do JJ...
    Tens 2 miudos na tua equipa e ja os estas a endeusa-los mas esqueceste-te dos vários miudos que o SCP lançou e que brilham no SCP, na seleção e ate nos rivais... mas isso pouco vale porque não é o SLB a faze-lo...
    E para terminar o Sá Pinto tambem ganhou ao City... e não é por isso que é considerado um grande mister...

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    1. Se ganhar hoje terei o mesmo orgulho em relação ao Porto. Tão simples quanto isso.

      A análise que fazes em relação aos miúdos lançados pelo Sporting deve ser feita por um sportinguista e não por mim que sou do Benfica. Só posso sentir essa evolução no meu clube que passou de não ter portugueses para jogar com vários oriundos da formação (alguns deles).

      Voltando um pouco atrás, deixei bem claro que não sei como a época vai terminar. Agora, se os jogadores tiverem o empenho de ontem, estarei sempre satisfeito enquanto sócio e adepto. E não estou a endeusar Nelson Semedo nem Gonçalo Guedes. Mas sei reconhecer que com JJ dificilmente jogavam. Isto é um facto. Tal como provavelmente Nelson Semedo não jogava se houvesse Maxi.

      Quanto ao JJ. É um grande treinador. Disso não tenho dúvidas. Mas, e ao contrário do que muitas pessoas defendem, não inventou o futebol. Apenas isso.

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    2. "Mas, e ao contrário do que muitas pessoas defendem, não inventou o futebol."

      Defendem não... defenderam. Durante 6 anos.

      (ainda a procissão vai no adro... acalmemo-nos todos)

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    3. Não é o facto de eventualmente ser campeão no Sporting que lhe confere o título de inventor do futebol português. Tal como também não merece esse título por ter sido campeão três vezes no Benfica. Clubismos à parte, é um bom treinador. Não perdeu qualidades por ter saído do Benfica. Tal como não deixou de ter defeitos por ter assinado pelo Sporting. E aposto que ainda irá ao Porto. E mesmo assim continuará a não ser o inventor do futebol português. Até porque se assim fosse, o que dizer de José Mourinho, apenas para citar um nome.

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