8.11.12

temos de empobrecer e muito

“Temos todos de empobrecer e muito”, é uma das frases ditas por Isabel Jonet que está a causar polémica. “Empobrecimento na perspectiva de regressar ao que é mais básico. Não ter expectativas de que podemos viver com mais do que necessitamos, pois não há dinheiro para isso”, explica. A presidente do Banco Alimentar Contra a Fome aprofundou ainda mais um tema sensível. “Se nós não temos dinheiro para comer bifes todos os dias, então não comemos bifes todos os dias”, exemplifica.
 
Estas frases causaram uma gigantesca polémica e revolta que já levaram à criação de uma petição pública que pede a demissão de Isabel Jonet. Acho que fica mal à presidente de uma entidade que vive da solidariedade de um povo cada vez mais pobre referir que as pessoas têm quase uma obrigação de empobrecer ainda mais. O verbo escolhido foi infeliz. Todavia, a temática tem tanto de sensível como de importante.
 
Porque, acredito que as pessoas precisam urgentemente de aprender a viver com aquilo que têm. Saber viver dentro das suas possibilidades. Aprender a abdicar daquilo que não precisam e a não comprar o que não podem comprar. Só assim é que deixam de existir pessoas (conheço várias) que acumulam créditos para cobrir outros créditos já efectuados. Empréstimos que, em muitos casos, serviram para adquirir objectos sem qualquer utilidade para as suas vidas. E aprender a fazer isto não é empobrecer nem deixar de viver. É o oposto, aprender a viver.
 
Conheço pessoas que ganham 2000 euros mês e fazem vida de dois mil euros por mês. Outras que ganham 5000 e gastam esse valor por mês. E isto leva-me a um dos grandes problemas da minha geração: não saber poupar. É verdade que existem pessoas que não poupam porque simplesmente não conseguem fazê-lo mas a maioria não poupa porque não quer ou porque não sabe. Quantas pessoas é que se queixam da crise e dos baixos rendimentos mas são incapazes de abdicar do telemóvel mais caro do mercado, do portátil mais caro da loja ou do carro que mais combustível consome? Imensas.
 
Com isto não quero dizer que as pessoas precisem de ficar mais pobres – desse capítulo/missão encarrega-se o Governo – mas acho urgente que as pessoas aprendam a viver com aquilo que têm. Esta aprendizagem será perfeita se estiver associada ao espírito de poupança. Nem que, para isso se comece por valores baixos. Nem que seja poupar 20 euros por mês. Parece pouco mas ao fim de dez meses são 200 euros. E com este passo podem vir outros de valores superiores.

27 comentários:

  1. É fácil falar quando se tem a barriga cheia, como fez a Isabel Jonet. Infelizmente, muitas, muitas pessoas não viveram acima das suas possibilidades, e o único empréstimo que têm é o da casa. Ficaram desempregadas. Às vezes, os dois elementos de um casal. E depois, como se paga a casa e o dia a dia dos filhos?

    Viveram acima das suas possibilidades por terem pedido crédito para uma casa? Talvez. Mas muito poucos têm a sorte de a poderem pagar a pronto. Num país onde os ordenados médios são tão baixos e os preços das casas ao nível de qualquer outra capital europeia, não vejo muitas alternativas.

    Desculpa a verborreia, mas já não suporto esta conversa de se viver acima das possibilidades, eu desde os 26 anos que sou totalmente independente e não sei como será a minha vida daqui a 1 ou 2 anos. E não, não gasto mais do que ganho. Nem gasto sequer metade. Mas não se sabe o que o futuro me reserva.

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    1. Vespinha, eu percebo o que dizes. A minha vida é mais ou menos igual à tua. No meu caso, optei por alugar uma casa em vez de me entregar a um banco. Mas, tal como tu, não sei como será o futuro.

      Mas vejo muita gente com "brutos" ordenados que não poupam um cêntimo. É chapa ganha, chapa gasta e depois são dos que mais se queixam.

      Conheço vários casos de pessoas que gastam rios de dinheiro com coisas que não servem para nada. Coisas que não lhes fazem falta.

      É por isso que digo que a minha geração não sabe poupar. É claro que a Isabel Jonet escolheu as palavras erradas. Falou do empobrecer como uma obrigação.

      Eu, defendo que as pessoas devem viver com o que têm e adaptar a sua vida às suas possibilidades. Para bem dessas pessoas.

      Deste o exemplo do colégio. Conheço pessoas que não conseguem pagar colégios privados para os filhos mas não os tiram de lá porque a aparência é boa.

