16.6.15

as bolas de que infelizmente poucos falam

Tenho um encanto especial pelo ténis de mesa. Foi uma das modalidades que pratiquei antes de começar jogar futebol. Recordo com saudades os treinos na minha antiga escola primária. Recordo-me de todos quererem treinar contra mim por causa de ser canhoto. Lembro-me da minha Rucanor com que treinava. Rio-me quando me lembro de que o único jogo que ganhei (apesar de só ter feito dois) foi porque o adversário faltou, no torneio Dartacão (se a memória não me falha) e penso diversas vezes nas palavras do meu treinador que me disse que era uma pena desistir da modalidade pois facilmente, aos seus olhos, chegava, no mínimo, a campeão distrital. De resto foi uma modalidade que sempre me acompanhou, quer fosse nos jogos com os amigos quer nos momentos antes dos jogos de futebol, algo que servia para relaxar. 

Recentemente voltei a ter um contacto mais intenso com a realidade desta modalidade de que gosto. Enquanto jornalista fiz um trabalho, que infelizmente e com muita pena minha nunca foi publicado, sobre a modalidade, já depois de Portugal se ter sagrado campeão europeu por equipas da modalidade, num evento desportivo disputado em Portugal, no Meo Arena. Fui à Federação, estive à conversa com o presidente, conheci a realidade e só me faltou falar com os atletas que já não estavam em Portugal pois não havia tempo para grandes festejos porque tinham competições nos dias seguintes. 

Desenganem-se aqueles que pensam que a Federação é um edifício "luxuoso", ao estilo de muitas outras. Desenganem-se aqueles que pensam que estão lá dezenas de funcionários, ao estilo de muitas outras. Trata-se de um andar antigo mas espaçoso e estavam lá poucas pessoas. Recordo-me de que estavam cheios de caixas, de coisas como bolas, que tinham sido utilizadas no evento desportivo que organizaram. E estavam lá, se não estou enganado, três ou quatro pessoas. Ao falar com o presidente apercebi-me do orgulho que sentia naquela conquista. E não me refiro aquele orgulho característico dos momentos de glória em que todas as pessoas parecem acompanhar todas as modalidades e mais algumas desde sempre. Dava para sentir um orgulho especial de uma das pessoas que tinha ajudado a colocar aquele torneio de pé. Recordo-me de me ter explicado que ficou parado a olhar para o Meo Arena vazio antes de o abandonar pela última vez. 

Naquela altura Portugal fez história. E o presidente, Pedro Moura, dizia, em jeito de pedido, que era bom que as pessoas continuassem a acompanhar a equipa e os jogadores pois existem torneios durante todo o ano. Agora, Portugal, actualmente a melhor equipa da Europa, voltou a estar muito bem ao conquistar a medalha de ouro nos I Jogos Europeus, em Baku. E tal como naquela altura, a modalidade e os atletas, voltam a ter mais um pouco de protagonismo. Insuficiente, quando comparado com directos do aeroporto porque um treinador chegou de férias, mas sempre é melhor do que nada. Mas é pena que o talento, esforço e empenho destas pessoas, sobretudo destes mesatenistas, não seja reconhecido como merece. 

Marcos Freitas, Tiago Apolónia e João Geraldo não estão inseridos numa indústria de milhões, como é o caso do futebol. Se querem ser os melhores têm de sair de perto do conforto da família para viver noutros países onde as condições de treino (e não só) são muito melhores. As vitórias não lhes dão milhões. Não têm contratos publicitários que rendem milhões. Nem têm, na maioria das competições, uma presença assídua em televisão. Mas têm o empenho, determinação, querer e ambição dos melhores do mundo. Com menos recursos conseguem o melhor que lhes pode ser pedido e exigido. E o mínimo que lhes podia ser oferecido era um destaque mediático maior que acabaria por ser muito bom para eles, até a nível financeiro. 

Num País que interrompe um político para fazer um directo do aeroporto quando está a chegar um treinador que foi despedido e num País que faz directos do aeroporto porque está a chegar um treinador de férias, acho que não era pedir muito que estes (e tantos outros atletas) que "nos" dão ouro e que nada nos pedem tivessem um pouco mais de mediatismo. E já agora que não fossem recordados apenas quando ganham medalhas. 

6 comentários:

  1. Exacto! Há que dar mais atenção a outras modalidades. Lembro-me das capas dos desportivos que davam muito pouco destaque às vitórias e medalhas do Judo, por exemplo. Em Portugal, um jogador de futebol que chegue da II divisão do Brasil tem mais destaque do que tudo o resto!
    Também gosto muito do Ténis de Mesa. Lembro-me de jogar contra o meu Pai :) Também sou canhoto, por acaso!
    Abraço

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    1. Infelizmente é assim. É triste. Mas temos jornalistas à porta da casa do Jorge Jesus para que ele diga que nada tem para dizer.

      Na altura diziam-me que era mais complicado jogar contra um canhoto :)

      Abraço

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  2. Eu até que gosto desta modalidade e é realmente uma pena que estes desportistas não sejas tratados como merecem e do mesmo modo que tratam desportistas de outras modalidades!

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  3. Com este teu texto lembrei-me daquela dupla de rapazes que praticam canoagem, que só se lembram deles quando ganham alguma coisa, o resto do ano, nem existem.

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