20.10.12

um problema que não pode ser ignorado

Chamava-se Amanda Todd. Tinha apenas 15 anos e uma vida inteira pela frente. Tinha, digo bem. É que esta menina enforcou-se no seu quarto no dia 10 de Outubro após três anos de ciberbullying. Tal como grande parte dos adolescentes da sua idade, Amanda caiu no erro de enviar uma fotografia a uma pessoa que conheceu na internet.

Tudo aconteceu quando a jovem canadiana tinha apenas 12 anos. Julgando estar a falar com um rapaz da mesma idade, Amanda cedeu ao impulso e enviou uma foto do seu peito à outra pessoa. Passado um ano, começaram as ameaças, vindas do desconhecido. Ou Amanda enviava mais fotos sem roupa ou a família e os amigos recebiam a primeira imagem que tinha tirado. Amanda não cedeu. Não enviou imagem nenhuma. E a ameaça foi concretizada. Desde então, começaram os insultos, vindos de toda a parte. “Perdi todos os meus amigos e o respeito de todas as pessoas”, pode ler-se num dos papéis do vídeo. Seguiram-se as fases depressivas, a ansiedade e os ataques de pânico, que nem os tratamentos conseguiram atenuar. “Nunca poderei recuperar esta fotografia. Está aí para sempre”, escreve Amanda.
Perdida, e após mudar de escola e de cidade vezes sem conta – sempre descoberta pelo agressor - a jovem começou a mutilar-se e a refugiar-se nas drogas e álcool. “Só queria morrer”, “sentia-me uma anedota, ninguém no mundo merece isto”, desabafa.
Um mês antes de por termo à vida, Amanda colocou no youtube este vídeo. São mais de oito minutos em que não diz uma única palavra. Em vez disso, Amanda desabafa e pede ajuda através de cartões escritos por si. Infelizmente, Amanda não foi ajudada a tempo.


O ciberbullying é provavelmente o pior de todos. Quantas Amandas estão neste momento num qualquer chat de internet a conversar com alguém que julgam ser amigo? Quantas pessoas estão neste momento a tirar uma foto sem roupa para enviar a um namorado ou amigo? Quantas pessoas, daqui a algum tempo, vão ver essa intimidade exposta na internet, tornando-se alvo de chacota em muitos locais?
Este é um problema bem real e que não pode ser ignorado ou esquecido. Tal como Amanda (e este não é apenas um problema que afecta jovens) muitas pessoas sentem-se perdidas e sem força neste momento. Esta é daquelas histórias que não devem ser esquecidas. Devem manter-se bem presentes na memória de cada pessoa e devem ser partilhadas com o máximo de pessoas possível. Só assim se pode evitar que jovens de apenas 15 anos cedam à pressão, acabando por ver como única solução a morte.

45 comentários:

  1. muito triste. é este o mundo para onde caminhamos?o "homem" tem tanto de inteligente como de estúpido e cruel...

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  2. Nem ao redor dela teve apoio quando mais precisou.Mais humanidade por favor! Muito triste.

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    1. Nem sei que pensar quando uma jovem de 15 anos só encontra solução na morte!

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    2. Há tantas situações que podem descambar nestas situações horriveis. Há também situações em que o sofrimento da vitima não se dá a perceber. Ainda há cerca de 2 anos uma adolescente duma escola da Capital se suicidou e eu perguntava aos amigos e colegas de escola se desconfiavam de algo e nada!!Era alegre conversadora e nem a melhor amiga percebia. Maus resultados escolares e uns pais opressivos foi o que de mais se conseguiu apurar. HSB não consigo desligar-me destes casos, até porque contacto diariamente com adolescentes destas idades e procuro sempre que possivel ajudar.Mas estar atento acho essencial.

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  3. É chocante. Como é que alguém passa por tanto, uma criança...

