26.11.14

porque ele faz parte de nós

No último post fiz uma referência a um diálogo muito peculiar, protagonizado por Herman José e Nicolau Breyner, na pele de Senhor Contente e do Senhor Feliz. Estes personagens nasceram na década de setenta. Apesar de ter nascido em 1981, estes dois papéis não me são desconhecidos. Não me passam ao lado. Hoje, um amigo cantarolou este diálogo. E, para meu espanto, outro amigo nosso, de 27 anos, não fazia a mínima ideia do que se falava. Não sabia quem eram os tais senhores, o Contente e o Feliz, que protagonizavam esta rábula.

Perante este desconhecimento, perguntei se O Tal Canal lhe dizia algo. Respondeu que não. Perguntei também se sabia quem eram os personagens José Esteves, Serafim Saudade, Nelito e Maximiana. Voltou a dizer que não. Falei-lhe ainda de Melga Shop e de Mike e Melga. Também não sabia quem eram. Mudei-me para o grupo de tripeiros ferrenhos que estavam indignados com a Expo 98 e que preparavam, em segredo, a Expo Nobenta e Seite, algo que ia envergonhar os mouros, com destaque para o Engenheiro Paços de Ferreira. Mais uma vez, disse que não sabia quem eram.

Num misto de desespero (e também num teste final) perguntei se estava recordado de ver Herman José na SIC, com as visitas de alguns convidados duvidosos e se estava recordado de ver o seu nome associado a um dos maiores escândalos do país. Nesse momento disse logo que sim. Estas duas coisas eram claras na sua cabeça e eram as únicas memórias do humorista. Expliquei que tudo o que estava para trás estava ligado a Herman José, uma pessoa que considero fazer parte da nossa cultura, sendo um dos maiores talentos que tive o prazer de ver na televisão e ao vivo. “Não me lembro de nada disso. Era muito novo”, justificou.

Defendo que as pessoas não são obrigadas a gostar do mesmo. Aceito perfeitamente que me digam que Herman José não tem talento. Por mais que discorde, tenho de aceitar que existam pessoas que não gostem do seu humor. Mas entristece-me o desconhecimento em relação a momentos marcantes da nossa cultura, algo que ninguém pode negar. Quer se goste ou deteste, Herman José está ligado a momentos marcantes da nossa cultura. O Tal Canal é marcante. E são personagens como aqueles que referi que criaram espaço a tantas coisas que ainda hoje são feitas por muitos humoristas que se inspiram no seu talento.

É uma pena que cada vez mais, cultura e história sejam palavras que envolvem um espaço temporal de aproximadamente dois ou três anos. Entristece-me que sejam dados como grandes exemplos de pessoas que fizeram algo pela nossa cultura pessoas que começaram a carreira ontem e que têm apenas um trabalho. E que muitas vezes é de qualidade duvidosa. Não sou ninguém para apontar o dedo aos outros e para acusar de desconhecer isto ou aquilo. Mas entristece-me este aparente desinteresse por tantas coisas boas que foram feitas pelos nossos e que marcaram gerações. Mais do que isso, que são a nossa história.

20 comentários:

  1. Belos tempos esses, Como passa senhor Contente, Como está senhor Feliz, diga à gente, diga à gente como vai este país (algumas rábulas ainda se aplicam aos tempos actuais).
    Vi os programas todos.
    E mais recentes: o Toni Silva, o Lauro Dérmio, e o Nelo e Dália, o Diácono Remédios, enfim, eram momentos de inesquecíveis bom humor.
    Bruno, orienta o amigo para o Google, que procure os vídeos. Estão lá.
    Beijinho

    P.S.: Vou põr um deles no FB.
    Despertaste-me a vontade de recordar.

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    1. Foi o que lhe disse. Vai ao youtube e entretém-te a ver os vídeos.

      beijos

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  2. Fiquei chocada, eu tenho praticamente 27 anos (falta 1 mês para o meu aniversário) e cresci com O Tal Canal e mais tarde, Herman Enciclopédia :D aliás, no meu grupo de amigos sempre usamos frases de ambos os programas!
    Não sei se alguém se lembra disto, mas até há bem pouco tempo, na passagem de ano (pela madrugada dentro) costumavam repetir estes programas...já para não falar da RTP Memória que de vez em quando também nos brinda com estas pérolas. Bem, se calhar tive a sorte de crescer rodeada de pessoal que gosta deste tipo de humor :)
    Mas pronto, já ouvi gente a perguntar "O que é isso dos Monty Python?" xD

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    1. Acho que as pessoas não são obrigadas a gostar. Mas fico espantado que não se conheça a obra. Nem é preciso ir lá fora. Basta saltar para o Raul Solnado, por exemplo.

