21.4.15

plágio: importa ou é irrelevante


Esta capa do jornal i de hoje dominou as redes sociais. Quase todas as pessoas reagiram com agrado ao impacto de uma capa onde se destaca a imagem de um homem que luta pela vida. “Esta vida vale o mesmo que a nossa” é o título que se destaca e que dá ainda mais força à capa. Esta capa trouxe para lugar de destaque a morte de largas centenas de migrantes que pagaram um preço muito alto pelo sonho de uma vida melhor. Tudo isto foi enaltecido por quem viu a capa em questão e que a partilhou nas redes sociais.

Sabe-se agora que a foto não é actual. E a mesma fotografia já tinha feito capa da revista Refugiados, em 2007. Onde a referida imagem é acompanhada da questão: “Refugiado ou imigrante? Por que importa a diferença”, pode ler-se na referida publicação. Quanto à imagem não existem dúvidas. É a mesma. Quanto ao texto, depende da interpretação de cada um. Mas as semelhanças são muitas. Com a diferença, no meu ponto de vista, de que o título do i consegue ser mais forte.


A descoberta da capa original – tendo em conta a fotografia – levou muitas pessoas a revelar a sua tristeza por não ser algo original. Muitas perderam o entusiasmo com que se depararam com uma brilhante capa de uma publicação portuguesa. O aparecimento desta capa antiga levanta várias questões. O plágio é a principal. Existem publicações que fazem capas com fotos iguais ou idênticas, algo muito comum nos desportivos por exemplo. Mas são fotos actuais, do dia anterior. Aqui existe uma diferença de oito anos e acredito que todas as pessoas acreditaram tratar-se de uma imagem actual. E acredito que exista uma sensação de desilusão nas pessoas que ficam a par da capa antiga, que está igualmente a ser partilhada nas redes sociais. E fica no ar a questão: quiseram copiar?

Tenho ouvido/lido alguns comentários de pessoas que acham irrelevante que exista uma capa, feita com a mesma imagem e com texto semelhante, em 2007. E acham irrelevante porque consideram que o tema continua actual. Acham também irrelevante porque consideram que a capa do i teve a força necessária para fazer com que o tema fosse bastante debatido. Resumindo: importa ou é irrelevante a capa original de 2007?

27 comentários:

  1. Nem que fosse uma capa com 50 anos.... o tema é actual, é um problema da geração anterior, da presente e, infelizmente, continuará a ser da proxima.

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    1. A tua resposta (e quem responde assim) demonstra que o tema diz muito mais às pessoas do que algumas imaginam. Só isso justifica que se olhe para esta situação dessa forma. Se o plágio fosse com outro tema, toda a gente ia atacar o i.

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    2. Há temas e temas, Bruno...

      Acho que é completamente descabido o relevo que se está a dar ao plágio, quando há vidas humanas a perderem-se aos milhares todos os dias. E foi isso que o jornal i quis fazer LEMBRAR!

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    3. Percebo que o tema seja atual, mas ao não colocarem uma fotografia recente até parece que não a arranjaram porque não era possível!

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    4. Fica a questão: a vida dos que morreram agora não vale tanto como a deste homem que foi fotografado em 2002?

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    5. No meu ver, a questão que colocaste não faz qualquer sentido. Mas deve ser porque eu estou a olhar de maneira diferente para este assunto.

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    6. Eu estou a olhar do ponto de vista jornalístico. Estou a colocar o tema noutro patamar. E acho que o tema não justifica a forma como o trabalho é feito.

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  2. O facto de o tema ser actual não justifica a utilização da fotografia sem que tenha sido dada, pelo menos, a fonte.
    Ainda que um qualquer tema seja actual não permite que sejam utilizados trabalhos/investigação realizados por outros- teses, doutoramentos, etc. - logo penso estarmos perante uma situação de plágio, sim.


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  3. Importante, importante, importante é 7 anos depois vidas humanas se continuarem a perder aos milhares...enquanto os politicos conversam no conforto das suas "importantíssimas" reuniões o assunto...à velocidade a que se trabalha...daqui a sete anos voltamos a falar...

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    1. Isso é tudo verdade. Mas isso justifica/desculpa o que foi feito?

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    2. Enquanto jornalista não consigo ser assim. Dou o mérito de o tema ter sido colocado na ordem do dia com a capa mas não consigo analisar apenas isso.

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  4. Acho que o principal ponto negativo da polémico do plágio é estar a desviar as atenções do assunto que realmente importa. É claro que copiar é feio, caso não tenham sido dados os respectivos créditos mas sobretudo é importante perceber que é um tema actual e que se vem a arrastar há tanto tempo. Por isso só tenho pena que se tenha desviado o assunto, que de certa forma, foi o que aconteceu.

    http://janeiroemparis.blogspot.pt/

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    1. Há mérito nisso. Em fazer com que seja um tema muito badalado. Nisso estamos todos de acordo. Agora, a forma como foi feito já é questionável.

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  5. Isso não é desculpa.

    Só porque retrata os direitos humanos, as leis não se aplicam? Então não tínhamos repórteres fotográficos a cobrirem guerras (onde a liberdade individual está em risco, já agora), já que bastava um fotógrafo fazer o trabalho para todos os outros utilizarem a mesma fotografia, em publicações diferentes, sem necessidade de crédito. Ou mesmo um jornalista a escrever uma notícia. Porque não copiar essa mesma notícia, já que se trata de "direitos humanos"?

