30.7.14

ainda sou do tempo...

As frases que começam por “ainda sou do tempo...” costumam ser proferidas por pessoas que lamentam algo que existiu num passado mais ou menos distante. Em alguns casos estão carregadas de uma forte dose de melancolia. É o caso desta. Que, além da tristeza por algo que se perdeu, carrega igualmente uma boa dose de orgulho. Hoje celebra-se o Dia da Amizade e é com orgulho que digo que ainda sou do tempo em que amigo se escrevia sem aspas.

Não sou nem me considero velho pois tenho apenas 33 anos. Mas, quando o tema é amizade, sinto-me antiquado. Porque, no meu tempo, não existiam aspas, alíneas o ocasiões para os amigos. Era tão simples quanto ser amigo ou não ser. Não existiam amizades baseadas em interesses. Não existia o amigo do futebol, o amigo da escola, o amigo do bar e o amigo que só é amigo se me ligar todos os dias a perguntar se o almoço estava bom.

Diz-se, e bem, que os amigos são a família que escolhemos. O que pode, em alguns casos, representar uma ligação mais forte do que a família de sangue que é imposta e que pode não ter uma grande ligação afectiva connosco. Por isso, para mim, a amizade e este dia, são muito mais especiais do que as dez t-shirts brancas que tenho no roupeiro. Que são todas iguais e que uso quando tenho necessidade e que escondo no fundo do roupeiro quando não me servem para nada.

É também por isso que tenho menos amigos do que t-shirts brancas. Mas, os poucos que tenho não necessitam de aspas. Nem de alíneas. Nem sequer gosto deles apenas quando me dá jeito gostar. E muito menos exijo a sua atenção diária. Os poucos amigos que tenho são aqueles que estão lá quando é preciso estar. Aqueles que me dão (e a quem dou) uma t-shirt quando necessário. São um pequeno grupo de pessoas muito importantes e por quem faço tudo o que for necessário. E é com muito orgulho que digo que ainda sou do tempo em que as amizades eram assim. Coisa rara nos dias que correm.

8 comentários:

  1. Eu tenho idade para ser tua mãe e sou do tempo em que a amizade, os encontros, o convívio, nunca foram por interesse e algumas dessas amizades só se encontravam nas férias, na praia, todos os anos, até ao momento que ficamos adultos e tivemos que seguir as nossas vidas (mas nunca foram cortadas, não).

    O que escreveste é a pura verdade e sendo tu um jovem, admiro as palavras aqui transcritas, porque são o que sinto e vivo com as minhas amigas(os), mais novos e da minha idade. E tenho idade para ser tua mãe.
    Parabéns, Bruno. És um bom amigo.


    "Os poucos amigos que tenho são aqueles que estão lá quando é preciso estar. Aqueles que me dão (e a quem dou) uma t-shirt quando necessário. São um pequeno grupo de pessoas muito importantes e por quem faço tudo o que for necessário. E é com muito orgulho que digo que ainda sou do tempo em que as amizades eram assim."

    cantinhodacasa

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    1. Nos dias que correm noto que poucas pessoas percebem o que é uma amizade e o que é ser amigo. É algo que se tem vindo a perder ou que está adaptado às vidas rápidas que as pessoas levam. É o que noto, infelizmente.

      Obrigado pelas palavras.

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  2. Acerca do dia de hoje haveria tanto para dizer, e confesso que tenho tido belas "lições" sobre o significado da dita amizade...diz-se que é nos momentos menos bons que sabemos na realidade quem está ao nosso lado, mas ultimamente aprendi que o mesmo acontece nos nossos momentos de felicidade e de alegria que queremos partilhar com quem nos é querido. E por isso gosto muito deste pensamento..."A felicidade de um amigo deleita-nos. Enriquece-nos. Não nos tira nada. Caso a amizade sofra com isso, é porque não existe". Amizade, essa "coisa" rara.

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    1. É por já ter tido muitas lições que sei o que é a amizade e que a valorizo muito. E sei que tu também.

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  3. Eu tenho muitos conhecidos mas poucos amigos (contam-se pelos dedos de uma mão e, quiçá, ainda sobram dedos...). Porque para mim a amizade é uma relação, e numa relação não admito traições nem faltas de respeito.

    PS: eu sou do tempo em que a amizade era um sentimento, e não "uma questão de interesse"... :-(

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  4. Não desfazendo a familia, tenho 3 amigos que o são verdadeiramente. Duas raparigas e um rapaz.
    A mais antiga há 10 anos é com quem posso contar se agora precisar ir arejar ideias e "discutir" com alguém... é também o melhor abraço do mundo.
    A seguir vem o mocinho que anda por aqui há 8 anos. É uma amizade diferente, não por ser homem mas por ser o que vive mais longe. É o unico que sabe coisas que nunca contei a ninguem, é para onde "fujo" quando o ar da margem sul está demasiado pesado pra mim... foi ele que me fez apaixonar pelo belo Porto.
    E depois uma mais recente, há "apenas" 4 anos, mas com quem tenho a amizade de irmã. Fui adoptada pela familia dela e ela pela minha. Ferias juntas, muito ombro para chorar as dores do coração, e claramente muito Verde (:p).
    Depois vou tendo, sim, amigos de saidas, amigos de futebol, amigos de facebook e conhecidos com fartura.

    (Epa, cala-te que já estás a escrever muito :$ ok.. ja me calei)

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    1. Os últimos amigos de que falas, para mim, são conhecidos com quem partilhas alguns momentos. Acho que amigos, no verdadeiro sentido da palavra, são os primeiros.

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