12.12.13

agora escrevo eu #22

O tema da emigração é algo que me diz muito. Por nunca ter tido a coragem (por factores que já expliquei) de mudar de país e por conhecer muitos relatos de quem fez as malas e partiu à procura de uma vida melhor. Este relato, da Cátia Lopes, é daqueles que dá que pensar e que nos deixa a pensar se a emigração para os jovens é uma opção ou um empurrão/obrigação.

“Chamo-me Cátia, tenho 31 anos e sou uma dos muitos jovens portugueses que foram à procura de uma oportunidade, no estrangeiro. Na verdade o que pretendo é dar voz à geração de jovens emigrantes, porque dar este passo deveria ser uma opção e não uma obrigação. Deveria ser permitido a todos os jovens fazer uma escolha, todos temos o direito de fazer escolhas e não de ser empurrados pelo nosso próprio país para uma escolha que poderá não ter volta. Não sabemos se algum dia teremos a oportunidade de regressar.

Há dez meses atrás e após seis meses de desemprego em Portugal eu decidi emigrar para Londres, sim foi uma escolha, poderia não o ter feito, mas muito provavelmente não teria conseguido dar um rumo à minha vida. Sair do país foi como se tivesse aberto uma janela para o futuro porque sentia que estava cada vez a ser empurrada para um caminho incerto, sem rumo.

Foi a minha escolha, mas houve quem não tivesse tempo para essa escolha.
Confesso que emigrar tem inúmeros aspectos positivos e não o vejo como algo negativo. As aprendizagens são de tal tamanho que não haveria currículo vitae que conseguisse conter inúmera descrição.

Na verdade, quando comecei esta nova etapa na minha vida, tornei-me outra pessoa comecei a dar um grande valor às coisas simples e a valorizar que mais importante do que ter é ser e que o valor da vida está nas pequenas coisas e, principalmente, comecei a dar o real valor ao meu país, porque quando estamos a viver fora percebemos que Portugal teria tudo para dar certo.

Este país tem inúmeras qualidades que poderiam fazer dele um país cheio de oportunidades, mas pelo contrário ele está a ser destruído por um desgoverno total e impune. E todos permanecemos resignados sobre a justificação de que é a crise. E será que esta crise terá algum dia, um fim?

E se um dia eu achei que era a hora de arriscar e ir à procura da felicidade no desconhecido, outro dia, irá haver que quererei voltar para o meu país, porque não há sol como o de Portugal, porque é lá que está o lugar onde eu nasci e cresci, é lá que está a minha família, é lá que está o meu porto de abrigo.

Não sabemos se algum dia teremos a oportunidade de regressar, porque cada dia que passa sinto que aquele barco ao largo do oceano está cada vez mais a afundar.”

21 comentários:

  1. Olá Cátia, também eu estou na Alemanha por escolha minha e sinto o mesmo que tu. A falta do céu muito azul, do cheiro do mar, do sol que ilumina e aquece, apesar de ver outras coisas e ter muitos amigos por aqui que compensam essa parte. Gostei do teu texto e partilho da tua opinião. Boa sorte. PS: passa pelo meu blogue para conversarmos um bocadinho se quiseres. Célia da Alemanha.

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  2. Tal como tu, eu também nunca tive a coragem de zarpar para outra país. Mas a cada dia que passe me arrependo mais.

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  3. Sou uma Cyborg

    Parece que o texto foi escrito por mim, agora recém-emigrante e já instalada no país a ter formação para depois dar aquele aguardado salto e poder contribuir ao país que me acolheu tudo aquilo que me vai dando, algo que Portugal não é capaz neste momento. Dou valor, mas guardo a resignação tremenda, a revolta que vai saindo aos poucos porque o que realmente importa é a felicidade e o bem estar para connosco mesmo. O tempo cura tudo.