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    2. Exacto! Precisamente por achar que as pessoas não são obrigadas a gostar é que disse que se calhar tive a sorte de crescer com pessoas que apreciam este tipo de humor ;)

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  3. Sei que apresentou o Tal Canal e sei quem era o Nelito e Serafim Saudade, os restantes sou sincera não estou a ver quem como eram as personagens. Também me lembro do programa da SIC. Ah e também me lembro da canção do beijinho (ganho alguns pontos?!) . Mas posso usar a desculpa, tenho 23 anos, sou muito nova :)

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  4. Bem, desta vez tenho de me manifestar!
    Só tenho apenas mais um ano do que o teu amigo, portanto, 28 e recordo muito bem todos os momentos que enumeraste.
    Tenho pena de quem se esconde atrás da desculpa (esfarrapada) da idade para justificar o tanto que não sabe porque simplesmente nunca quis saber.

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    1. O que mais me entristece é que para algumas pessoas a cultura são os Morangos com Açúcar e outras séries semelhantes.

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  5. Concordo em absoluto! O Herman José é um génio e o humor em Portugal deve-lhe muito. Para mim será sempre o tal canal - que génio! que génio! - o expoente máximo, com tantas as personagens absolutamente fabulásticas e mais tarde o Herman Enciclopédia. Mas é a minha opinião.
    E também sou das que devemos recordar e prestar homenagem (enquanto são vivos) às figuras (nos diferentes campos das artes, mas não só) que assim o merecem!

    Sobre as pessoas que se desculpam com... "isso aconteceu antes de eu ter nascido" (na minha modesta opinião) é absolutamente ridículo (ainda para mais com a vasta informação que hoje em dia existe à distância de um clique no google). Então não vamos saber nada sobre tudo o que sucedeu desde que nascemos? história? nada? E sabe tudo o que sucedeu desde que nasceu?

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    1. Por desculpas dessas é que se pergunta quem foi Afonso Henriques as pessoas respondem: "não sei pois moro aqui há pouco tempo".

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  6. Eu também gostei de muitas sátiras do Herman outras nem tanto, mas um dias destes fiquei espantada pela negativa ao vê-lo num progama da tarde, acho que não é o lugar dele.

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    1. Para mim, o seu erro foi trocar a RTP pela SIC.

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    2. Pipocante Irrelevante Delirante27 de novembro de 2014 às 15:48

      Para mim, o erro dele foi tentar seguir os passos do Jô Soares, e passar de comediante (Vivó Gordo foi outro ícone) para apresentador.
      Não tem perfil para isso, até porque é demasiado egocêntrico.

      Outra questão foi passar de comediante censurado (não esquecer) para comediante que podia fazer tudo (lembro-me de o ver HUMILHAR convidados, com estes a rirem). Subiu-lhe o tal ego à cabeça, e pensou que podia tudo...

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    3. Para mim, o erro é sair para a SIC. E o próprio Herman já falou disso. Existem certas "regras" da RTP que lhe faziam bem. Mas ninguém o pode culpar da escolha porque certamente que envolveu muito dinheiro.

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  7. Tenho a dizer que sou de 1988, portanto mais nova que o teu amigo, e lembro-me d'O Tal Canal, tal como de alguns desses personagens. O teu amigo devia ir consultar o youtube :)
    Tocaste no assunto crítico cá em casa. A minha mãe não gosta do Herman José precisamente por causa dos escândalos que a ele estão associados, então diz não gostar de tudo o que a ele diz respeito, e sempre que o senhor está na televisão, ela muda imediatamente de canal.
    Tal como tu, acho que ele faz parte da nossa cultura e, há que saber distinguir vida pessoal do trabalho da pessoa, até porque quem somos nós - pessoas - para julgar o que os media dizem ser verdade? Eu diria, ninguém.

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    1. Acho que faz parte de nós e tal como cada um de nós, cometeu os seus erros. Mas aceito que não se goste do seu trabalho.

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