3.6.14

à conversa #1

Num passado recente chegou-me às mãos o livro Hoje é Melhor do que Para Sempre, um romance erótico escrito por uma mulher portuguesa, de “nome” S.D. Gold. Depois de conhecer a obra, surgiu a possibilidade de estar à conversa com a autora, de modo a perceber, entre outras coisas, um pouco mais dos motivos da existência do livro e das razões pelas quais optou por não dar a cara pelo seu trabalho. E desta conversa surgiu a primeira entrevista que fiz exclusivamente para o blogue, acabando por dar início a mais uma rubrica. “à conversa” será um espaço onde irei conversar com diferentes pessoas sempre que exista esse desafio ou possibilidade.

Como surgiu a ideia de escreveres o livro Hoje é Melhor do que Para Sempre?
Surgiu naturalmente. Comecei a escrever uma história, depois apeteceu-me continuá-la. Escrever é um hábito de anos, mas nunca tinha escrito um enredo com o objectivo de que se transformasse em livro. Este começou por acaso e depois fez-me sentido chegar a um fim.

Neste livro ficamos a conhecer a história de Viviane Rose e Maxwell Fox. São duas personagens totalmente inventadas ou existe uma realidade associada às suas histórias?
São personagens ficcionais. Têm traços comuns a todos nós, por isso, são certamente inspiradas em pessoas com quem me fui cruzando ao longo da vida. Presencialmente ou não.

Estes jovens, ao longo do livro, querem desfrutar ao máximo da sua sexualidade. Exploram os corpos até ao limite. E esta viagem carnal esbarra numa questão: será o amor compatível com este lado louco e carnal, quando levado ao extremo, da paixão? Esta é uma das questões do livro. Num plano não ficcional, existe compatibilidade?
Eu acredito que podemos viver as duas coisas, mas em momentos diferentes. Podemos viver uma, duas ou várias paixões loucas sem chegar ao estado mais puro do amor. Mas também pode um estado anteceder ao outro, como uma evolução natural entre a paixão, mais insana, intensa e instável, e o amor, mais sereno e estável. São ambos estados importantes e necessários. Em simultâneo, não os acho compatíveis, porque se destroem um ao outro.

Trata-se de um livro erótico. Num passado recente, As Cinquenta Sombras de Grey, foram muito badaladas. Existe (quer seja esta ou outra qualquer) alguma inspiração na criação deste livro?
Este livro não é inspirado em As Cinquenta Sombras de Grey, apesar de a associação ser recorrente. Mas julgo que isso acontece porque a obra de E. L. James se tornou numa referência deste género literário e, necessariamente, qualquer novo livro sobre o tema é relacionável. Eu não os acho próximos, a não ser no facto de tratarem de erotismo. Mas não me aborrece nada que os relacionem! Pelo contrário! Quem me dera que o sucesso deste livro chegasse perto do arraso que foi e é a trilogia de E. L. James.

Será uma experiência única ou podemos esperar mais livros do género?
No que depender de mim, este será só o primeiro.

Sentes que este tipo de literatura é cada vez mais procurado pelas pessoas?
Sinto. Aliás, os números mostram isso. Em Portugal e no mundo, há uma procura crescente por este género literário.

E ainda existe vergonha e timidez no momento em que se compra um livro como o teu? Ainda se espera que não esteja ninguém no balcão para pagar, por exemplo?
Não é geral, se calhar já nem acontece na maioria dos casos, mas acho que ainda existe esse constrangimento.

Trata-se de um conto erótico. Chegaste aos trinta, és casada, mãe, uma profissional bem-sucedida e vives num país pequeno. Estes são os principais motivos que te levaram a optar por não revelar a tua verdadeira identidade?
O único motivo porque decidi não revelar a identidade é a hipotética incompatibilidade entre o exercício da minha profissão e o facto de ser autora de um livro erótico. Gosto do que faço e gosto de escrever. E prefiro não ter de escolher entre um deles.

Ainda existe a mentalidade de quem escreve sobre sexo tem de ser necessariamente uma pessoa obcecada por sexo?
Acho que hoje acontecerá menos, mas vivemos numa sociedade conservadora. Ainda haverá quem, sem me conhecer, me achará “uma grande maluca”, só por ter escrito um romance erótico.