    Bjs

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  4. Texto belíssimo e representativo do sentir de muitos dos que têm de partir...Nunca emigrei...mas passei um ano no estrangeiro no âmbito de um estágio na minha profissão...apesar de não ser verdadeiramente uma situação de emigração e tivesse volta certa e anunciada...voltei outra pessoa , como refere a Cátia e pensei o país de outra maneira...na altura foram-me feitas propostas para ficar...eram outros tempos e eu era bem jovenzinha aceitei apenas a proposta de completar os estudos...como disse tinha repensado o país e tinha algumas certezas que não tinha quando parti...Mas eram outros tempos...a mesma jovenzinha colocada perante a situação atual e com a mesma proposta para iniciar uma profissão lá fora que responderia???? Às vezes penso nisso e ainda não cheguei a uma conclusão!
    Beijinhos
    Maria

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  5. Tão verdade este relato que até dói! Neste momento não tenho coragem para emigrar mas vejo o meu futuro cada vez mais incerto! Realmente é revoltante!

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  6. Todos os dias os vejo partir... são cada vez mais...vivo uma angústia antecipada de saber que estou a criar duas filhas que certamente um dia vou ter de ver partir, sinto uma tristeza e uma raiva profundas!

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    1. Antigamente entristecia-me ver as pessoas a irem embora. Agora, fico feliz porque sei que estão todos bem.

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    2. Sim, mas quando forem os teus filhos...outro galo canta...

      jinhoooossssss

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  7. Obrigado a todos pelos comentários e obrigado ao Homem sem Blog por ter partilhado o meu escrito. Como dizia um cronista do P3, do jornal Público, emigrar devia fazer parte do currículo de todos os jovens, porque as experiências associadas são inúmeras. A grande questão é que todos nós deveriamos poder ter o direito de decidir quando queremos partir e quando queremos voltar. Neste momento milhares de pessoas partem porque não tem alternativa e muito provavelmente não voltarão.
    Um projecto pessoal muito recente vai me permitir dividir a minha vida entre Portugal e a Inglaterra. Vou publicar um livro infantil e poder faze-lo no meu país é algo de fantástico, mas todos os dias me pergunto se algum dia poderei tomar a decisão de regressar ao meu país e lá passar o resto da minha vida.
    Aproveito para divulgar a página do meu livro www.facebook.com/familiadiferente

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    1. Obrigado eu Cátia. É muito bom poder passar uma mensagem como a tua.

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  8. Infelizmente, cada dia que passa mais as esperanças nos fogem.
    Tenho sobrinhos qje emigraram e sei o quão gostariam de regressar a Portugla, por ser o país do sol, da montanha, do mar, o país de inúmeros recursos desperdiçados pela geração que agora nos governa.

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  9. Concordo que emigrar porque não se tem alternativa é mau. Emigrar e sair do país é uma experiência que não tem preço. A mente tem que estar aberta às experiências, os olhos bem abertos para se absorver tudo. Eu estou emigrada desde os meus 22 e já tenho 31, passei por Madrid, Barcelona, Angola e agora estou em Sydney. Adoro viver fora, mudar de país, adaptar-me, conhecer, conhecer de verdade a cultura, o país, a língua....Nem sempre é fácil mas temos que ser positivos, trabalhar e dar o melhor de nós. As oportunidades e o que aprendemos é imenso! E acredito que vou estar ainda muitos anos sem voltar a Portugal. Por um lado é um país lindo mas que para mim é pequeno, por outro lado fiquei viciada nas viagens, no novo, na falta de rotina na vida. Não dou mais valor ao país, mas sinto saudades. Menos agora porque do meu circulo de familiares e amigos, a maior parte estão fora, então custa menos. Fico triste com as notícias que chegam de quem ainda ficou e dos media, mas quando vou também vejo uma lisboa (só conheço esta realidade mais de perto) mais cosmopolita, com mais eventos a acontecer, mercados que abrem, mais gente na rua, pequenos negócios e originais! Mas os que emigram deveriam ter essa opção, fazer porque querem, não porque estão desesperados. Ainda assim acredito que muita coisa boa vai sair desta geração que sai do país, os que voltarem, voltam mais preparados, com a mente aberta a outras culturas, mais resistentes com ideias frescas.

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