2.12.13

o rapaz que tinha nome de whisky

A primeira vez que ouvi falar de Paul Walker foi em 2001, quando estreou o primeiro filme da saga Velocidade Furiosa. Pouco tempo depois, comecei a namorar. Com o avançar dos anos, o rapaz que tinha nome de whisky (esta é a forma como é conhecido lá em casa) passou a morar no meu apartamento. Era, quer dizer, é e sempre será, um daqueles homens que rouba suspiros à minha mulher.

Como sou fã da saga velocidade furiosa – sei sempre ao que vou mas nunca me aborreço ou desiludo com nenhum dos filmes – ganhei apreço por Paul Walker, que dava vida ao personagem com quem mais me identifico. Isto fez-me querer saber mais sobre ele. Fiquei a saber que era dado a filmes da chamada série B. Projectos que nunca deixou de aceitar apesar do sucesso (leia-se conta bancária choruda) motivado pelos filmes de carros. Descobri também que era defensor de várias causas humanitárias. Recordo-me ainda de ter acompanhado o documentário/expedição em que participou, do National Geographic, para estudar os tubarões brancos, que passou em Portugal há menos de um ano, se não estou enganado.

Apesar de só conhecer isto sobre o actor, fiquei bastante triste com a notícia da sua morte. Que além de trágica tem uma dose q.b. de ironia. Paul Walker era dono de vários carros de alta cilindrada e de uma garagem direccionada para os mesmos. Aliás, era o seu amigo e director desta garagem que conduzia o Porsche onde ambos morreram. Também é irónico que morra dentro de um carro. Ele, que já tinha competido em provas e que recusava duplos na maior parte das cenas dos filmes velocidade furiosa.

Quando soube da sua morte senti o mesmo que tinha sentido quando fui informado da morte cerebral de Angélico Vieira. Com a diferença de que conhecia o jovem cantor e actor, com quem tive a oportunidade de viver algumas histórias engraçadas como uma futebolada (3x3) numa praia algarvia em que a sua equipa só dava caneladas enquanto Angélico dizia: “fair play, fair play” ou ainda os cerca de dez minutos de gargalhadas protagonizados por Angélico que não conseguia subir para uma mota de água.

Em ambos os casos - como noutros de pessoas especiais para mim - parei para pensar na vida. Nas razões da vida que a própria razão desconhece. No porquê de morrerem pessoas que ainda têm tanto para viver. Ou seja, numa série de perguntas para as quais ninguém tem uma resposta que vá além do “é a vida” ou do facto de Deus (para quem acredita) “querer estar rodeado dos melhores.”

Noutra perspectiva, os casos de Angélico Vieira e Paul Walker são um exemplo claro de que não existem carros indestrutíveis. Conheço pessoas que gostam de acelerar porque entendem que têm carros muito bons, cheios de segurança. Tanto um acidente como outro são exemplo de que todos os carros partem, pegam fogo e roubam vidas.

E ainda em mais uma perspectiva, estas trágicas mortes mostram que não vale a pena perder tempo com pequenos acontecimentos que aos nossos olhos parecem uma tempestade. Não vale a pena perder tempo com pessoas insignificantes nem com esquemas e artimanhas que não têm qualquer utilidade e que nada acrescentam à vida. Como dizia Paul Walker, “You know, all that really matters is that the people you love are happy and healthy. Everything else is just sprinkles on the sundae.”

6 comentários:

  1. Gostei muito deste texto; sou daquelas pessoas que vive algumas angústias devido a problemas relacionados com um episódio do meu passado recente e realmente quando tudo pode perder-se em segundos....dá que pensar.

    BE

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    1. Um breve segundo muda tanta coisa e faz com que se veja a vida de forma diferente.

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  2. Excelente, o seu último parágrafo.
    Cumprimentos.

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