      Acho que são estas coisas que devem ser mudadas. Estudar num escola pública não é vergonha para ninguém. Revelar que não se vive como vivia não pode ser visto como uma vergonha.

      Obrigado pelo teu testemunho

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  2. HSB concordo totalmente contigo. Inclusivamente na questão do arrendamento.

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    1. É a minha opinião. E antes da crise já era fã do arrendamento e nos dias que correm considero ser a melhor opção.

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    2. Sem dúvida! :) Estou contigo! Mas é muito portuguesa essa cena de toda a gente querer ter casa própria. E depois um dia a vida corre mal e pumbas! Perdem a casa, e se for preciso ainda ficam com bens penhorados! Eu não vivo acima das minhas possibilidades.

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    3. Não critico quem defende a compra mas eu prefiro não estar nas mãos de um banco.

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    4. Durante os anos que vivi em Lisboa estive sempre em casas alugadas. Os preços eram tão pouco convidativos que comprei casa nos arredores. Vou ficar a pagar a casa para sempre :P Mas é um preço mais baixo do que qualquer renda que tenho visto!

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    5. Acho que as pessoas optam por ter casa própria, porque se paga mais por arrendar. Se se paga mais por um bem que nunca vai ser nosso, porque não comprar? A questão que se coloca neste momento, é que o futuro da maior parte dos portugueses é muito incerto e nem todos podem assumir esse compromisso. Na Bélgica ou na Suiça os arrendamentos são mais comuns do que a compra, porque é mais barato. E em Portugal o arrendamento passou a ser mais comum, porque os bancos concedem menos créditos p/ habitação, colocam mais entraves e fazem mais exigências, que na actual conjuntura não conseguimos cumprir.

      http://alguemquemecale.blogspot.pt/

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    6. É claro que o arrendamento é uma opção, mas quem é que consegue, sozinha, alugar uma casa decente a preços razoáveis!? Dou-vos o meu exemplo: se alugasse a minha casa, pagaria cerca de €1000 por mês. Com o empréstimo, pago cerca de €300, porque só pedi crédito para metade do valor total da casa. É claro que ainda há o condomínio e as contas, o que arredondado não chega aos €500. Agora digam-me por favor onde é que se aluga uma casa decente por menos de €500...

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    7. Fazes críticas a quem pede empréstimos para ir de férias mas não a quem se mete em empréstimos a pagar a 20,30 ou 40 anos sem saber o dia de amanhã. Eu critico todos. Dívidas são dívidas. As rendas em Lisboa são caras? Então vamos arrendar para os arredores! Amanhã perdemos o emprego, largamos a casa do senhorio e procuramos uma mais barata (e mais longe). E digo isto porque a minha experiência profissional inclui o tribunal das execuções de Lx... Mas, claro, isto cada um sabe de si e faz o que quer. Da minha parte, tribunal de execuções só mesmo para trabalhar.

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    8. Eu não critico quem opta por comprar uma casa. Critico quem se individa por banalidades. O que posso dizer é que as pessoas devem pensar muito bem antes de comprar uma casa.

      Eu optei por arrendar uma casa nova. Sinto-me como se fosse minha e não tenho vergonha por não ser. Como dizes, eu opto pelos arredores. Moro a 40 quilómetros do trabalho mas sei que em Lisboa não encontro uma casa tão boa como a minha com este preço de renda.

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  3. HSB isso de aprender a viver com as suas possibilidades até que pode ser verdade, até certo ponto até posso concordar Para alguns jovens até pode ser. Mas no geral o que se está a passar não é isso. O problema flagelante é o desemprego e quando um casal se vê a braços com esse drama por exemplo com pagamento de hipotecas de casa e filhos para criar não basta tirá-los do colégio ou deixar o apartamento para alugar uma casa. Não é assim tão fácil . Eu nem falo por mim porque fiquei no desemprego há uns anos atrás e soube gerir a situação. Mas havia expectativas de encontrar emprego e mudar de vida e hoje em Portugal a faixa etária a partir dos 40 não tem hipóteses, talvez no exterior e mesmo assim. E mais a situação não vai melhorar antes pelo contrário.

