26.11.14

quem será agora?

Até sair de casa dos meus pais vivi sempre no mesmo prédio. Num dos nove de uma pequena praceta. O apartamento é num sexto andar e todos os prédios têm sete. Ao longo da minha infância e adolescência mantive praticamente os mesmos vizinhos. Poucos foram os que saíram de lá, o que fez com que crescesse sempre com os mesmos amigos, apesar das diferentes idades que nos separavam. Entre os amigos que não mudaram de casa até ao casamento, está o meu vizinho de cima, que deve ter mais oito ou nove anos anos do que eu.

Este amigo e vizinho tinha uma particularidade. Conseguia passar o dia inteiro a ouvir a mesma música com o volume no máximo. Em momentos ocasionais, conseguia ouvir um álbum até à exaustão ao longo do dia. A isto acrescentava um gosto musical bastante reduzido. Quando lhe dava para ouvir um álbum inteiro, a escolha era sempre a mesma: Moonspell. Quando queria ouvir apenas uma música ao longo do dia também podia escolher uma das muitas da banda portuguesa. Porém, por norma, a sua opção era Who Can It Be Now? ou Down Under, ambas dos Men at Work.

Isto não aconteceu num dia. Não aconteceu numa semana. Nem sequer num mês. Isto reproduziu-se ao longo de anos a fio. Eu, que na altura não conhecia os Moonspell nem os Men at Work, dava por mim a cantar as músicas. Mas apenas as dos Men at Work pois perceber as letras dos Moonspell de um andar para o outro, com o volume no máximo e com alguns pulos pelo meio, era uma tarefa mais complicada. O facto de ter acontecido ao longo de anos poderia ter feito com que odiasse por completo ambas as bandas. Curiosamente, aconteceu o oposto.

Apesar daquilo – o volume no máximo e a mesma música ao longo de horas – ser algo estranho para mim (naquela altura) fiquei fã de Men at Work. Não desgosto de Moonspell mas não sou tão fã como da banda australiana que teve o seu grande sucesso nos anos oitenta. Quando começamos a sair à noite fui descobrindo outras músicas e, mais uma vez, graças ao meu vizinho. Como era o mais novo, ainda não conduzia e nas nossas saídas ouvia o resto do álbum no seu carro. “Isto é aquilo que passas o dia a ouvir com o volume no máximo”, dizia-lhe. Acho até que acabei por ficar com o cd, deixando-lhe apenas os Moonspell para os seus momentos musicais.

Desde então que sou fã (um dos poucos, creio. Sobretudo nos dias que correm) dos Men at Work. Delicio-me a devorar os seus hits, a ver concertos ao vivo. Até porque é um tipo de música que já não é feito actualmente. E isto aplica-se à maioria das grandes bandas que surgiram nos anos oitenta e que conseguem ter músicas eternas. Para quem não os conhece, partilho uma das minhas preferidas que não é um dos seus principais sucessos.


Como referi no texto, naquela altura fazia-me confusão que o meu amigo e vizinho passasse um dia inteiro a ouvir uma música com o volume no máximo. Hoje, como não vivo sem música, dou por mim a fazer o mesmo. Quando são músicas e álbuns que adoro sou capaz de os devorar como se fossem o melhor banquete do mundo. A diferença é que guardo esta boa vibe para mim. A festa é só minha. E não “incomodo” ninguém com algo que certamente será repetitivo noutros ouvidos que não os meus.

11 comentários:

  1. Que bom que a experiencia de ter um vizinho barulhento te ensinou a guardar a festa so para voce. Mas ha pessoas que nao se importam em punir os outros com seus gostos musicais... como por exemplo ouvir heavy metal as 7 horas da manha no metro. A musica tao alta que todo mundo no trem pode ouvir....nao tenho nada contra o genero mas ... as 7 horas da manha?!

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  2. Grande música!
    Sim, também gosto de ter a festa para mim! Não preciso de incomodar ninguém para me divertir!
    Abraço

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  3. Nem és o único a gostar de Men At Work, nem a fazer concertos privados. Music in my veins! :)

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  4. Lembro-me do grupo, mas não da música.
    Aqui, no prédio ao lado tenho uma vizinha que durante anos passava o tempo a ouvir Simone, volume super alto e também foi assim que comecei a gostar da Simone.
    Ela ainda vive por cá mas esta mania teria 20 anos. Actualmente deve estar perto dos 50.

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  5. Confesso que não conheço a banda, mas gostei da música que partilhaste :)

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