15.6.15

eu vs o outro

Eu sei tudo sobre a vida do outro, mesmo que não o conheça. 
O outro nada sabe sobre a minha, mesmo que me conheça. 

Eu sei tudo o que move o outro. 
O outro só dá palpites errados sobre as minhas intenções. 

Eu estou sempre certo, mesmo quando não estou. 
O outro está sempre errado, mesmo quando não está. 

Eu faço críticas construtivas. 
O outro não sabe do que fala quando me critica. 

Eu tenho sempre bom gosto. 
O outro tem sempre um péssimo gosto. 

Eu não tenho telhados de vidro. 
O outro que nem experimente atirar uma pedra ao ar. 

Eu estou sempre bem. 
O outro está sempre mal. 

Eu sou humorista e sarcástico. 
O outro é mal educado e não tem graça quando faz piadas. 

Eu nunca estou errado. 
O outro nunca está certo. 

Eu digo que é azul e tem de ser azul por mais que o(s) outro(s) diga(m) que é vermelho. 
O outro diz que é azul mas tem de ser vermelho porque é o que eu quero, por mais que o(s) outro(s) digam que é azul. 

Eu ensino e sou um excelente professor. 
O outro nada tem para me ensinar e quando tenta é péssimo. 

Eu dou os melhores conselhos. 
O outro só mostra o caminho errado. 

Eu estou sempre pronto para ajudar, mesmo quando não me apetece. 
O outro nunca está disponível para mim, por mais que esteja. 

Se isto fosse um género de teste aposto que quase todas as pessoas optavam por colocar uma cruz nas opções do eu. Porque as pessoas estão sempre bem. O "eu" é imune a tudo aquilo que se critica ou aponta em relação ao "outro". Por mais que os cenários sejam os mesmos, por mais que a única diferença seja o perfume, o "eu" está sempre no patamar mais alto. Enquanto o "outro" está sempre no fundo, num local recôndito. Quando na realidade o "eu" e o "outro" estão muitas vezes no mesmo patamar. Ou, em alguns casos, o "outro" está melhor cotado do que o "eu". A diferença está nos olhos de quem vê, no reflexo que vislumbra no espelho e na capacidade de perceber a realidade que o rodeia. 

6 comentários: