4.6.14

ódio e preconceito

Uma das coisas que mais gosto de fazer é discutir futebol. Gosto de conversas acaloradas, que por norma acompanham uma cerveja gelada, onde participam adeptos de diferentes clubes. Aprecio que cada qual tente defender a sua dama, neste caso, clube. Aprecio a capacidade de recorrer a argumentos inteligentes que levam os outros, quando a solução é apenas essa, a dizer: “tens razão no que dizes. Esse ponto de vista é o mais válido e lógico de todos”. Ou seja, gosto que no meio de tanto calor, exista espaço para que um grupo de pessoas consiga perceber o argumento de alguém, apesar de defender algo de que os outros não gostam ou com que não se identificam, e reconhecer justiça e sobretudo veracidade ao mesmo. Existe uma cedência porque simplesmente o outro tem razão e nós não. E conseguiu explicar, ou melhor, os outros conseguiram perceber que a razão não está do seu lado.

Infelizmente, existem adeptos que se regem pelo ódio e preconceito que têm em relação aos clubes rivais. Neste caso, nada há a fazer. Porque mais cego do que aquele que não vê é aquele que não quer ver. São aquelas pessoas que, por menos razão que tenham e por mais motivos que lhes sejam apresentados, não têm capacidade de perceber a mensagem. O ódio e o preconceito são tão grandes que os cegam. Estão formatados apenas e só para que a sua opinião, por mais estapafúrdia que seja, se destaque das restantes. E não ouvem mais nada. Entrando, se for necessário, na argumentação patética para saírem vencedores da conversa. Nem que seja pelo cansaço dos restantes.

Quando isto acontece, pego na minha cerveja e saio da mesa. Sento-me noutro sítio. Saboreio cada trago da bebida que me refresca a garganta. E aprecio a paisagem, olho para a televisão, pego no telemóvel ou faço outra coisa qualquer, dependendo do sítio onde estou, e espero que a conversa chegue a um final antes de me juntar ao grupo. Afasto-me porque o meu objectivo não é cansar os outros com argumentos patéticos para que isso faça de mim um vencedor. E isto, quando inserido num grupo de pessoas orientadas por ódios e preconceitos é uma tarefa desgastante e praticamente impossível.

E a atitude que tenho em relação a discussões de futebol é algo que aplico a tudo na minha vida, sempre que estou na presença de pessoas que se deixam guiar pelo ódio e preconceito. Quer sejam ódios e preconceitos pessoais ou outros, que se vendem no supermercado do ódio e preconceito, e que estão em lugar de destaque nas prateleiras consoante a época e a necessidade do produto. Se existe ódio e preconceito, pego na cerveja e vou para outro lado.

Já lá vai o tempo em que gastava energias a tentar perceber ódios e preconceitos em relação a mim, em relação a pessoas que conheço ou ódios e preconceitos de outra espécie qualquer (tenho algumas excepções que percebo perfeitamente devido à gravidade de determinadas situações). Por exemplo, nunca irei perceber o que motiva ódios em relação a pessoas que não se conhecem e que em nada interferem com a nossa vida ou existência. O que leva uma pessoa a andar sempre atrás de alguém que não lhe liga nenhuma e que não perde tempo com a sua existência?

Cedo percebi que nunca iria ter resposta para isto. E como não me identifico com esta forma de encarar a vida, afasto-me destas pessoas. E não perco tempo a tentar explicar o que quer que seja. Porque essas pessoas não querem perceber nada. Não têm capacidade para assimilar um argumento que destrua por completo as bases do seu ódio e preconceito. Por mais simples e básico que esse argumento possa ser. Quando é o ódio e o preconceito que mandam na pessoa, não há nada a fazer. A única missão (talvez seja melhor obsessão) é fazer com que o ódio vença e destrua o alvo de tantos sentimentos negativos. Como tal, esta ideia fixa, só dá margem para que a pessoa procure maldade em tudo o que existe em seu redor e que odeia. Mesmo que não exista maldade em lado nenhum.

E, por mais que tente e queira (em alguns casos acontece) nunca conseguirei ajudar uma pessoa assim. E quando digo ajudar é simplesmente fazer essa pessoa perceber que o quadro que tem na sua mente está ao contrário. Por mais que aparente ser simples, torna-se praticamente impossível dar o toque necessário que vai colocar o quadro na sua posição correcta. Isso terá de ser feito pela própria pessoa. Mas, quando o ódio é que comanda a vida, é algo que nunca irá acontecer. Porque a pessoa aprendeu e só sabe viver com o quadro ao contrário.

E outra coisa que estas pessoas raramente compreendem é que o ódio vive exclusivamente dentro delas. São elas que são movidas por esse sentimento nefasto. Por mais que tentem, esse ódio nunca será partilhado pelo alvo do seu ódio. Quanto muito, existirá quem tente perceber o que leva alguém a sentir ódio. Confesso que já fui assim. Mas há muito que deixei de ser. Agora, pego na cerveja e vou à minha vida. E isso sabe muito mas mesmo muito melhor. E dá anos de vida porque vive-se muito melhor onde existem outras cores além do preto que impede que se veja o que está a centímetros do nosso nariz.

8 comentários:

  1. Tenho uma pessoa próxima de mim, que é anti-Benfica (ele diz ser do sporting também, mas assume-se anti-Benfica), que numa discussão sobre bola disse-me que se eu estivesse no estádio num dia de Benfica Sporting que, se aquilo desse para o torto que eu apanhava também porque ele deixava de ver.... A partir desta afirmação, deixei de o ver com os mesmos olhos... :(

    Não consigo entender esta linha de raciocínio... Esta maneira de (não) viver....

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    1. Dispenso ódios. Não me acrescentam nada. E o que nada me acrescenta é porque não me faz falta.

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    2. São adeptos desses que envergonham o meu clube. Não me revejo minimamente, nem no ódio ao benfica, nem no "dar para o torto" em derbys.
      Aliás, um dos melhores jogos de futebol (um dos maiores espetaculos, arrisco mesmo a dizer) a que assisti no estádio foi mesmo um benfica x Sporting.

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  2. Senta-te tranquilamente à tua porta com a cerveja na mão, verás passar o funeral do teu inimigo.

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    1. Não tenho inimigos e detesto funerais mas não dispenso uma bem geladinha :)

      Quanto aos funerais, digo apenas que existem pessoas que cavam a sua sepultura muito mais depressa do que julgam.

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