16.6.14

a diferença entre perder e perder

Ainda não percebi quem é que jogou contra a Alemanha. Se foi Portugal ou se foi a selecção de Andorra, do Luxemburgo ou de San Marino. E peço desculpa a estas selecções. A minha escolha é simples. São das mais amadoras do futebol europeu. A comparação é apenas por aí. Até porque Portugal tem profissionais muito bem pagos que jogaram como amadores do campeonato distrital, que recebem uma sandes de courato e uma cerveja depois do jogo antes do regresso a casa.

Ganhar, empatar ou perder são três resultados possíveis na maioria dos jogos. Se Portugal tem vencido o jogo não seria a melhor selecção do mundo. Ter perdido também não faz com que seja a pior do mundo. Nem sequer devem ser colocadas (no imediato) em causa as opções de Paulo Bento. Portugal perdeu. E perdeu bem. Mas aceitava isto se houvesse entrega e luta por parte dos jogadores. O que resultaria numa derrota sem grande impacto futuro.

Agora, Portugal foi humilhado. E pior do que isto, colocou-se a jeito e deixou que a humilhação fosse crescendo. Além disto, parecia um grupo de jogadores que se tinham visto pela primeira vez dez minutos antes do jogo. Portugal até nem entrou mal no jogo. Ronaldo isolou Hugo Almeida que, de forma incompreensível, não só não conseguiu correr como nem teve força para fazer um remate com força à baliza. O jogo tinha poucos minutos e parecia, pelo menos para Hugo Almeida, que já durava há cinco dias.

Depois, Rui Patrício tremeu. E por pouco não ficou na fotografia do golo mais ridículo do Mundial. E a partir daí veio o descalabro. Uma grande penalidade (duvidosa, é certo) desnecessária cometida por João Pereira. Pepe, de quem nenhum árbitro deve ser especial amigo desde que decidiu pontapear um jogador até à exaustão, perdeu a cabeça de forma infantil. Independentemente do teatro do alemão, Pepe tem de ignorar o jogador. O árbitro nem marca falta e Pepe vai encostar a cabeça ao adversário. Porquê? O que esperava ganhar com aquilo? E, como se isto não bastasse, Bruno Alves (que a meias com Pepe fica muito mal no segundo golo) ainda decide participar no terceiro golo alemão. O jogo, que já não tinha história, morreu aqui e só faltava perceber até onde é que a Alemanha queria acelerar.

Uma coisa era perder sem nada disto. Um jogo disputado com alguém a superiorizar-se em detalhes. Outra, completamente diferente, é perder desta maneira infantil e que deixa muitas marcas. A bola parece queimar. Os jogadores atrapalham-se uns aos outros. Passam a vida a refilar com o árbitro e não se nota a união que dizem existir. Isto tudo vai fazer com que o jogo contra os Estados Unidos, de quem ninguém nada espera nesta competição, deixe os jogadores portugueses muito nervosos com medo do mais pequeno erro.

Ao bom estilo português, o comentador da RTP já fazia contas. Aos jogos dos adversários. “Era bom que o Gana empatasse com os Estados Unidos”, dizia. Eu não quero saber desse jogo para nada. Porque nem eu nem nenhum português tem controlo sobre esse jogo. Aquilo que me importa é o que Paulo Bento e os jogadores portugueses conseguem controlar e que ignoram. E a desorganização infantil que se viu hoje no relvado é algo que pode e deve ser controlada pela comitiva portuguesa.

Hoje, num texto mostrei ser contra a ideia dos coitadinhos. Porque não somos coitadinhos. Mas também não basta dizer que temos o melhor jogador do mundo para assustar os adversários. O que assusta os adversários é quando Portugal joga como fez na Suécia. Se essa equipa ainda aparecer, podemos ir longe porque qualidade não nos falta. Se só conseguirem fazer o que fizeram neste jogo, em breve estão a aterrar em Lisboa e sem ninguém à vossa espera. 

26 comentários:

  1. Foi chocante. Uma humilhação completa! E do outro lado não estiveram o Reus ou Schweinsteigger, por exemplo.
    Não houve ambição, nem entrega, nem espírito de sacrifício.
    E o Patrício? Já a pensar numa mudança para o Mónaco?

    Abraço

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    1. O pior é que se meteram a jeito para isso. Não considero que o Patrício seja o culpado de tudo e fala-se num arranjinho com o Mendes. Aquela exibição só o prejudicou.

      Abraço

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    1. Começo a encontrar muitas semelhanças com a Coreia em 2002.

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  3. Já disse que gosto de te ler? :)
    Gostei da tua análise! (infelizmente)

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  4. Há dias em que mais vale não jogar,hoje definitivamente foi um desses dias...as coisas não correram nada bem.
    A ver vamos como correm as coisas no domingo*

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    1. Eu ainda acredito mas começo a sentir o cheiro da Coreia em 2002.

