3.9.15

desejava tanto este dia que agora tenho medo dele

Tenho de recuar até 29 de Abril para encontrar o último dia em que corri, uma das coisas que mais gosto de fazer e uma das coisas das quais retiro mais prazer. Ainda por cima quando envolve uma bola de futebol. Corridas, duas balizas e uma bola de futebol são mais do que suficientes para me fazer feliz. E não tenho isso, nem corridas sem bola, desde o dia em que me lesionei, acabando no bloco operatório.

Desde então, sobretudo desde que iniciei a fisioterapia, que conto os dias para voltar a correr. Conto os dias para que alguém me diga "vamos correr". A vontade é tanta que até puxei conversa com a fisioterapeuta em diversas ocasiões. "Quando é que posso correr?", perguntei. "Isso só lá mais para a frente", respondia-me. Desde o início (e já vou conhecendo a minha fisioterapeuta) que percebi que as suas respostas, principalmente quando envolvem datas para isto ou aquilo, são sempre alargadas. E ainda bem que o faz. Prefiro assim do que me diga que posso fazer isto ou aquilo amanhã e depois chega esse dia e não consigo. Prefiro uma meta longa que é superada antecipadamente do que uma meta curta que me desilude em caso de fracasso.

Como tal, há muito que meti na cabeça que só lá para Novembro, altura em que passam seis meses da operação, é que ia voltar a correr. Só nessa altura é que voltaria a juntar-me às pessoas que vejo a correr na baía perto da minha casa. E mentalizei-me de tal forma que nem estava triste com isso. É assim que tem de ser, é assim que é. Tenho tempo para correr nessa altura. Até que hoje tudo mudou.

"Bruno, vais experimentar correr, pode ser?", diz-me a fisioterapeuta. "Como? Correr? Já?!?", perguntei ainda meio atordoado por ouvir algo que esperava ouvir daqui a dois meses. "Sim, agora. Mas não corras em alcatrão nem durante muito tempo. Tenta correr em areia e a direito num piso regular", diz-me. "E relva?", perguntei. "É melhor não porque pode ter algum buraco que não se vê", explicou-me. E assim chegou o dia que tanto desejava mas que não esperava chegar tão cedo.

E desejava tanto este dia que agora tenho medo dele. "Correr? Já?", pergunto vezes sem conta a mim próprio. Não coloco em causa o valor da fisioterapeuta mas é mesmo o medo que se mete comigo. "Será que o tendão está pronto para correr?", pergunto a mim mesmo vezes sem conta. E neste momento a balança está equilibrada. Tanta é a vontade de correr como o medo de dar o primeiro passo. Tanta é a vontade de correr como o medo da dor do impacto. Tanta é a vontade de correr como o medo de sentir o tendão a ceder novamente.

E o medo só vai deixar de mandar em mim quando decidir dar o primeiro passo de corrida. E o primeiro passo de corrida só vai acontecer quando o medo de o fazer desaparecer. Até esta altura já enfrentei diversos medos. É o alongamento mais puxado. É o andar sem nada. É o subir escadas. É o descer escadas. É o agachamento apoiado apenas na perna direita. É o andar em bicos de pés. Mas este medo é "O" medo. Acima deste só voltar a jogar futebol e voltar a experimentar os movimentos repentinos e explosivos da modalidade, algo que para já não me passa pela cabeça. Agora não há nada a fazer. É tudo entre mim e o medo. E não sou eu que vou perder. Recuso-me a perder.

14 comentários:

  1. Vais conseguir perder o medo e tudo vai correr bem =) Muita força!

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    1. Corri coisa de 100 metros e correu muito melhor do que esperava :)

      Obrigado!

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  2. Boaaaa... agora só tens de enfrentar esse medo e procurar o tal piso de areia (praia?) para dares os primeiros passos de corrida! Força! Vai ser um momento libertador com toda a certeza! Beijinhos

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    1. A ideia é essa. Dar umas corridas na praia :)

      Obrigado pelo apoio.

      Beijos

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  3. Força, tenho a certeza que és capaz, és um lutador :)

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    1. Os primeiros metros em corrida não correram mal mas ainda existe muito medo :)

      Obrigado

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  4. Tenho a certeza que vai dar uma cabazada ao medo hehe São boas notícias,fique contente e corra com o coração mais leve porque está tudo a correr bem : )) Mata Hari

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  5. Acredito que não deve ter sido fácil para ti tanto tempo sem correr. Eu próprio gosto imenso de caminhar e correr. As pessoas daqui da zona quando me vêm a correr dizem-me sempre, sarcásticas, "andas a correr não sei para quê! Estás muito gordo!". Ignorantes, logo penso. Mal elas sabem o quanto me sinto bem depois de uma corrida, é um libertar de stress, uma liberdade inexplicável...
    O desporto faz bem a qualquer pessoa, seja gorda ou seja magra.

    Ainda bem que tudo está bem, fico feliz por ti :)

    www.pensamentoseepalavras.blogspot.pt

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    1. O que me custou mais foi estar seis semanas sem meter o pé no chão. Quem corre sabe bem o que pretendes dizer com liberdade inexplicável porque é mesmo isso.

      Obrigado :)

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