    Por outro lado uma pessoa naquele cargo tem de ter o bom senso de falar de outra forma..Afinal defende quem? Os filhos dela que não lavam os dentes com copo ? Diz ela que está naquela Organização há 20 anos. Considero inadmissivel aquele tipo de discurso porque podendo existir situações de despesismo e consumismo na sociedade que há, uma pessoa que defende ou deveria defender a pobreza não pode generalizar e fazer-se porta voz das restrições impostas pelo Governo que é o que ela no fim está a fazer.Mostra um profundo desconhecimento da fome e miséria em que está a cair o País.

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  4. Seja em crise ou em tempos de vacas gordas, as pessoas devem sempre viver de acordo com as suas possibilidades. Isto é uma regra que não deve ser aplicada apenas em tempos de crise.

    É verdade que os tempos eram outros mas a geração dos nossos pais (que também passou por dificuldades) aprenderam a poupar. E isso, boa parte da minha geração não sabe. Não sabe agora e não sabia quando ainda nem sonhava com a Troika porque sempre pensaram que a vida ia ser boa. Esta é uma triste realidade.

    Por isso é que disse que as pessoas que ganham pouco podem não poupar porque simplesmente não consguem. Agora, quem ganha bem tem de saber precaver o seu futuro bem como o dos filhos.

    Pessoas que, por exemplo, ganhhavam 1500 e agora ganham 1000 não podem continuar a fazer vida de 1500 porque o dinheiro não vai chegar. E isto é algo que muitas pessoas só aprendem, infelizmente, quando lhes falta dinheiro.

    Quanto à Isabel Jonet, é óbvio que errou. Não pode falar em obrigação de empobrecer um país que está cada vez mais pobre. Sobretudo sendo o rosto de uma entidade que vive da ajuda dos tais pobres, porque são os pobres que ajudam. Eu, já ajudei mais. Agora, ajudo como posso.

    E esta regra aplica-se à minha vida. Ao contrário de algumas pessoas que conheço, não tenho vergonha de ir a um hipermercado e encher o carro de produtos de marca própria. Não tenho vergonha em cortar o cabelo por 10 euros em vez de cortar por 30. Nem tenho problemas em vestir Primark em vez de marcas caras. Tenho que fazer os possiveis para ter dinheiro para renda, contas, alimentação e combustível. Se algum dia, espero que não, comece a faltar para algo, terei que ver onde posso cortar para que a minha vida não seja pior do que já é.

    E muitos amigos meus não percebem este tipo de coisas. Pensam que o dinheiro estica e que tudo se resolve sem terem que fazer nada.

    A minha opinião vai neste sentido.

    Obrigado pelo teu comentário Sorriso.

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    1. Nesse aspecto de saber viver de acordo com as possibilidades tens razão ainda outro dia ouvi alguém dizer para outro numa loja: "olha compra porque a partir de Janeiro já não podes". Tens razão alguns pensam que o dinheiro estica..Sabes pertenço ainda aquele grupo de pessoas que soube sempre não gastar tudo o que tinha , por isso sobrevivi à minha própria crise quando veio. Há muito que compro marcas brancas não por necessidade, mas por achar que sendo o mesmo produto não valia a pena porque o produto era similar e assim poupava para comprar outra coisa em alternativa .Poupava para comprar algo que gostasse e sem ser a credito. As roupas de marca e muitas sofisticações nunca me aliciaram muito, por isso a crise talvez quando há anos chegou a minha casa não fosse tão penalizante e até te digo teve um aspecto positivo porque passei a valorizar o "ser" em detrimento do "ter" e a dar valor ás companhias certas porque mais simples e puras. No entanto HSB ,não quer dizer que com isso eu aceite que os problemas de um País passem por se solucionar com contenções ,talvez minorem o tempo de persistência perante o flagelo da fome mas não a resolve. Isso é o que mais me preocupa hoje.
      Eu é que agradeço a possibilidade de podermos trocar opiniões despoletadas pelo tua publicação.Obrigada.

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  5. A nossa geração pode ter sido mais "mimada" que gerações anteriores, mas não somos todos iguais... Enquanto estudante sempre trabalhei nas férias, sempre tive os trocos todos contados... É óbvio que os hábitos de poupança permanecem e não esbanjo o que tenho. Até porque não sei como vai ser o futuro!
    Mas percebo o que dizes, todos conhecemos pessoas assim, que gastam o que têm e o que não têm.

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    1. Felizmente não :)

      Eu fui/sou como tu. Sempre trabalhei e tenho orgulho nisso.

      Quantas pessoas não abdicam de umas férias? Famílias que fazem créditos para ir não sei para onde? Há mil exemplos.

      Mas aqui não incluo aquelas famílias que não poupam por capricho mas porque, infelizmente, não conseguem mesmo poupar.

