30.1.15

estás aqui para me servir porque eu pago

Neste texto falei sobre as gratificações. Devemos ou não dar gorjeta? Desta vez, coloco-me do outro lado. Que foi o meu durante alguns anos em que trabalhei em diversos locais que implicavam atendimento ao público. Durante essas experiências profissionais, aquilo que mais me incomodava eram os clientes cujos argumentos passavam por coisas como: “porque eu pago” e “está aqui para me servir”, apenas para dar dois exemplos da forma como muitos clientes lidam com funcionários das mais variadas lojas.

Numa altura em que trabalhei numa grande loja de materiais de construção tinha a meu cargo o corredor onde estavam os sacos de cimento que, caso não me esteja a enganar, pesavam 25 quilos. Num dia fui abordado por um cliente que quis saber onde estavam os sacos. Acompanhei o cliente ao local. Perguntei se precisava de algo ou de alguma informação e ordena-me, com uma postura de superioridade, que lhe carregasse um ou dois sacos. Perguntei se tinha algum problema físico e se necessitava de ajuda. Afirmou que não, salientando que estava ali “para o servir”. Expliquei que estava ali para atender e ajudar no que fosse possível mas que não tinha como missão servir quem quer que fosse. Ficou indignado, gritou comigo, fez tudo e mais alguma coisa. Ainda lhe perguntei se queria reclamar e expliquei o que teria de fazer. Acabou por carregar o(s) saco(s).

Este é apenas um exemplo da estupidez de algumas pessoas que olham para os funcionários das mais diferentes lojas como pessoas inferiores que estão ali para o que lhes apetecer. Posso dizer que carreguei muitos sacos de cimento e muitas latas de tinta, apenas para dar dois exemplos, mas essa não era a minha obrigação nem nenhum chefe me obrigava a que o fizesse. Ajudava quando as pessoas precisavam e quando notava que a ajuda, mesmo sem ser solicitada, era desejada. Quando a postura era a deste homem, explicava o que tinha a explicar, ajudava nas informações que pudesse ajudar e depois voltava às minhas funções.

Outras palavras que os funcionários ouvem muito (e ouvi diversas vezes) é “porque eu pago”. Normalmente, é o caminho de quem não tem argumentos. Não se sabe o que responder a alguém, recorre-se ao argumento do dinheiro como quem diz ao funcionário que tem de se sujeitar a tudo porque está numa posição inferior. O cliente pode ser parvo, pode dizer as maiores asneiras do mundo, pode não ter razão e estar a comprar algo completamente diferente do que afirmou desejar mas aos seus olhos nada disso importa porque está a pagar. E isso dá-lhe, aos seus olhos, toda a razão do mundo. Felizmente, o dinheiro não compra tudo. Mesmo numa loja. E um belo exemplo de algo que o dinheiro não compra é educação (refiro-me à mais importante e aquela que não se aprende em nenhuma universidade) e classe.

18 comentários:

  1. Não tem directamente a ver, mas isso lembra-me a situação daqueles restaurantes onde se paga pelo uso da loiça na partilha do prato. Acho muito bem. Se não, as pessoas dividiam meias-doses, eram servidas, ia loiça para lavar e não pagavam mais por isso. As lojas são empresas com determinados produtos/serviços. O cliente paga o serviço que a loja tem disponível. Se não gosta, vai a outro lado.

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    1. Com isso até posso concordar mas por exemplo acho disparatado que se cobrem 2,5 euros por usar um guardanapo de pano que é opção do restaurante.

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  2. Eu já me tinha lembrado disto no post sobre as gorjetas. É coisa para dar pano para mangas...
    Eu também já estive dos dois lados e agora estou no de funcionária e acho que não se dá valor às pessoas que efetuam o atendimento ao público. Há situações que (quase) nos fazem perder a calma, mas nunca a postura e a classe ihihih que eu recuso-me a descer ao mesmo nível.
    Muitas vezes os clientes não entendem que também somos humanos, com falhas, sentimentos e dias maus... é mesmo assim vêem-nos com um sorriso.
    já cheguei ao cúmulo de atender pessoas (quer dizer, de as convidar gentilmente a sair) que entraram na loja depois de a porta já estar fechada. E quando se põem a dizer que noutros sítios os descontos já são maiores sou obrigada a explicar que não obrigamos ninguém a vir :) (sempre de forma sorridente claro).
    Mas é por todas estas experiências que me custa ir a serviços públicos ou, por ex, a bancos, onde os horários e os vencimentos são um bocadinho (substancial) melhores e encontrar alguém de 'trombas'. Só apetece gritar: quem esteve a trabalhar no fim de semana FUI EU!! Aliás saí há menos de 11 horas e já vou entrar outra vez, por isso se não está satisfeito dê lugar a outro! !
    Mas de uma forma geral gosto do que faço é aprendi a dar mais valor a quem está atrás de um balcao/secretária/etc. Bom dia; boa tarde; desculpe; obrigada (...) não têm preço. Mas é como diz... o dinheiro não compra tudo!
    AM

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    1. E pessoas que entram nas lojas dois minutos antes do fecho só para desarrumar as coisas?