    Há um fotógrafo que tirou aquela fotografia em 2007. O mesmo tem ser referido ou compensado. Caso contrário, por muito importante que seja o tema principal (é, de facto, e tem de ser discutido), estamos a ignorar leis fundamentais sobre a produção de conteúdos. Estamos, acima de tudo, a desvalorizar o trabalho de certos profissionais.

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    1. A foto é forte mas antiga. E tendo em conta ambas as capas, é quase impossível acreditar na coincidência de que sejam tão semelhantes.

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    2. copiar é feio?! não, copiar é roubar. neste caso, roubar o trabalho dos outros.

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    3. É que não é só a foto. É a capa em si.

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  6. Não conhecia a fotografia, e a sua utilização pelo i está muito bem conseguida (e muito melhor posicionada que a outra publicação).

    No entanto, estou em profundo acordo contigo (desta vez) quanto à relevância da data da fotografia. Não tanto pela componente "plágio", mas pela componente de induzir em erro. Porque num mundo cada vez mais sentimental, alimentado por sound-bytes e sedento de informação rápida e fácil (já "mastigada", de preferência), as imagens valem muito. E se, neste caso, a imagem contiunua a reflectir uma situação actual, outras haverá que não o fazem, em que aquilo que se reporta "precisa" de uma fotografia jeitosa, quer esta já tenha feito uma capa ou esteja sentada num banco de imagens arcaico.

    Na minha opinião, não vale tudo para vender, não vale tudo para equiparar situações, porque por detrás está algo subjectivo que é no máximo uma opinião de um jornalista, e no mínimo a selecção da fotografia "adequada", não real - apenas com imagens reais podes tentar passar (e mesmo assim é tentar!) a realidade. Se nem nisso podemos confiar, o que nos resta?

    A comunicação social já deixa tantas vezes tanto a desejar a nível de rigor, acho um perigo abrir-se a porta para que distorça a opinião pública através de imagens ecolhidas a dedo. Repito, neste caso não altera em quase nada, mas haverá tantos outros em que isso não é admissível que eu não consigo concordar com a prática. Se não é justificável em todos os casos, não deveria ser em nenhum.

    (Comentei o mesmo n'O Arrumadinho)

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    1. A foto está muito melhor no i mas a explicação é simples: o título do i permite ter a foto assim. A revista teria o nome em cima dos homens do bote. Tendo em conta a diferença temporal das capas, torna-se difícil não acreditar que foi "copiada". O i tem o mérito de trazer o tema para a ribalta. Isso ninguém nega. Mas existe a desilusão da foto não ser actual.

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    2. Ok, mas provavelmente a ideia inicial foi estética, o conteúdo da frase veio depois no espaço que lhe foi destinado.

      Mas nada disso importa em demasia, o que se discute aqui é a moralidade de usar uma fotografia que (a) já foi usada de forma parecida e (b) não é da situação a que faz alusão (seja a nível temporal, espacial ou circunstancial).
      Sendo que (a) deveria estar protegido qb por leis anti-plágio, a mim preocupa-me sobremaneira (b), por representar uma forma potencial de lavagem cerebral social. Não que todos os jornalistas sejam Drs Frankensteins, mas muitas vezes determinadas edições e/ou pessoas têm por trás agendas políticas e ideológicas. E é isto que vejo pouco debatido e queria acresentar.

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    3. As capas têm o objectivo de levar à venda. É nisso que se pensa. Mas não pode ser o vale tudo. De resto, é certo que existem agendas.

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  7. Misturar as 2 coisas é completamente descabido.

    Primeiro, em relação ao tema. É importante sim. É termendamente importante. Uma tragédia humana que já acontece há tempo demais e que devia ser resolvida. Quem acha diferente não deve ter nem a cabeça nem os valores no sítio certo.

    Segundo, em relação à foto. É plágio sim. É triste e é relevante quando se roubam ideias e trabalhos dos outros querendo fazendo passar direta ou indiretamente por seus. Quem acha diferente, é porque não respeita o trabalho dos outros e não vê mal em roubar e não tem os valores no sítio certo.

    Agora as duas coisas são assuntos diferentes, e a sua relevância existe em contextos e níveis diferentes. Na minha opinião, o I fez muito bem em fazer uma reportagem de capa sobre o assunto que é dramático e urgente. Mas fez muito mal e foi infeliz em usar uma capa já publicada e pensada por outros no passado.

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    1. Neste caso não se podem separar os temas. As pessoas não podem desculpar o que foi feito com base na sensibilidade do tema. Neste caso - o do plágio de uma capa anterior - é preciso ter a frieza necessária de ver o tema da capa como outro qualquer. Para que se perceba o erro que está a ser cometido. Tenho facilidade em fazer isto porque é o mundo em que trabalho.

      O i está de parabéns mas podia ter usado outra imagem. Ou até podia usar a mesma imagem e tipo de capa mas fazia alusão à capa original.

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  8. Plágio é errado, ponto. Quanto a se teve ou não o impacto desejado, isso é outra questão.

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