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  6. Já foi tudo praticamente dito! E já que esta é a minha área e como já vi de tudo, aqui vai: concordo inteiramente contigo HSB, as pessoas vivem acima das suas possibilidades e sem pensarem no dia de amanhã. Se fizeres uma pesquisa na Banca verificas qual a faixa etária que tem contas poupança, depósitos a prazo,...não há duvida que somos um povo naturalmente consumista, tipo "chapa ganha, chapa gasta" e que isso fomenta a economia...mas vivemos o presente sem pensar no amanhã e o amanhã faz-se com o presente. W isto aplica-se a todos. Todas estas dificuldades que assolam o nosso país é o resultado da lei causa/efeito...e poucos estão preparados para isto.
    Essa Senhora Jonet é uma completa idiota pois não é necessário ser muito inteligente para percebermos onde podemos economizar sem afetar a nossa alimentação além de que comer bifes todos os dias não é nada saudável e duvido que alguem o faça.facilmente se deduz que essa Senhora tem uma criada que lhe gere a casa/cozinha.Pura e simplesmente não acredito nas "tias" solidárias deste país quando uma (e bem conhecida) me confessou a razão porque se voluntaria todos os anos para o tal Banco Alimentar...ela e todas as outras (segundo ela)...para encherem as próprias dispensas pois, segundo a mesma, "chega para todos"...Perdoem-me mas nunca mais dei nenhum saco com mantimentos no supermercado (apesar dos olhares raivosos de indignação) e todos os anos, desde há 15 anos) escolho uma instituição de crianças/bébés/mães solteiras, desloco-me pessoalmente,indago a diretora sobre as necessidades mais prementes e contribuo...diretamente!
    É possivel economizar nas pequenas coisas sem deixar de viver a vida!

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    1. Obrigado pelo teu comentário. Realmente não se poupa e a senhora não foi muito feliz nas palavras.

      Desconhecia essa realidade!

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  7. Acho que já aqui foi muito dito e não há dúvida que sendo esta crise uma crise de endividamento certos hábitos têm de mudar. temos ed aprender realmente a viver consoante as nossas possibilidades! Agora as palavras escolhidas por essa senhora foram infelizes...porque quase que parece que temos ed regredir, de passar por mais dificuldades por habituarmos-nos a sermos mais pobres! Há situações e situações mas duvido que essa senhora conheça as verdadeiras dificuldades por que algumas pessoas passam!

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  8. Eu não sei viver sem poupança.
    Tem a ver com a maneira como fui educada.
    No inicio do mês meto logo algum dinheiro de lado e é com o que sobra que organizo as despesas. Raramente uso cartão de crédito...

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  9. Reflete totalmente a minha opinião sobre esta temática. Está-se a fazer muito alarido em torno disso, mas a essência do que ela disse é acertada... os exemplos que utilizou é que são completamente miseráveis e despresíveis, bem como a sua fraquissima capacidade de se expressar.

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  10. Aliás, ao longo dos meus 32 anos, apenas um mês cheguei ao fim do mês com 35€, porque me estiquei, e achei angustiante. Não tenho vencimentos de 1500€, faço uma vida desafogada, vou jantar fora, vou ao teatro, faço férias, compro as minhas futilidade, mas sei gerir muito bem o meu dinheiro. Tive uma boa educação para a economia doméstica.

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  11. HSB, fiquei hoje a conhecer o teu blog através do Macho Sensível, que fiquei a conhecer através da reportagem dos blogs na revista do Correio da Manhã, e agora estou a devorar os vossos blogs (que são excelentes). Agora sobre este assunto (também vi o modo como essa sra. falou, até parece que espumava de raiva dos portugueses!) tudo já foi dito e concordo com tudo o que dizes, excepto no ponto das poupanças. Dizes que a maoir parte das pessoas não poupam porque não sabem ou porque não querem. Lembra-te que o ordenado mensal médio em Portugal é de cerca de 700€ e que é este o valor que a maioria da população tem para se governar (prestação ou aluguer da casa, água, electricidade, transportes, telefone, alimentação,filhos na escola), dá para poupar?
    Boa continuação e felicidades!

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    1. Obrigado pelas tuas palavras e espero que tenhas vindo para ficar.

      Concordo com o que dizes. No meu texto falo das pessoas que não poupam porque não podem. Julgo que te referes a essas.

      A outras, são aquelas que ganham muito dinheiro mas que o gastam todo.

      Obrigado :)

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