Porquê S.D. Gold?
O nome tem um significado, não foi escolhido ao acaso. Mas revelá-lo seria uma charada fácil para chegar à minha identidade. Posso dizer que o Gold tem a ver com o valor que dou à concretização do sonho de publicar este livro.

Se encontrares, por exemplo, um grupo de pessoas a falar sobre o teu livro, vives um misto de sensações? Ou seja, de um lado o orgulho de ser teu. Do outro, o facto de ninguém saber quem és.
É curioso fazeres-me essa pergunta. Antes do livro ser lançado pensei muito nisso. E, conhecendo-me, diria que numa situação dessas iria ter uma vontade enorme de dizer “fui eu, fui eu”. Mas agora, que já o vi nas livrarias, nas montras e até na mão de estranhos, acho que me desapeguei. Parece que agora já não é tão meu, ou só meu. E acabo por me concentrar só no orgulho imenso que tenho de o ver com “vida própria”.

Existe um vídeo promocional do livro, onde só surgem mulheres. É um livro para elas?
Não acho que seja um livro só para mulheres. Aliás, já tive feedback de leitores, homens, que fazem questão de me dizer o contrário. Mas há mais mulheres a ler livros deste género, isso é um facto. Eu escrevi-o para todos. E quis dar ao Maxwell, o meu protagonista masculino o mesmo espaço que a Viviane tem.

Qual a reacção/sensação que gostavas que as pessoas tivessem ao longo da leitura e sobretudo quando acabarem de ler o livro?
Curiosamente, uma reacção muito próxima daquelas que tenho recebido. Gostava que as pessoas partilhassem as emoções dos dois protagonistas, sentissem o que eles sentem, riam com eles, sofram, anseiem, vivam o dia-a-dia com eles. E, no fim, gostava de conseguir surpreender. Não gosto de finais fechados, expectáveis ou óbvios.
Gostava que a experiência de ler este livro fosse, no seu todo, gratificante.

Hoje é mesmo melhor do que para sempre?
Eu sei que é impossível viver sempre com esta máxima. Também precisamos de futuro, de sonho, de esperança. Mas acho que olhar para a vida valorizando o agora, o hoje, aquilo que estamos a viver, pode ajudar-nos a ser mais felizes. E menos preocupados!


10 comentários:

  1. Gostei desta nova rúbrica :)
    Vou ficar à espera de mais!

    Gostei do titulo do livro, vai para a minha lista dos "To read" :)

    Bjs*
    Z.

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    1. Acontecerá como aconteceu esta, sem programação :)

      Obrigado e vale a pena a leitura.

      beijos

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  2. Não li nem vou ler....mas é o que está a dar e ganha-se muito dinheiro.....a autora tem bom sentido comercial o que é muito importante na vida ( não basta ser bom medico, bom mecânico, ou "bom" politico, temos de vender e saber vender-nos) e em vez de perder tempo a escrever historias "tórridas" para a plateia anonima em blogs virtuais que não pagam nem são pagadores, vai direta ao assunto...ou seja ao $$$$$$$$$$ que salvo melhor opinião é das coisas mais importantes da atualidade.

    "E O BURRO SOU EU " como dizia outro, que não lhe ficava nada atras e era e é um grande espertalhão.

    FinKler

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    1. Acho que devias ler pois é bom. É certo que existe um lado de negócio nisto. Como em praticamente tudo nas nossas vidas. Acho perfeito aliar um prazer a um negócio. Resulta num trabalhado motivado.

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    2. Tens razão...e há pessoas (algumas, talvez poucas) que têm grandes possibilidades literárias, criativas e de "encaixe intelectual", que deviam olhar mais para elas e fazer como a GOLD (o nome diz tudo, ai se diz, até o Salazar gostava, não de o ter no bolso dele, porque no dele só havia pó, mas sim nos cofres do BP enquanto o povo andava descalço.....), e não perder tempo para e com os outros porque tal como na politica não há gratidão blogueira!!!!!

      Sigamos o cherne, no caso em apreço a GOLD.

      FinKler

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    3. Acho que todas as pessoas devem arriscar com algo de que gostam.

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  3. Já foi adicionado à minha lista de livros a adquirir. Obrigada pela sugestão.
    Porreira a nova rubrica... congrats! :)

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