12.11.13

médicos e dramatismo

Acabei de saber que os alunos do curso de medicina têm aulas de noções básicas de representação. Assumo que é uma daquelas informações que me leva a esboçar um sorriso. Mas, tem toda a lógica que assim seja. Estas aulas servem para que aprendam a distinguir as pessoas que realmente padecem de algo daquelas que têm a mania das doenças, que entopem os hospitais e centros de saúde sem motivos e que levam os profissionais da saúde a perderem o seu tempo quando podiam estar ocupados com quem realmente necessita.

Aquilo que eu gostava de saber é o processamento de uma destas aulas ministradas por actores. Será que aprendem a analisar a voz e a postura corporal? Aprendem-se truques que envolvem a memória sensorial do suposto paciente? Fiquei curioso. Está por aí alguém que frequente (ou já tenha frequentado) uma destas aulas e que possa contar tudo o que se passa nas mesmas?

Não sei de quem partiu esta ideia. Mas acho brilhante. Por dois factores. Por um lado, ajuda a aligeirar o curso que deve ser bastante complicado. Por outro, prepara os alunos para uma realidade que pode ser complicada de distinguir nos primeiros tempos de vida profissional. Que passa pela gigantesca quantidade de pessoas que ocupam o tempo livre nos hospitais e centros de saúde a queixarem-se de problemas que felizmente não têm.

28 comentários:

  1. Acabei o curso de Medicina este ano e tive aulas na cadeira de Psicologia Médica em que ensinam, através do chamado "role-play", a dar más notícias a um doente e/ou familiar e a lidar com doentes agressivos. Apenas e só. Como preparação para enfrentar os primeiros anos de vida clínica isso é muito pouco. Infelizmente tem de ir lá com a experiência e anos de prática para saber interpretar cada doente.

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    1. Acredito que sejam momentos bastante complicados. E é fundamental que os alunos sejam preparados para eles.

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    2. Quando mencionaste realmente as ditas aulas, associei logo ao facto de facilitar os médicos a dar uma má noticia a alguém. Nunca me passou pela cabeça que fosse para detectar doentes de 'falsos doentes'. Pois acho que realmente se uma pessoa vai ao médico é porque precisa. Ainda que o médico ache que não. Se a pessoa por si só se sentir melhor após ir ao médico não vejo mal nisso. Agora há prioridades sem dúvida, e por isso mesmo existem as urgências. Não concordas?

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    3. Segundo me foi dito tem a ver com perceber se o doente mente.

      Acho que existem pessoas que acreditam que têm algo mas que não têm. Por exemplo em House isso era muito bem retratado.

      Concordo contigo. E com as prioridades. Mas também acredito que muitas pessoas adoram estar nos hospitais e sobretudo nos centros de saúde.

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  2. se vao ao centro de saude ou hospital certamente padecem de algo...pode nao ser algo fisico, mas algo que tambem doa...e os medicos estao la tambem para esses, senao seriam mecanicos e nao pessoas que ajudam outras pessoas a ficarem mais saudaveis, com todos os aspectos que ser saudavel tem
    Ines

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    1. Inês, acredita que muitas pessoas vão aos hospitais e centros de saúde sem qualquer problema. É uma realidade.

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  3. Por falar em medicina...

    Ontem, no metro, no fim de um dia de trabalho chato, levei com uma jovem estudante futura médica que contava à (pobre) mãe a sua primeira aula de Tanatologia. O pior é que contava com pormenores e num tom de voz, digamos, elevado. A maioria das pessoas olhava com cara de enjoada. Eu, que até gosto de filmes de terror, olhava com cara de “CALA-TE QUE JÁ NÃO TE POSSO OUVIR!” :-) [foram uns longos 15 minutos em modo 'duracell'!]

    Mas pela ‘dramatização’ das cenas, eu acho que das duas, uma: ou ela já tinha tido as tais aulas de noções básicas de representação… ou devia deixar a medicina e dedicar-se às telenovelas! :-)

    [jovem, se lês este blog… MENOS, ok?]

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    1. Imagina isso num restaurante quando estás a almoçar ao lado de uma mesa de médicos que falam detalhadamente de operações.

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    2. Eu trabalhei uns tempos num laboratório de análises... os almoços com o pessoal do trabalho incluiam sempre descrições detalhadas de escarros, fezes, urinas e coisas do género...