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  5. Não diria melhor! É exatamente o que penso. A atitude infantil do Pepe foi vergonhosa (e olha que lido com muitas crianças e raramente os vejo agir assim), os nossos jogadores abandonaram (a cara do CR ao chegar ao campo na 2ª parte, a verdadeira cara de frete) e os alemães que brincaram com a bola sem se cansar durante a 2ª parte, porque se quisessem, teriam marcado 10 golos, na maior. A isto é só juntar uma arbitragem por vezes duvidosa e lesões que dispensávamos bem.
    Ainda tenho fé, até porque quando começamos mal, chegamos longe, pode ser que a história se repita. :-)

    http://thelusofrenchie.blogspot.pt

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    1. Muitas pessoas podem não saber mas a selecção alemã treinou diversos dias às 13 horas locais, a hora do jogo. Chegaram muito tempo antes e foram para o local mais quente. Treinaram em estufas. No ginásio, os ar condicionado era desligado.

      A isto se chama preparação.

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  6. Acho que devias ir tu para lá! Dar motivação e a raiva (exceto ao Pepe) necessárias para se entregarem ao jogo.
    Deviam convidar-te para uns discurso motivacionais. :) (Não estou a ser sarcástica!)
    Vergonha, uma vergonha, aquilo que se viu ontem...

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  7. Não estava à espera de grande resultado, a Alemanha é forte, era favorita e soube sê-lo, agora a diferença é grande entre ser humilhado e perder e a equipa Portuguesa foi humilhada.
    É uma pena que existam tantos interesses por trás dos jogadores convocados e que uma equipa esteja dependente de um talento que, para grande azar nosso, está lesionado e em baixo de forma.
    Estou curiosa para saber que o que acontecerá com o Pepe, já que Paulo Bento (um jogador insurreto no seu tempo) diz que não tolera indisciplina, sendo mesmo esse o motivo apontado para a não convocatória de Ricardo Quaresma.
    Os jogadores estiveram mal, mas para mim o grande culpado é Paulo Bento, levou para um campeonato do mundo, uma equipa cansada, com alguns elementos a acusar os anos da profissão e nem sequer teve a criatividade de surpreender o adversário, onze inicial totalmente previsível, tática e posições esperadas, ora sendo os alemães exímios no estudo das equipas adversárias não era de admirar que estivessem preparados para receber o 11 português.
    Bastou cobrir as linhas de passe para Ronaldo e a equipa desmontou-se com um castelo de cartas, não sei também onde andaram Moutinho e Raul Meireles, o meio campo Português simplesmente não existiu.
    Correu mal é verdade, mas quando corre tanta coisa mal é porque alguma coisa não está bem.

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    1. Eu acreditava na vitória, que podia ser para nós, por um ou três golos de diferença. Tal como acreditava na derrota, por um ou por três golos. Mas, com um jogo equilibrado em que os golos podiam acontecer para cada lado. Assim, Portugal colocou-se a jeito para ser humilhado.

      A nossa selecção tem um problema, semelhante ao da Espanha. Do meu ponto de vista, as selecções vivem dos bons momentos das equipas que dão mais jogadores. Por exemplo, a Espanha vivia muito do futebol do Barcelona do Guardiola. Agora, o Barcelona joga mal e isso nota-se na selecção. Deixa de ser a espinha dorsal do Barcelona e passa a ser um conjunto de jogadores que se adaptam. Por exemplo, a Alemanha, tem muito do Bayern Munique do Guardiola. Que joga muito bem. E isso é aproveitado pelo seleccionador. Tal como Scolari aproveitou, em 2004, o excelente funcionamento do meio campo do Porto.

      Paulo Bento apostou nos jogadores da sua confiança. Não critico isso. Acho que é uma aposta que deve ser respeitada. Mas este ano, muitos desses jogadores estiveram mal. Independentemente do que venha a acontecer, será o final de um ciclo. Muitos destes jogadores já não vão estar no próximo Europeu. E provavelmente Paulo Bento também não.

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  8. Estou, do primeiro ao último parágrafo, de acordo. Entendo que, a dada altura, se misturem opções (porventura negligentes) em detrimento de acções efectivas. Não julgo relevante, neste contexto, usar de comparações que, em tempo algum, nos vão levar para outra fase desta competição. Portugal foi bastante menor na sua prestação. E, claro, puxar de títulos, sejam eles quais forem, não eleva a postura em campo.

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    1. Portugal tem um bom grupo de individualidades. Mas isso não basta.

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  9. Em continuação à nossa troca de ideias facebookianas: estás mais contente agora que o menino que ofereceu um golo aos alemães está com um pé fora de cena?
    Volto a dizer que pelo que vi, deviam estar todos era com os dois pés fora de cena para não fazerem figuras como aquela.

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    1. Acho que é feio "inventar" uma lesão (essa é a ideia que tenho) para tirar o Patrício da baliza. Não é o único culpado. Devia deixar de jogar por opção, sem palhaçadas destas. Esteve mal, sai. Tal como os outros.

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    2. "Esteve mal, sai. Tal como os outros"... Bruninho, e jogas com quem? Estiveram todos miseraveis (quem ainda sim me surpreendeu - pela positiva - foi o Nani)

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  10. Como hoje não estou de muitas palavras, só me apraz dizer que concordo com o que escreveste. Foi humilhante...

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