23.6.15

valorizar o banal e ignorado

Existem coisas às quais ninguém liga nenhuma. Coisas que fazemos diariamente com a maior naturalidade. Coisas tão simples como tomar um banho. Mais demorado para quem gosta de ficar na banheira até que a água arrefeça. Ou mais rápido. Um duche para os mais apressados. É certo que muitas pessoas dizem que sabe bem um banho depois de um dia quente, depois de uma corrida ou outra actividade desportiva qualquer ou mesmo depois de um dia de trabalho. É algo que sabe bem. Mas não é valorizado porque é algo comum que se faz com naturalidade. 

Ao longo das últimas sete semanas não consegui lavar a minha perna direita do joelho para baixo. No dia em que me lesionei fui ao hospital e saí de lá com gesso. Que só saiu na mesa de operações, dando lugar a outro ainda mais volumoso do que o anterior. Que só me foi retirado ontem. Mesmo assim, com a indicação de só poder lavar a zona da cicatriz hoje. 

Ao longo deste tempo tomei banho sentado. Em pé. A ter de saltar para entrar em algumas cabines. Com ajuda. Sem ajuda. Até fui proibido de tomar banho em alguns dias. Mas sempre com um saco de plástico a proteger o gesso e ligadura que ainda ficou molhada em algumas ocasiões. Acabava o duche sempre com a preocupação de secar imediatamente a perna de modo a que a água não fosse para a perna (por mais que quisesse que fosse). E ao longo destes longos dias só pensava no momento de lavar a perna em condições e acabar com o processo dos sacos e fitas adesivas.

Até que hoje tive a possibilidade de tomar um banho em condições. Sem gesso nem pensos. E soube-me pela vida. Nunca na minha vida tinha valorizado tanto um banho. Nem naqueles dias em que estou muito transpirado depois de um treino ou jogo. Nem naqueles dias de 40 graus. Nem no dia mais cansativo de trabalho. Hoje foi o banho mais valioso de sempre. E não o trocava por nada. 

Por mais ridículo que isto possa soar, e talvez seja melhor compreendido por quem já passou por algo semelhante, era quase como quando alguém está num primeiro encontro com a mulher dos seus sonhos e quer aproveitar cada segundo tentando que tudo seja perfeito para ambos. Ou como aquele momento em que se despe a noiva e que tudo tem de ser perfeito. E é por isto que valorizei como nunca antes uma coisa tão simples (para a maioria das pessoas) como um banho.

14 comentários:

  1. Passei pelo mesmo. Estive um mês presa a uma cama de hospital a tomar banho "à gato" e mais um mês em casa com gesso da cintura para baixo e mais banho "à gato". Aquele momento que entrei numa banheira com água quentinha soube-me pela vida e tal como dizes passamos a dar outro valor às pequenas coisas do dia a dia.
    Ana

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  2. Tomamos tudo como garantido e depois a vida troca-nos as voltas e só assim reconhecemos e damos o devido valor às coisas.
    O meu irmão costuma dizer que somos ricos e nem damos conta. Isto porque, já fez diversas viagens a países onde pouco existe, e comprar coisas que aqui são banais lá custavam imenso..

    B

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  3. É algo tão humano... Só damos valor as coisas que perdemos(mesmo que temporariamente)

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    1. É nessa altura que percebemos o valor e que percebemos que nada está tão garantido como acreditamos.

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  4. LOL É tão verdade!!! E como tocaste no banho fez-me rir ainda mais... e passo a explicar... aqui em Buenos Aires, uma coisa super banal e impensável quase para nós portugueses não ter aí, são os chuveiros de mão, ou seja tens o chuveiro fixo e depois, muitos até, tens a possibilidade de o tirar e meter na mão, entendes o que digo? Pois que aqui isso é uma visão de evolução de luxo quase!!!! :S Pensamento comum "não te faz tanta falta assim também"..... faz, e faz MUIIIIITA!!! Então para lavar o cabelo comprido credo!!!! E com a pouca pressão que regra geral têm sempre, até nos hotéis de 5 estrelas é assim... Sempre que vou a Portugal e posso tomar um banho na minha banheira sabe-me pela vida!!! No primeiro que tomo devo ficar uns 30 / 40 min à vontade a tomar banho!!! :P lolol
    Boas leituras!:)

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    1. Aquilo que me irrita mesmo é a falta de pressão. De resto, tudo bem!

      Boas leituras :)

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  5. Bem-vindo ao grupo dos desengessados, novamente ;) Celebramos contigo :-)

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    1. Agora é o grupo do robocop mas já não tem nada a ver porque é "quase" andar normalmente mas com muletas :)

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  6. Só hoje li este post... e entendo-te perfeitamente.
    Tive um internamento longo, longo demais até...e lembro-me que a primeira vez que tomei banho sem ajuda até chorei. Depois recordo-me que demorei 35 minutos para conseguir atar os atacadores dos ténis e senti-me uma vencedora!
    É muito bom termos a capacidade de valorizar estes gestos que são tão banais que passam despercebidos.
    Agora espero é que recuperes totalmente. :-)

    http://ofabulosodestinodemariaamelia.pt/

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    1. São coisas às quais não ligamos nenhuma e que em determinados momentos valorizamos imenso. Espero que tenha ficado tudo ok contigo :)

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  7. Só sentimos falta, quando perdemos, e é bem verdade.

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