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  4. Dizes bem Mamã "quando não há controlo parental adequado" e há muitos casos que assim é, mas estou em crer que se houver alguns cuidados por parte dos pais e parentes chegados ,não acontecem muitos dramas em que este simboliza a coisa levada ao extremo. É muito triste. Mas não generalizemos para não entrarmos em clima de medo e ansiedade constante. Também quando pensamos que os filhos estão na escola não sabemos o que acontece...E podem acontecer coisas semelhantes e sem Facebook. Eu relataria um caso que despistei duma garota amiga em que a perseguiam e ela nada contava aos pais. Tudo acabou bem e sem consequências, foi sorte fui a tempo! Acho que estar alerta e atentos aos filhos é o melhor caminho e depois disso é pedir um pouco de sorte para nada acontecer.

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  5. Sei de um caso de bullying que aconteceu cá, no Valsassina, e que acabou da mesma forma.

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  6. Tive conhecimento dest caso á uns dias e sinceeramente fiqui chocadíssima...o ponto a que chegou o desespero desta miúda:(

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    1. Arrepia ver uma criança de 15 anos dizer que se entregou ao alcool e drogas :(

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  7. Muito triste mesmo.
    Mostra uma coisa: se tirarmos uma fotografia comprometedora, nunca saberemos onde irá parar.
    Se cair na Internet, nunca mais poderá ser parada.
    Vale a pena pensar nisto.
    vidademulheraos40.blogspot.com.

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    1. E não são só os jovens que devem pensar nisso. Os adultos também!

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  8. ... fechem a facebook , problem solved ...

    é cortar o mal pela raiz !!!

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    1. Não é assim tão fácil. Neste caso, era o homem que criava perfis falsos da rapariga, usando sempre como foto principal a do peito dela.

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  9. Sou mãe de uma menina de treze anos e esta notícia chocou-me muitíssimo. A minha filha só faz pesquisas no computador, na sala, quando ou eu, ou o pai estamos presentes e só "conversa" com amigos de forma controlada pelo pai. Mesmo assim é um medo que me acompanha diáriamente e como contei no meu cantinho (http://suricatte.blogspot.pt/2012/10/ja-agora-valia-pena-pensar-nisto.html) o que aconteceu acabou por contribuir para conversarmos sobre o assunto e outros ligados a ele. Também já fui criança, já fui adolescente, não havia computadores, nem redes sociais, mas fui gozada, empurrada, batida, cospida, pisada...em adolescente, a violência não era fisica, mas era outra, não tinha amigos e não me conseguia encaixar, o gozo continuou torturante e devastador, hoje sou mulher bem resolvida, mas posso dizer que certas marcas ficaram para sempre. Na actualidade os problemas são os mesmos apenas trazem uma roupagem diferente. Cabe-nos a nós pais estar no sítio certo à hora certa e deixar sempre a porta aberta ao diálogo.
    Desculpa o alongamento, bom domingo.

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    1. Não tens que pedir desculpa. Agredeço o teu desabafo. O teu exemplo.

      O conselho que te dou é que não prives a tua filha das coisas mas que fales muito com ela. Que a faças perceber estas realidade. Que ela perceba que pode desabafar contigo e com o pai. E que ela tenha amigas que a ajudam.

      Força!

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  10. Eu não sou o melhor exemplo neste caso pelo simples facto de que sou homem. Quando era miúdo usava internet mas nenhuma mulher mais velha me pedia para enviar fotos de partes do meu corpo.

    Ao longo dos anos, os meus pais nunca me controlaram exaustivamente mas fizeram-me perceber as escolhas correctas. Errei algumas vezes mas sempre me mantive longe das drogas e de outros problemas, por exemplo.

    Acho que um controlo apertado é mau. Lembro-me sempre dos ricos que privam os filhos de tudo acabando estes muitas vezes no caminho das drogas e ganzas.

    A minha sobrinha tem apenas quatro anos mas, quando for mais velha, irei certamente fazer questão de que veja este video para perceber as suas escolhas.

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  11. Esta história comoveu-me e quando vi o vídeo as lágrimas vieram-me aos olhos. Que isto sirva de exemplo e se mudem as mentalidades! Beijinho *

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  12. Uma história muito triste... há que ter atenção a estas coisas e actuar com rigor. Socialmente, devemos ter mecanismos para actuar contra estas situações.

