22.5.15

mundo virtual sem rei nem roque

Desde que tenho blogue – altura em que passei a lidar de forma diferente com este mundo – que me recordo dos debates em torno daquilo que pode ou não ser escrito num blogue. E a ideia que tenho é a de que muitas pessoas (na sua generalidade) olham para o mundo das redes sociais (blogues ou outras quaisquer) como uma República das Bananas sem rei nem roque onde vale tudo, até tirar olhos.

Quando se debate este tema recordo-me sempre de um caso que já tem alguns anos. Na altura tinha poucos anos de jornalismo e não existia a febre dos blogues em Portugal. Aliás, poucas pessoas deveriam saber o que era um. Nem o facebook estava mediatizado na altura. Talvez ainda fosse uma espécie de época dourada do Hi5.

Naquela altura uma pessoa processou outra que tinha escrito no seu blogue pessoal que essa pessoa tinha plagiado uma obra. O acusado/ofendido não gostou, mexeu-se, fez o que tinha a fazer e o autor da acusação foi condenado, se não me engano no valor, a pagar 30 mil euros. Recordo-me sempre disto quando as pessoas olham para as redes sociais como o velho oeste onde vence quem sacar a arma mais depressa.

Está muito na moda bater com a mão no peito e gritar liberdade (de expressão). Isto é tudo muito bonito mas as pessoas têm de perceber que liberdade de expressão não é sinónimo de dizer aquilo que lhes vai na cabeça, por maior que seja a barbaridade/acusação/ofensa sem que isso lhes seja prejudicial. A liberdade de expressão não anula que perceba que a minha liberdade termina onde começa a de outra pessoa.

E as pessoas devem também perceber que uma coisa é ofender ou acusar injustamente alguém de algo numa conversa a dois. Outra coisa é “vender” essa ideia numa rede social. O crime é diferente e a gravidade do mesmo também. E o facto de isto acontecer numa rede social não faz com que não seja crime. Até acentua a sua gravidade, facilitando a forma de comprovar o que foi escrito. Tal como é cada vez mais fácil descobrir qualquer pessoa que tem uma conta aqui, ali ou que escreve num sítio qualquer.

Acho muito bem que as pessoas batam com a mão no peito enquanto gritam pela liberdade de expressão. Mas convém que quem o faz perceba o que está a fazer. Que perceba os seus limites. Que perceba que uma coisa é dizer na cara “não gosto de ti” e que outra completamente diferente é escrever numa rede social que fulano ou sicrano é isto ou aquilo, que faz isto ou aquilo, sem qualquer conhecimento de causa, publicitando uma mentira que vende como verdade, independentemente do motivo que move quem o faz. Isto é muito fácil de perceber. Só não percebe quem não quer.

11 comentários:

  1. Concordo inteiramente. É a diferença entre o dizer mal e o inventar mentiras, o que é bem pior do que o dizer mal só porque sim. Podemos ter opiniões, mas há formas e formas de as transmitir. Há uns dois meses escrevi algo relacionado com isto. Espreita aqui: http://alimonadadavida.blogspot.pt/2015/03/os-mean-tweets-as-ofensas-vazias-e.html

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    1. Mas há quem não queria ver a diferença. E há quem pense, desconhecendo a lei, que pode tudo.

      Vou espreitar.

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  2. Pipocante Irrelevante Delirante22 de maio de 2015 às 16:56

    Penso que haja diferenças.
    Não é o mesmo eu dizer "o livro do HSB é uma trampa" de "o livro do HSB é um plagio".
    No primeiro estou a fazer um juízo de valor, no segundo estou a fazer uma acusação.
    E essa acusação de plagio tanto era válida na NET como em conversa com o vizinho.
    O problema da blogs é que muita gente vive à conta da imagem, por isso não lida bem com as criticas, que prejudicam o negócio. E depois, há quem leve isto dis blogs a sério (há cursos e tudo) e há quem leve na brincadeira.

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    1. Claro que há diferenças. Mas foi apenas o exemplo que dei. Mas posso dar-te mil exemplos de pessoas que já processaram publicações por diversas coisas, mais ou menos ao estilo do que algumas pessoas fazem nas redes sociais, e que publicações e jornalistas foram condenados.

      Quanto ao vizinho aplicam-se as diferenças entre calúnia, injúria e difamação, três termos desconhecidos para muitas pessoas.

      Em Portugal (isto é o que acredito) existem poucas pessoas que vivem dos blogues. Outra coisa é a quantidade de pessoas que muitos pensam viver à conta dos blogues. São duas realidades distintas.