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    3. Para quem é profissional de saúde estes almoços são perfeitamente normais. Se não fossem estaríamos na profissão errada. ;)

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    4. Eu compreendo que assim seja mas eu sou daquelas pessoas que não gosta de falar da profissão. Quando almoço com colegas quero sempre que os temas sejam diferentes. Caso contrário parece que não saí do trabalho.

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    5. Atenção, para mim o problema não eram os pormenores, pois não sendo da área da saúde, já lidei com certas coisas... o problema é que ela não se calava! :-)

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  4. Verdade? Essa não fazia a mínima ideia! O meu sobrinho está no 5º ano de medicina, mas nunca falou tal coisa... mas vou perguntar-lhe. Como ele está a fazer Erasmos em França, não sei se lá as cadeiras são as mesma, mas vou perguntar na mesma.

    Bjs

    Sandra / Funchal

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    1. Eu soube hoje disto. Sei que acontece no Porto. Mas depois diz algo.

      beijos

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  5. Não sei mas, do meu ponto de vista, as aulas também deveria servir para ensinar os médicos a não torcer o nariz quando o caso é feio. Já para não falar em diversas situações em que são obrigado a evitar um "que nooooojo!".

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    1. Isso vai da pessoa. Mas é certo que muitas pessoas deviam saber fazer isso que contas.

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  6. Acabei o meu curso de Medicina em Julho passado e não tive qualquer aula de noções de representação.
    Tenho de concordar com o comentário da Inês. Não é só a dor física que leva as pessoas ao médico. Pode ser aquela dor no peito, aquela dor nas costas que a tristeza ou a ansiedade fez que se sentisse. Até admito que por vezes podem ir para conversar, desabafar. Muitas vezes não têm mais ninguém para o fazer. E o médico serve também para estar presente na saúde, não só na doença.
    Por outro lado, durante o curso, na minha opinião, somos mal preparados para comunicar. E não digo que não sabemos fazer uma história clínica ou falar com colegas. Mas temos dificuldade em comunicar a morte, lidar com ela, dar más notícias, por exemplo.
    E se as aulas de noções de representação servirem para melhorar isso, acho que são muito bem vindas.

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    1. Concordo contigo. Que o médico deve estar presente. Mas é bom que distinga se a pessoa tem algo ou se está apenas só. Acho importante.

      Lamento que o curso não prepare a parte da comunicação. É certo que isso parte da pessoa mas existem ferramentas e truques que devem ser utilizados em momentos complicados.

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  7. Entendo a necessidade dessas aulas. Não sabia que existiam, mas fazem todo o sentido. :)
    Uma vez no CSI ouvi que quando uma pessoa se está a lembrar de algo, intuitivamente, revira os olhos para o lado direito e quando uma pessoa está a fingir que se lembra de alguma coisa, mas está na realidade a inventar, revira os olhos, intuitivamente, para o lado esquerdo. Nunca confirmei se de facto é verdade ou não, mas acredito que haja truques deste género que ajudem a perceber se a pessoa está a mentir ou não.
    beijinho

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    1. Sei que existem no Porto. Eu gostava de saber se passa pelas coisas que dizes. É giro perceber tudo isso :)

      beijos

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  8. Essas aulas podem também ser relevantes para a própria actuação dos médicos no seu exercício profissional. Tentarem por exemplo controlar emoções e manifestações ao comunicarem notícias más.

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  9. Eu frequentei o curso de enfermagem e as aulas que tivemos não foram de representação (embora fizessemos roles plays)mas sim de comunicação (verbal e não verbal) de forma a pudermos conhcer um pouco melhor a linguagem nºao verbal e intrepreta-la. Também aprendemos a dar as más noticias a utentes e familiares.

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    1. Isso é muito bom. E, pelo que percebo pelos comentários, os cursos mudam muito de universidade para universidade.

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  10. Acabei o curso de Medicina no porto e nunca tive aulas de representação ,desconhecia essa cadeira será que é nova.?

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    1. Quem me contou foi o irmão de uma actriz que dá aulas destas :)

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  11. Ex-estudante de Medicina em Lisboa, nunca tive aulas de representação (mas tive aulas sobre como dar más notícias) ;)

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