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    1. Os mecanismo existem e os manuais existem, há dois anos assisti a uma formação para encarregados de educação (local onde era directora técnica), embora fosse aberto a pais e funcionários o número de participantes era extremamente reduzido, uns porque acham que o bullying é um problema apenas das vitimas e os seus filhos não o são, outros porque estavam muito ocupados e outros ainda porque o isto era sinal dos tempos porque sempre existiu...
      A formação foi chocante pelos exemplos apresentados principalmente mas a maioria dos pais que lá deviam estar não estavam.

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    2. O problema de muitos pais é que não falam com os filhos e não sabem o que estes vivem na escola.

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  13. Chocou-me e a muita gente também... toda a gente conhece adolescentes com a idade da Amanda... serviu tambem para mostrar que esta miuda nao tinha amigos verdadeiros, pois todos a abandonaram...

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    1. É um facto. Aparentemente, esta menina não tinha ninguém. Nem um único apoio.

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  14. hsb,
    (desta vez vou ficar como anónimo)

    Já há muito que não passava por aqui a comentar. De facto, as fases finais de curso são sempre "puxadotas", mas... segue bem.

    Hoje não resisto a comentar.

    Dói-me ler a história da Amanda. Dói-me por muito... por conhecer outras tantas (seja de cyber, seja sem ser de cyberbullying), por também eu recordar os gritos, as "bocas", os comentários, a sensação de estar só, os literais murros no estômago, o dar a volta à escola para não atravessar aquela recta de 50 metros, onde "eles" estão e... saber que se vai repetir tudo. E isto, num ano, dois, 3, 4... 5 e 6 anos. Sim, rapidamente pode surgir a perplexidade: "Porque não faltaste com os teus pais? E os professores? E outros amigos?"
    Estamos a falar de há uns anos atrás... onde quase nem a palavra/conceito "bullying" existia. Além disso, só quem passa por isto conhece o sentimento de vergonha, de medo, de não conseguir exprimir o que sente verdadeiramente... pensando pôr termo a tudo da forma mais cómoda. É, de facto, horrível.

    Graças a Deus (sim, acredito n'Ele), o que me ajudou foi a Fantasia, o mundo da Fantasia... os meus milhares de amigos imaginários que me ajudavam a ganhar força e sentido para voltar à escola. Também por isso, quando estava junto com os meus pais ou amigos mais velhos, punha um sorriso e conseguia esconder todo o sofrimento. Por isso, quando me apercebo de algo, mais do que dirigir-me directamente à pessoa, falo de maneira a dar a entender que compreendo a fundo a situação... dando espaço para que a pessoa com liberdade possa falar. É verdade que hoje já se fala muito no tema, e ainda bem, mas não podemos esquecer que os sinais são mais silenciosos do que se pensa.

    O meu percurso de vida ajudou-me a libertar imensos "fantasmas" do passado. Com um bom acompanhamento, o trauma, as dores e o sofrimentos foram sanados. Mas, continua a sensibilidade, a memória... levando a uma verdadeira compaixão pelos mais fracos. E garanto, dói muito quando se sabe que alguém, sobretudo na juventude, pôs termo à vida.

    A História escreve-se a partir dos fortes, mas os fracos têm muito para contar. Infelizmente, a necessidade de poder leva a caminhos muito tristes. Por isso, sou de ajudar as vítimas, claro, mas também de ter umas boas conversas (sem modos de culpabilização) em relação aos agressores.

    Há uns dois anos, recebo um pedido de amizade no facebook: era uma das pessoas que me agredia. Aceitei! Escreveu-me uma mensagem a pedir desculpas... encontrámo-nos pessoalmente e, depois de um bom abraço, a conversa fluiu em partilha de vida.

    Espero que tenhas uma boa semana!
    Um Abraço!

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    1. Anónimo :)
      Primeiro, espero que o final de curso seja nada menos que perfeito.

      Em relação ao teu testemunho. Muito obrigado por ter sido feito aqui. Acho que és um exemplo de luta e sobretudo da forma como uma pessoa deve saber agir.