      Acho que o atendimento ao público é uma experiência óptima para primeiro emprego. Aprende-se muito.

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    2. Gggrrrr quando é só para desarrumar fico possessa! !! É que há lojas que só estão abertas 13 horas por dia, 7 dias por semana... não chega certamente...
      Para primeira experiência é bom claro, mas depois de se ter trabalhado naquilo para que se nasceu... acaba por ser deprimente (ainda bem que é só nos dias menos bons).
      Mas a realidade atual é que já não podemos ser muito seletivos e resta-nos fazer o melhor que sabemos e 'vestir a camisola'.
      AM

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    3. Acho que é uma boa experiência porque as pessoas aprendem a lidar com maus chefes, com colegas invejosos e muitas outras coisas boas. E isso dá bagagem para o momento de agarrar o emprego que tanto se deseja.

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  3. Concordo contigo!

    Podes ter muito dinheiro, mas se não tens educação... hunf... e isso não é algo que se adquira em proporção ao número de zeros na conta do banco..

    Beijinhos
    Z.

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    1. A educação não se compra. Isso está mais do que provado.

      Beijos

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  4. Olá :)
    Conheço uma empresa que tinha como lema o seguinte: "senhoras e cavalheiros ao serviço de senhoras e cavalheiros". Gostei tanto que o decorei. Para mim resume uma posição de igualdade entre o profissional e o consumidor, em se espera de ambos a melhor das condutas.
    Já tive vários trabalhos no atendimento ao público, e posso partilhar duas histórias semelhantes à tua. Ambas passam-se no contexto em que era empregada de mesa num hotel 4*, há muitos anos atrás:
    - Almoço de grupo, cerca de 40 pessoas divididas em várias mesas. Todas por minha conta. Gente nos seus vintes, eu um pouco mais nova ainda. Numa das mesas, 2 ou 3 engraçadinhos comentam a minha tatuagem, (tenho uma pequena num tornozelo). Como acho impróprio, sirvo as bebidas e as entradas a todas as outras mesas, excepto aquela. Repararam, e as raparigas na mesma mesa deram-lhes um sermão tipo "por causa da vossa estupidez ainda ficamos sem almoçar". Quando me chamaram por "senhora" e com bons modos, servi-os.
    - No mesmo emprego. Expo 98, o hotel a rebentar pelas costuras. O pequeno-almoço era uma epoca de caos, não tínhamos mãos a medir e andávamos a 200 à hora. Uma espanhola aborda-me e pede-me para lhe limpar uma mesa. Eu, com um tabuleiro carregado até mais não de louça suja nas mãos, respondo-lhe sorridente e gentil que o faria num minuto. Ela vira-se com o ar mais arrogante "limpa-me uma mesa, já!". E eu decido que se trata da altura perfeita para ir beber um café e ir fumar um cigarro.

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    1. Adoro esse lema. Estiveste muito bem nos dois casos. As pessoas não têm noção do ridículo.

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  5. Eu compreendo isto tão bem! Trabalho num bar, lido com pessoal alcoolizado 6 horas por noite, e já aturei faltas de respeito descomunais! O que me vale é que, quando o barril da cerveja acaba, pode ir parar cerveja ao outro lado do balcão acidentalmente! :P

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  6. Passo por isso nas poucas aulas particulares que dou, os paizinhos pensam que podem chegar atrasados, desmarcar, adiar e afins e porquê? Porque me pagam.

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  7. Quantas vezes, mas quantas, eu digo: deixe estar eu consigo.
    Se não, peço ajuda.
    Ha muitos anos atrás, fiz obras em casa. Não há elevador no prédio. E eu subia e descia as escadas para levar tijolos e lixo para a carrinha deles.
    Ajudava no que podia.
    Não me caiu o título por, terra.
    Beijinho

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  8. Tens toda a razão, mas infelizmente gente estúpida e mal educada há em todo o lado...

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