      Uma coisa são críticas e acho que já debati isto contigo noutro texto. Outra coisa são ofensas. Outra coisa são mentiras. E nada disto é uma simples crítica. Poderá ser na cabeça de quem a faz. Mas é algo que poderá ter consequências legais. Basta que alguém se queira dar ao trabalho de perder tempo na justiça.

      Ainda não percebi porque é que os blogues e o eventual sucesso de cada um incomoda tanta gente. É que o argumento anda sempre pelo que dizes. O blogue é grande, são figuras públicas (outra coisa que a maior parte das pessoas não sabe o que é pois se alguém que coloca uma imagem num blogue é figura pública, todas as pessoas que têm facebook também são) e têm de lidar com tudo. Mas nem quem tem um blogue nem ninguém tem de lidar com tudo.

      As pessoas que percam algum tempo, e isto pesquisa-se bem, a perceber quantas figuras públicas (realmente figuras públicas) conseguiram que o órgão x ou o grupo y não pudesse publicar nada, mas mesmo NADA, que não vá além do trabalho. E lá está, são figuras públicas mas não têm de comer e calar. E isto não é apenas quando não gostam mas sobretudo quando escrevem ofensas e mentiras.

      Isto dava pano para mangas. Quem quiser continuar a acreditar que o mundo virtual é uma espécie de paraíso onde não existem leis que continue. Mas estará errado.

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    2. Acrescento apenas que são figuras públicas que partilham coisas mais ou menos pessoais (por exemplo nas redes sociais) mas que nem assim isso pode ser notícia em determinados órgãos.

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  3. Devo ser o Ser mais aleado da blogosfera, mas a minha realidade profissional absorve-me demasiado e não me permite navegar sistematicamente por entre blogs e faces. Trabalho com casos tão duros, tão desumanos...recorro aos blogs como uma leituras de crónicas soltas.
    Mas quando me disseram que a blogosfera estava a "arder" por causa de um comentário sobre sapatos...achei simplesmente ridículo e são estas atitudes pequenas que me fazem descreditar cada vez mais no futuro meu país.
    Com tantos assuntos importantes, que fariam muito mais sentido mobilizara a opinião publica, vai-se discutir opiniões sobre sapatos!
    Mi

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    1. Aquilo que fazes deveria ser um comportamento geral. Ou melhor, os blogues, sejam eles quais forem, deveriam ser um escape para as pessoas. Uma pausa nas suas rotinas. Esta é a forma como vejo um blogue.

      Não sei se está a arder ou não. Fui alertado para uma situação ontem e li um desabafo de outra pessoa. E isso fez-me pensar nisto. Na forma como muitas pessoas olham para as redes sociais como o mundo onde tudo é possível.

      Este texto não pretende servir para discutir sapatos. Mas para eventualmente alertar para uma realidade que algumas pessoas desconhecem por completo.

      Existem muitas coisas que me fazem perder fé (ou ter pena, o pior sentimento que se pode ter por alguém) nas pessoas. Como dizes, e bem, as pessoas devem ter assuntos tão importantes nas suas vidas que se dedicassem um terço do tempo daquele que dedicam à vida dos outros seriam muito mais felizes. Isto é a forma como encaro a vida no geral.

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  4. Pipocante Irrelevante Delirante22 de maio de 2015 às 20:17

    Na blogosfera, como em Portugal, há pessoas a quem é permitido dizer, e outras que estão acima da crítica, e si de quem as contrarie.
    O Herman é um bom exemplo, passou de censurado a poder enxovalhar tudo e todos.
    Depois há bocas de onde sai sarcasmo, mas ouvidos onde apenas entra insulto.
    Enfim, divirtam-se, que a internet serve para isso mesmo (e para comprar camisolas do VG a bom preço)

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    1. A questão não é crítica. Olhar para o que pensa que se pode dizer - em qualquer rede social - como uma simples crítica é ver a questão de modo errado. Uma coisa é uma crítica, que pode ser mais ou menos justa, mais ou menos simpática outra completamente diferente é a mentira constante, ofensa, difamação e outras coisas igualmente graves. O sarcasmo anda muito na moda mas será que as pessoas sabem o seu significado?

      Isto aplica-se ao Herman, a mim, a ti e a qualquer pessoa. Volto a dizer-te que conheço tantos e tantos casos de processos que foram ganhos com argumentos tão simples que ficavas de boca aberta se soubesses deles. Basta uma coisa muito simples: ter vontade de perder tempo.

      Volto a referir, quem pensa que as redes virtuais (todas e não apenas os blogues) não têm leis está muito longe da realidade.

      Devia ser um divertimento, com mais ou menos críticas, com mais ou menos sarcasmo, com mais ou menos classe mas isto depende sempre das pessoas.

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  5. Tens toda a razão, o problema é que ainda há muito gente que não sabe separar as coisas...

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