14.9.15

falar da sexualidade de forma aberta

A fisioterapia caminha para o final mas continuo a fazer amigos. O mais recente é um senhor com idade mais do que suficiente para ser meu pai. Foi o senhor que motivou este texto onde contei que me foi perguntada a idade sendo que para este senhor ainda estava nos vinte e qualquer coisa. É um daqueles senhores que gosta de conversar e que tem sempre histórias para contar. Por isso, enquanto estamos à espera para iniciar o tratamento (e quando partilhamos o gabinete) é comum estar a ouvir as suas histórias.

Trata-se de um senhor que fala sobre tudo sem qualquer problema. Por exemplo, já sabia que é viúvo, algo que surgiu numa conversa. Hoje começou por falar de uma fase menos feliz da sua vida em que nem apetite tinha. “Estava morto”, disse, explicando que o morto dizia respeito à falta de apetite e praticamente aquilo que considerava não ser viver. “Até perdi as minhas amigas todas”, desabafou. “Isso é que é pior”, respondeu a fisioterapeuta que me trata e que estava connosco no gabinete.

“São apenas amigas”, apressou-se a justificar. “Podemos ter amigas de coração”, explica. “São amigas com quem bebemos um café ou vamos dançar”, disse. “Não estou a insinuar nada”, gracejou a fisioterapeuta. “Mas perder as amigas não é bom”, insistiu. “Mas já recuperei uma”, revelou o senhor. “Até me convidou para ir passar quinze dias à sua casa no Algarve, onde vive”, contou. “Disse que até podia levar o meu neto”, acrescentou. “E agora vai levar o neto. Isso assim não tem jeito”, brincou a fisioterapeuta.

“Isso não é assim”, disse o senhor. “Ela diz que tem uma grande consideração por mim pois fui o único que não lhe quis subir para a burrinha logo à primeira oportunidade”, confessou motivando uma gargalhada geral. “A nossa relação vai fluindo e quando tiver de ser é. Quando acontecer, acontece”, diz. Neste momento junta-se um amigo do senhor (e também paciente da clínica) à conversa. “Continua a fazer as coisas assim que vais bem”, disse o amigo. “Deves ser tu que fazes as coisas bem”, responde. “Já fiz as coisas bem. Já fiz. Agora não”, referiu o amigo em forma de lamento mas com um ar divertido. Nova gargalhada geral.

Gosto de pessoas que falam assim, de forma leve, aberta e divertida, sobre qualquer assunto. E não confundir isto com aquelas pessoas que explicam detalhadamente a toda a gente aquilo que fizeram ontem à noite com a(o) colega da secção do lado pois são coisas completamente distintas.

6 comentários:

  1. Muito bom! E essa geração que quando eram novos não podiam falar de nada. Sabe bem ouvir,sim ; )
    Mata Hari

    ResponderEliminar
  2. E vindo de uma pessoa já com alguma idade, tem ainda mais piada :)

    ResponderEliminar