      O perdão é algo que muitas pessoas desconhecem. Confesso que, no teu lugar talvez não reagisse da mesma forma mas és um exemplo.

      Muito obrigado!

      Abraço

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  15. Fiquei e estou doente quando soube; esta menina não me sai da cabeça...
    Fiz também um post para partilhar; senti que era minha responsabilidade (responsabilidade de todos nós que por aqui andamos na blogosfera na verdade) fazer passar a mensagem, divulgar, dar a conhecer esta tristeza para ajudar a evitar mais situações destas.
    O mundo virtual e a agressividade nele contida é de tal forma avassaladora e cobarde que me transtorna!
    Tenho um filho adolescente (não se pense que por serem rapazes estão a salvo) com quem sempre conversei muito, alertei, expliquei, mostrei mas mais não posso fazer; já não tem idade para supervisão apertada mas aqui estou, disponivel como sempre para o ouvir; assim ele me queira contar. E é aqui que reside o medo; os filhos não nos contam tudo...

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    1. Parabéns pela tua atitude.

      Acho que a tua postura tem sido adequada e isso faz com que o teu filho possa confiar em ti o suficiente. Quanto ao resto, tens razão. Não contam tudo. Mas tu, melhor do que ninguém, saberá reconhecer os sinais se algo não estiver ok.

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  16. Bem os tempos mudaram . Quando se está em contacto com jovens diariamente percebe-se que a melhor forma é um controlo sim, mas feito à distância e de forma a apontar as escolhas como dizes HSB,o que passa por assiduas conversas e não só na altura dos acontecimentos televisivos ou outros. Mas também é certo que vejo muitos jovens de 12 anos a mandarem nos pais. Vejo pais ricos e não só, com "falta de tempo" para partilharem.Os ricos porque acham menos fatigante outros tomarem conta dos seus filhos e os tais pobres que por trabalharem horas a fio para lhes darem uns ténis de marca Z, para não se diferenciarem dos outros meninos ,deixam de ter tempo para estar com eles e passam os dias entregues a si próprios. É aflitivo porque os tempo mudaram tanto que ser filho,pai, mãe,educador cada vez é mais dificil. Mas se o bom senso imperar tudo se resolve em bem.

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  17. Existem imensas/os "Amanda Todd" no mundo. Esta menina usou o youtube para dar a conhecer a história dela e ajudar a entender futuras vítimas do perigo a que estão expostas. Há tantos casos que nem sabemos...
    Mas a menina deixou uma boa msg para quem navega no mundo da internet. Triste foi mesmo o desfecho. É de arrepiar, pq a menina estava mesmo muito mal...

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  18. Acho que é mesmo isso. Bom senso. Porque controlo excessivo também é mau!

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  19. Eu acho que as redes sociais não são assim tão tão beneficas quanto apelam.
    Vejamos:
    -Encontramos amigos, dizem de há longa data...mas esperam eram amigos de há longa data e despareceram? Nem um telefonema...ok às vezes podemos perder contactos...mas assim em tanta quantidade? Não acredito!
    - Apaixonam-se pessoas pela net, quando na vida real e ao vivo e a cores não cnseguem?
    - Aparecem fotos em poses sensusais e coisas que tais...chamativas...para quê? Para mostar a beleza ou para apelar a qualquer coisa mais?

    Acho piada, às redes sociais mas qb.
    Quando as coisas são usadas com moderação e bom senso. Porque quando passa disso é muito complicado!

    E para os mais jovens convém que os pais não se abstenham de educar e estejam presentes, apareçam no quarto de surpresa, não facilitem...
    O meu flho mais velho é muit controlado nesse aspeto...mas é assim que eu quero que seja e que eu acho que tem que ser. Já bem basta quando está fora do nosso alcance!

    Lamentavel esta menina ter sofrido e ter posto termo à vida...ao menos que sirva de exemplo!

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    1. Partilho a tua opinião. Apenas não sou grande adepto de um controlo muito apertado.

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