7.11.14

este país não é para velhos (sobretudo quando são novos)

Num destes dias estava a ver um jogo do Benfica. A determinada altura fala-se de um jogador – não me recordo qual – de 31 anos. Que é catalogado de veterano. Criou-se a ideia de que se trata de um jogador “velho” quando entrou nos trinta recentemente. Momentos mais tarde, e ainda no mesmo jogo, fala-se de Ricardo Carvalho, um jogador português há muito radicado no estrangeiro, que tem 36 anos. Neste caso, enalteceu-se a qualidade de jogo do português, apesar dos seus 36 anos. Parecia uma espécie de super-herói que ainda consegue jogar futebol com 36 anos. Ninguém pode negar que a carreira de um jogador de futebol (e de tantos outros atletas de alta competição) é substancialmente mais curta do que a maioria das profissões. Mas, daí a chamar “velho” a quem tem pouco mais de trinta anos vai uma grande distância. E este modo de pensar é transversal a muitas áreas da nossa sociedade.

Quase que existe uma regra que define que depois dos trinta somos automaticamente velhos. Para o que quer que seja. No caso do futebol é bastante evidente. Muitos jogadores já lamentaram esse facto e optaram por sair de Portugal porque é complicado encontrar um clube que aposte em jogadores com mais de trinta anos. Depois, temos outros campeonatos, como é o caso do italiano, onde se joga até aos quarenta ou mais. E aqueles que chamam velhos aos nossos, são os mesmos que enaltecem a qualidade dos velhos (que não o são) dos outros campeonatos. E são também os mesmos que enaltecem os jogadores estrangeiros, com mais de trinta anos, que chegam a Portugal. “Ainda têm muito para dar”, dizem.

Nos empregos chamados normais, aqueles das nove às cinco, também existe a mentalidade de que os trinta são os novos setenta. Está enraizada a ideia de que a partir dos trinta começa o declínio da pessoa que, na realidade, não passa de uma jovem. E esta mentalidade leva a que muitas pessoas desta idade se sintam velhas e temam o futuro. Parece que em 2060 Portugal vai ser um país de velhos. Mas, na realidade já o somos. Porque ter pouco mais de trinta significa ser um desgraçado de um velho que não serve para nada.

14 comentários:

  1. Não me parece que seja linear. No desporto, percebe-se (é uma questão de "pico" físico) e em algumas actividades de alto stress (em que conta mais a energia que o conhecimento) também.

    Mas na minha área - engenharia química - um tipo com 30-35 anos é "novo" e ainda "tem que aprender". Aliás, até aos 55 são novos (55 é mais ou menos o "pico" da carreira).

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    1. Percebo e aceito o pico físico mas mesmo assim acho que não tem sentido chamar velho a um jogador de 30/31 anos. Devia ser na tua área e em quase todas mas cada vez mais ouço relatos que apontam para o outro lado.

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  2. Muito bem dito! Há dias fui a uma entrevista, onde me perguntaram se me dava jeito fazer estágio profissional, eu disse prontamente que sim claro. Ao que o senhor me diz "ainda tens 26, tens muito tempo para o fazer, 4 anos é muito tempo". O problema é que, com 30, ninguém me emprega, muito menos sem experiência profissional. É o país que temos...

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  3. A primeira vez que ouvi dizer que estava velha para um determinado trabalho, eu tinha 36 anos...entretanto a pessoa que me disse isso já foi "dispensada" eu já tenho 45....e estou a fazer um trabalho de muito maior responsabilidade que o daquela altura...muito pior que a idade, assusta-me a mentalidade...

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    1. Assusta-te porque o problema reside na mentalidade e não na idade.

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  4. E eu estou caquética! Afinal já há mais de uma década que passei os trinta, por isso devo estar com os pés para cova, no mínimo.
    É triste, muito triste e assim o país não avança por desperdiçar boa mão-de-obra "madura" por acharem que já não vale a pena investirem neles/nós. Nem dão hipótese.
    Eu sou de uma área que não padece tanto desse mal, pois a "experiência" conta- o ensino- mas em compensação aquilo que foi e agora é o ensino deixa muito amargo de boca a "maduros" como eu de ver a falta de respeito e dignidade com que somos tratados.


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    1. Acho que acaba por ser um mal geral. É uma triste realidade.

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  5. Espero que nada disso seja verdade porque só vou começar a minha carreira perto dos 30! Devo começar já a pensar na reforma?

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    1. Espero que tenhas a maior das sortes. Sendo que esta sorte também tem muito de engenho.

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  6. Tens toda a razão!
    Já senti isso na pele quando respondi a um anúncio de emprego, o que é sinistro...
    E acabei de passar os 30 anos=S
    Será receio de mentes frescas, tentando-as convencer de que já não o são?
    Será estupidez apenas?
    Não sei...

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    1. Acho que é uma mentalidade que se instalou e que veio para ficar. Infelizmente.

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